398 anos do Ver-o-Peso: confira a linha do tempo da ‘alma’ de Belém, segundo historiador

Complexo nasceu como ponto de taxação, foi ocupado por indígenas antes da colonização e se tornou símbolo da identidade paraense

Igor Mota / O Liberal
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Prestes a completar 398 anos, na próxima quinta-feira (27 de março), o Ver-o-Peso “é a alma de Belém, devido a tudo que gira em torno dele”, define o historiador Márcio Neco. Para alguns, um cartão-postal. Para outros, um templo de trabalho e sustento. Sua consolidação se deu em um processo cultural, econômico, político e urbano

🕰️ Linha do tempo do Ver-o-Peso

🌿 Antes da colonização 
A região onde hoje fica o Ver-o-Peso já era um entreposto comercial dos indígenas Tupinambás. Eles utilizavam o espaço para trocas e circulação de produtos.

📜 Século XVII – Colonização e instalação da Casa de Haver o Peso
A Coroa Portuguesa instala a Casa de Haver o Peso para cobrar impostos sobre mercadorias. Os colonizadores se apropriam do espaço já utilizado pelos indígenas.

“Os portugueses vão copiar, digamos, a ideia; se aproveitar e se apropriar do espaço", explica Neco.

🏖️ Séculos XVIII e XIX – Transformações urbanas
A atual Avenida 15 de Novembro era conhecida como Rua da Praia. O aterramento da área permitiu a construção de mercados e melhorou o abastecimento da cidade.

Idas e vindas na Feira do Açaí durante a madrugadaIdas e vindas na Feira do Açaí durante a madrugada (Igor Mota / O Liberal)



🐄 Final do século XIX – Criação do Mercado de Carne
Surge o Mercado Municipal (hoje Mercado de Carne Francisco Bolonha), projetado pelo arquiteto de mesmo nome. O matadouro é transferido para o Curro Velho, no Telégrafo, o que melhora a distribuição da carne. Ainda assim, o produto seguia caro, e as vísceras rejeitadas passaram a ser vendidas nas periferias.

🐟 1901 – Inauguração do Mercado de Ferro
Destinado à venda de peixes, teve estrutura de ferro importada. A construção só foi possível após o aterramento do alagado do Piri. Houve resistência dos peixeiros à mudança, e foi necessário convencê-los politicamente.

“Por isso, a posição dele é meio ‘pensa’”, diz o historiador, referindo-se ao desnível entre as torres ainda visível.


Trabalhador transportando pescado que chega à Pedra do PeixeTrabalhador transportando pescado que chega à Pedra do Peixe (Igor Mota / O Liberal)




🚌 Início do século XX – Epicentro urbano e popular
O Ver-o-Peso se consolida como ponto central da cidade. Bondes e ônibus partem do local, reforçando sua importância econômica e social.

🏪 1911 – Criação do Mercado de São Brás
Criado para desafogar o movimento intenso do Ver-o-Peso. Mesmo assim, o complexo principal segue crescendo.

🧺 Até 1985 – Informalidade e barracas improvisadas
Produtos eram vendidos no chão e em barracas improvisadas até a primeira grande reforma, que trouxe padronização. O comércio e a movimentação continuaram a se expandir.

⚓ Ontem e hoje – Resistência e identidade cultural
Das três docas de Belém, apenas a Doca do Ver-o-Peso sobreviveu. O complexo se mantém como símbolo da identidade paraense: da culinária ao artesanato, do trabalho à fé.

🌎 Em 2025 – O Ver-o-Peso diante do mundo (COP 30)
O historiador Márcio Neco destaca que o Ver-o-Peso poderá ser um dos principais “materiais pedagógicos” para compreender a vida social e cultural da Amazônia diante do mundo durante a COP 30.

Márcio Neco, historiadorMárcio Neco, historiador (Arquivo pessoal


“Ele faz parte da identidade cultural do povo paraense, seja pela culinária, artesanato, futebol, política ou religião. Ali acontecem sociabilidades, encontros, criatividade e produção”, conclui Neco.

Fonte: O Liberal
Texto: Gabriel da Mota

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