Paes Loureiro lança livro sobre o pulsar da arte que vem da periferia de Belém (PA)

Lançamento de "O Espelho Quebrado da Arte Canônica - artes urbanas, periféricas e de periferia" acontece às 19h desta quarta (14), na Galeria Fidanza, na Cidade Velha
Foto: Carmem Helena / Arquivo O Liberal
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A arte nasce no mundo e é capaz de modificá-lo, de forma estrutural, em um processo muito dinâmico, por isso, não é tão simples assim entender essa relação que cruza tempo e espaços. Essa renovação de significados, inclusive, mostra-se mais latente em novos movimentos de expressões artísticas, como os verificados a partir das periferias das cidades, trazendo à tona as chamadas artes periféricas por não se enquadrarem nos padrões convencionais de apreciação desse fazer humano. Esse é o tema de “O Espelho Quebrado da Arte Canônica - artes urbanas, periféricas e de periferia” que o professor e escritor João de Jesus Paes Loureiro lança, pela Mezanino Editorial,  nesta quarta-feira (14), às 19 horas, na Galeria Fidanza, no Museu de Arte Sacra, na Igreja de Santo Alexandre, no bairro da Cidade Velha, em Belém  (PA).

O livro aborda iniciativas de muralismo, grafismo, rap, break, drag, slam como arte periférica com relação à sede urbana. A partir da compreensão de que uma obra canônica está  inserida em uma determinada tradição, o autor mostra que as artes urbanas são do centro sócio-cultural enquanto as de periferia vêm da margem periférica, de seu campo sócio-cultural próprio.

Teatralidade

“Tradicionalmente, tem se dado uma certa margem de separação e sombreamento nesse contexto. O reconhecimento das primeiras e indiferença em relação às segundas. Um exemplo pode ser a estética drag, entendida, equivocadamente, como estranha, pitoresca, grupista, e não pela teatralidade política e social nela contida”, pontua Paes Loureiro. 

Essa teatralidade política e social dá pano para muita manga. Por exemplo, buscar compreender os significados de performances, produções, posturas e discursos de artistas e produtores culturais de artes visuais, literatura, música, teatro e outras expressões nos bairros periféricos de Belém. Como o rap e outros estilos e ritmos entrelaçados ou não, estética drag, cinema abordando o cotidiano e o imaginário nessas áreas da Grande Belém, a poesia e a prosa de autores de todas as  idades, entre outras nuances das ruas, vilas e vidas das periferias.

Todo na parte

Como fruto de uma experiência vivencial na Grande Belém, o professor procura compreender o processo da parte para o todo, isto é, em um técnica de “fractal”, compreendendo que, “no essencial, cada parte contém o todo de que faz parte”. Nesse contexto, Paes Loureiro observa que um braço bem expressivo dessa arte na periferia é o muralismo. 

“Está estetizando muros e fachadas de todas as cidades. Há, portanto, trocas de técnicas, usos de material técnico. O que revela distinção entre o centro hegemônico e as áreas em torno, é o estilo, processos de concepção criativa e os motivos figurativos, temáticos e políticos, por exemplo”. 

Valor

Ele pondera que  as artes periféricas e as de periferia vêm quebrando as barreiras do isolamento. Desde que comecei essa busca até hoje, muitas já vêm sendo trazidas para a televisão, academias de dança, teatro, festivais. A questão não é a de estarem em toda parte, mas de serem artistas e artes com seu valor reconhecido. As Olimpíadas de Paris deram um exemplo forte dessa mudança e a fortaleceram”, destaca. No caso, a performance relacionada ao quadro “A Festa dos Deuses”, obra do Século 17, do pintor barroco holandês Jan Hermansz van Biljert, e que também foi assimilada como uma paródia de “A Santa Ceia”, de Leonardo Da Vinci, gerando uma grande polêmica com relação aos Jogos Olímpicos.

Como a leitura das artes requer um olhar arguto, muito além dos cânones, do convencional,  o livro “O Espelho Quebrado da Arte Canônica” chega em boa hora, para subsidiar a busca estética de quem não abre mão de conquistar novos horizontes, sejam os próprios artistas seja o público em geral. Até porque, como pontua o professor Paes Loureiro, se tem o desejo de buscar a perfeição e o novo que turbina a intuição criadora dos artistas. “Ainda bem que não existe a obra perfeita, porque  “se algum criasse a obra perfeita, nenhum outro mais correria atrás da perfeição artística”.

Serviço:

Lançamento de “O Espelho Quebrado da Arte Canônica, artes urbanas, periféricas e de periferia”

14 de agosto de 2024 - 19h

Galeria Fidanza, no Museu de Arte Sacra,  na Igreja de Santo Alexandre

Largo da Sé, na Cidade Velha


Fonte: O Liberal 

Texto: Eduardo Rocha

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