‘Eu Recomendo’: J.Bosco relembra obras de Henfil em homenagem ao histórico cartunista
O cartunista paraense foi convidado pelo Grupo O Liberal para fazer três indicações de obras do multiartista Henfil, que completaria 80 anos nesta segunda-feira
Nesta segunda-feira (5) o cartunista e multiartista Henfil completaria 80 anos se estivesse vivo. Em homenagem, no ‘Eu Recomendo’ desta semana, o Grupo O Liberal conversou com o cartunista paraense J. Bosco, para falar um pouco mais sobre as influências e legados de Henfil em suas obras.
Natural de Belém, J. Bosco já escreveu cinco livros e recebeu inúmeros prêmios por sua arte. Ao relembrar das obras de Henfil, o paraense acredita que sua arte impactou no modo de pensar jornal, cinema e quadrinho, por ser o cartunista mais crítico e corajoso durante a ditadura. Portanto, para o ‘Eu Recomendo’ desta semana, J. Bosco fala sobre três tirinhas mais marcantes na obra de Henfil.
O artista paraense começa destacando ‘Graúna’, uma tirinha que falava sobre os problemas políticos do nordeste, com os personagens Graúna, o Bode Orelana e Zeferino. Repleta de sátiras, Henfil criticava a Ditadura Militar Brasileira e sua forma de agir. “Gosto da Graúna pelo o que ela representa e ser o porta voz do artista para denunciar as mazelas do Brasil, em particular o nordeste”, comenta.
“Ubaldo, o paranoico” é outra tirinha recomendada por J. Bosco. Criada em 1975, durante o começo da reabertura política, o personagem criado para a narrativa tinha seu engajamento motivado pelo eterno medo da volta do regime, que representava uma parcela do pensamento da época, que tinha receio de engajamento político. “Ubaldo é brilhante, um sobrevivente, que se vê atormentado com a violência da extrema direita militar. Tudo assombra o Ubaldo!”, explica.
E por fim, os clássicos personagens dos ‘Fradinhos’, que ficaram conhecidos pela estatura que apresentam: o Baixim e Cumprido. O Baixim é irreverente, sarcástico, perverso e sádico. Enquanto o Cumprido é recatado, conservador, bondoso, ingênuo e medroso. “Um frei sacana que coloca o mosteiro em xeque com suas ideias revolucionárias e o sistema arcaico das igrejas. Inclusive o próprio Henfil morou por muito tempo em um mosteiro”, complementa o cartunista paraense.
O legado de Henfil
O cartunista, que morreu decorrente do HIV, deixou um grande legado com sua arte, que faz parte da história do Brasil. Henfil foi uma importante figura ao denunciar e ser oposição à ditadura militar, em especial com a sua passagem pelo O Pasquim, a partir de 1969. O multiartista deixou uma memória e legado para os seus colegas de profissão até os dias atuais. Ele chegou a trabalhar ao lado de Ziraldo, Jaguar, Tárik de Souza e Sérgio Cabral. Em 1972, fundou a revista em quadrinhos Fradim, que além do personagem título, apresentou e popularizou outros personagens do cartunista, como Graúna e Bode Orelana.
Sobre o impacto da arte de Henfil, para J. Bosco foi de extrema importância para sua própria obra e para a história do Brasil. “Henfil foi o maior calor para os milicos nos anos de chumbo no Brasil. Um dos fundadores do Pasquim, que formou grandes jornalistas. 90% dos cartunistas brasileiros foram influenciados pela sua obra”, conta. “Eu particularmente tenho muitos livros do Henfil, que guardo com muito carinho. As suas obras estão mais vivas do que nunca nos dias de hoje”, acrescenta sobre o legado do quadrinista.
Por fim, ao descrever seu próprio trabalho, J. Bosco acredita que sua arte tem uma veia ácida e crítica, como a charge deve ser. “Sofro pressão como todo cartunista e chargista sofre, mas fazer humor é resistência”, conclui.
Fonte: O Liberal
Texto; Lucas Ribeiro | Especial O Liberal
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