'Cora do Rio Vermelho' traz a Belém (PA), a fibra de Cora Coralina que nunca desistiu da poesia

 Espetáculo poderá ser conferido hoje (26) e na quinta (27) no Teatro do SESI,a preços populares

Foto: Bianca Oliveira / Estúdio da Bica
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Cora Coralina fazia doces e poemas, a partir da simplicidade do que observava no dia a dia, reinventou-se ao longo da vida e se tornou uma das mais importantes autoras da literatura brasileira. Escrevia desde a adolescência, mas só aos 75 anos de idade foi que publicou seu primeiro livro. A (re)descoberta da arte e da vida dessa autora goiana (poetisa, contista e doceira de profissão) pode ser feita pelo público agora em 2024, desta feita, no Teatro do SESI, em Belém (PA), nesta quarta (26) e na quinta-feira (27), às 19h. O convite é feito pela atriz Raquel Penner, o diretor Isaac Bernat, a produtora Clarissa Menezes e o dramaturgo Leonardo Simões com o espetáculo "Cora do Rio Vermelho", há mais de dois anos em cartaz.

Esse monólogo traz textos e poemas sobre a força feminina e alma da mulher brasileira exponenciadas na figura de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, nascida na Cidade de Goiás, em 20 de agosto de 1889, uma mulher de fibra. A publicação do primeiro livro dela, "Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais", de 1965, revela a tenacidade, o lirismo e o gosto pela vida de Aninha, como era conhecida. O espetáculo faz parte do projeto “Cora do Rio Vermelho – no coração do Brasil” que celebra os 135 anos de nascimento dessa autora e tem o patrocínio oficial da Petrobras e o incentivo fiscal da Lei Federal de Incentivo à Cultura do Governo Federal. 

Raquel Penner conversa com o público sobre a poetisa Cora Coralina no Teatro do SESI PA, em Belém (PA)Raquel Penner conversa com o público sobre a poetisa Cora Coralina no Teatro do SESI PA, em Belém (PA) (Foto: Bianca Oliveira / Estúdio da Bica)

Raquel Penner conta que o espetáculo estreou em março de 2021, online, em plena pandemia, via Lei Aldir Blanc, do Rio de Janeiro - todo gravado sem público no Teatro Municipal de Niteroi, com uma câmera em plano sequência, sem cortes. Mais de 4 mil pessoas conferiram o espetáculo nesse formato em cinco dias, incluindo a família de Cora Coralina. Em dezembro do mesmo ano, o grupo fez uma curta temporada na Funarte (SP) e iniciou, então, apresentações em sequência, inclusive, em outros estados. Agora, apresentando-se em 11 cidades do Centro-Oeste e Norte. Já foi apresentado, inclusive, na cidade-natal de Cora. Com 18 anos de carreira como atriz e produtora teatral, Raquel Penner vem a Belém pela primeira vez.


A atriz revela que nesse espetáculo concretiza a vontade de fazer um primeiro monólogo dela, "algo que partisse de mim, o que eu quero levar para o palco, agora". E aí, Raquel tinha visitado uma exposição sobre Cora Coralina no Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio de Janeiro há cerca de 15 anos. "A mostra relacionava a poesia com os doces, ela era poetisa e doceira,  e isso me marcou, mas ficou lá na memória. Em 2018, nessa vontade de levar algo para o palco, algo da cultura brasileira, da força feminina brasileira artista,  a partir de um livro do Drummond, eu bati o olho no nome da Cora, comprei uns três livros dela e ali eu encerrei a minha busca", revela Raquel. A partir daí, o espetáculo foi concebido com base em poemas de quatro livros de Cora Coralina: "Vila Boa de Goiás", "Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha", e "Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais" e "Meu Livro de Cordel"

Conversa

"Cora do Rio Vermelho" é descrito pela atriz como um espetáculo de transformação, a partir de textos simples e ao mesmo tempo profundos de Cora, que "falam da nossa essência humana, são textos universais". "Como é um monólogo, nos 55 minutos do espetáculo, a minha relação é com o público, olhando diretamente para cada pessoa. Uma grande conversa", ressalta Raquel. Essa persistência e o talento de Cora foram identificados pelo poeta Carlos Drummond de Andrade.

Drummond publicou carta no "Jornal do Brasil", em 1979, elogiando o primeiro livro de Cora: "Cora Coralina. Não tenho o seu endereço, lanço estas palavras ao vento, na esperança de que ele as deposite em suas mãos. Admiro e amo você como alguém que vive em estado de graça com a poesia. Seu livro é um encanto, seu verso é água corrente, seu lirismo tem a força e a delicadeza das coisas naturais".

Sobre o livro "Vintém de Cobre", de 1983, Drummond de Andrade escreveu: "Minha querida amiga Cora Coralina: Seu Vintém de Cobre é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado". Drummond e Cora trocaram cartas, nunca conversaram pessoalmente.

'Frutos da Terra'

O diretor de "Cora do Rio Vermelho", Isaac Bernat, neto do advogado paraense Isaac Abraham Garson, destaca que o espetáculo foi estruturado para que Cora Coralina possa receber o público na casa dela e partilhar da poesia, das ideias, dos pensamentos.  A "humanidade da poetisa", como frisa o diretor, abrange momentos quando a autora fala do pão, o trabalho na vida de uma pessoa e que "nunca é tarde, a gente tem tempo para criar".

Isaac Bernat ministrará em Belém a Oficina "Frutos da Terra", a partir da sua pesquisa sobre o griot africano Sotigui Kouyaté. O foco é o papel que o ato de contar histórias individualmente e em grupo pode ter no reconhecimento da identidade do ator e/ou do indivíduo como parte da sociedade. 

 

Serviço

'Cora do Rio Vermelho'

DIAS: 26 de junho (quarta-feira) e 27 de junho (quinta-feira)

HORÁRIO: 19h

LOCAL Teatro do SESI - PA

Endereço: Av. Almirante Barroso, 2540 (Entrada pela Dr. Freitas), Belém - Pará

Ingressos: Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada)

Venda online: https://bit.ly/26e27JUN_Belém

 

Oficina Frutos da Terra, com Isaac Bernat:

Datas: 26/6 (quarta-feira) e 27/6 (quinta-feira)

Horários: 14h às 18h

Local: Teatro do SESI - PA


Fonte: O Liberal 

Texto: Eduardo Rocha


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