Autores paraenses se destacam em premiações literárias nacionais em 2024

 Airton Souza, do Prêmio São Paulo de Literatura, e Marcos Samuel da Costa, do Prêmio Oceanos, levam a literatura do Pará ao reconhecimento nacional

O ano de 2024 foi especial para a literatura paraense, especialmente para os autores Marcos Samuel da Costa e Airton Souza, que concorreram a premiações nacionais. Nascido em Marabá, Airton Souza é poeta, professor e pesquisador, doutor em Comunicação, Cultura e Amazônia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Já publicou 50 livros, idealizou e coordena importantes projetos ligados ao livro, à leitura, às bibliotecas e às literaturas na Amazônia, entre eles o Anuário da Poesia Paraense e o Prêmio Amazônia de Literatura. Venceu mais de cem prêmios literários, entre eles o Prêmio Sesc de Literatura de 2023, com o livro Outono de Carne Estranha. O livro foi um dos finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura de 2024, considerada a maior premiação de romances do Brasil.

Em entrevista a O Liberal, o autor compartilhou sua experiência após ganhar um prêmio literário. “Eu tenho muitos livros publicados, a maioria de poesia, de poemas e literatura infantil e juvenil, mas, de fato, a premiação de Outono de Carne Estranha e a publicação pela Record foi, provavelmente, uma das grandes oportunidades da minha vida, de ver essa luta que eu venho travando com a literatura há 25 anos, de ver, de algum modo, esse resultado que eu tenho alcançado com esse livro e com a circulação que eu acabei tendo, da metade do ano até o final do ano, por várias regiões do Brasil para falar de literatura, leitura, de como o livro pode transformar a vida da pessoa e também da escrita desse romance, do que ele representa na literatura da história do Brasil”, comentou.

Outono de Carne Estranha, do paraense Airton Souza, se passa no contexto da famosa e trágica Serra Pelada, o maior garimpo a céu aberto do mundo, explorado por milhares de homens na década de 1980. Nessa terra fragmentada pelas enxadas, marcada pela ganância e pela violência, o romance mescla fatos históricos e ficção para contar a história de Zuza e Manel, dois garimpeiros que se apaixonam, e Zacarias, um padre angustiado diante da própria batina. Os três protagonistas tentam, a todo custo, bamburrar: encontrar uma grande quantidade de ouro e, assim, ganhar a vida.

“Ele é um livro de algum modo corajoso, porque traz como enredo o garimpo de Serra Pelada, dentro de uma história que foi historicamente apagada pela história oficial brasileira, de propósito, mas um livro corajoso por trazer várias questões, entre elas um romance homoafetivo, entre dois garimpeiros, de modo muito direto, que é naturalmente o que não acontece muito no campo da literatura, principalmente ligado à sexualidade, e outras questões em torno de modo de violência que o livro aborda, a partir de denúncia da intervenção que aconteceu na região do sudeste do Pará, e é um livro que se passa basicamente no sudeste do Pará. Então foi, de algum modo, surpreendente vê-lo ali entre os finalistas do Prêmio São Paulo. Eu fiquei primeiro surpreso, naturalmente feliz por ver o livro entre grandes livros”, afirmou.

Nascido na cidade de Ponta de Pedras, na Ilha de Marajó, Marcos Samuel da Costa participou do Prêmio Oceanos 2024 com o livro Os Desertos, publicado pela editora paraense Folheando. Do município marajoara de Ponta de Pedras, no nordeste do Pará, Marcos teve sua obra incluída na lista de uma das maiores premiações. “Foi uma experiência muito impactante, mas muito mesmo, porque o Prêmio Oceanos como um todo é muito concorrido. Esse ano teve três mil seiscentos e poucos livros concorrendo, só que é ainda muito mais concorrido na categoria poesia, que foi a categoria que eu estive entre semifinalista com pessoas que eu sempre li”, declarou.

“Os Desertos faz parte de uma tetralogia iniciada com No Próximo Verão, Os Abismos, aí publiquei Os Desertos e vai fechar com Os Vulcões. Foi uma experiência muito árdua e muito difícil. Eu venho trabalhando nessas obras desde 2016 até agora em 2024, lendo, escrevendo, reescrevendo, lendo, escrevendo, reescrevendo. E, apesar de ter sido uma experiência muito boa, também foi uma experiência muito penosa, porque o formato final dos poemas demorou muito para ser estabelecido e houve uma experimentação muito grande de linguagem, de forma, do conteúdo. É um livro que trabalha com uma temática muito sensível, que é a temática homoafetiva. Então, são outros marcadores”, contou.

Marcos Samuel Costa é poeta, contista e romancista. Venceu o Prêmio Dalcídio Jurandir com o romance homoafetivo O Cheiro dos Homens (IOEPA, 2022), o primeiro lugar na categoria conto do Prêmio Uirapuru de Literatura com Sol Forte na Pele (Editora Folheando, 2022) e o Prêmio Literatura e Fechadura com o livro de poemas No Próximo Verão (Editora Folheando, 2020). “A carreira continua sendo um desafio por questões geográficas. É muito complicado, difícil escrever na Amazônia, muito mais nos interiores da Amazônia. A logística conta. A questão de correios aqui, por exemplo, como é uma ilha, um arquipélago, é muito difícil entrar e sair livros. Tem muita dificuldade de postar os livros quando eu vendo, mesmo na internet. É uma abertura ainda muito difícil. Eu estou muito fora ainda de alguns ciclos, de alguns debates, de algumas programações, mas, aos poucos, a gente vai tentando ocupar esses espaços”, finalizou.


Fonte: O Liberal 

Texto: Matheus Viggo

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