Belém 408 anos: Capital paraense serve de cenário e inspiração para a literatura
Escritores consagrados e da nova geração buscam a capital paraense como fonte da literatura
Aos 408 anos, Belém continua a inspirar os escritores. De Edyr Augusto Proença com romances contemporâneos, que retratam a capital paraense por um olhar policial e pesado, as poesias de João de Jesus Paes Loureiro, ou os contos da jovem escritora a jornalista Iaci Gomes, com o livro "Nem Te Conto".
Conhecedor das ruas do centro comercial de Belém, Edyr Augusto Proença nasceu e foi criado nas ruas do Comércio. Lá Edyr conheceu todo tipo de gente, que hoje inspiram o jornalista, radialista, dramaturgo e escritor a criar personagens verossímeis com uma Belém noturna. Em cada um dos seus sete livros, Edyr traz nas narrativas um pouco da realidade paraense. Dentre os livros escritos estão “Os éguas” (1998), “Moscow” (2001), “Casa de caba” (2004), “Um sol para cada um” (2008), “Selva concreta” (2012) “Pssica” (2015) e “Belhell” (2020).
Edyr Augusto foi premiado em 2015 pelo livro “Os Éguas” na França com o prêmio Caméléon de melhor romance estrangeiro, na Université Jean Moulin Lyon 3. Desde então, os romances vêm sendo traduzidos para o francês.
“Eu aprendi que todas as pessoas são importantes. As pessoas precisam ser ouvidas, estamos nos fechando em bolhas de amigos no Whatsapp. As pessoas precisam ser ouvidas e vistas, deixarem de ser invisíveis, devemos deixar de julgá-las. Hoje se uma pessoa se aproxima, você já quer puxar uma arma. As pessoas querem se aproximar e falar. Há um enriquecimento pessoal meu muito grande que se reflete nos meus livros”, explica Edyr sobre os personagens de Belém.
Para ele, a capital paraense tem um povo simpático demais, porém somente com o estrangeiro. “Até simpático demais, trata os visitantes pedindo desculpas, fazem um almoço para as pessoas. Quando eu era jovem quem chegasse do Rio de Janeiro era celebridade, porque é carioca”, relembra. Ele acredita que os belenenses precisam se valorizar mais, assim como a sua cultura.
A Belém que Edyr cresceu nos anos 60 e 70 é diferente da Belém metrópole do século XXI, que hoje não tem mais divisas claras com Ananindeua, e que tem também um crescimento exponencial com prédios, casas e empreendimentos em distritos antigamente afastados como Icoaraci.
“Meu avô dizia que adiante do Manoel Pinto da Silva não era mais Belém. Hoje a capital é uma cidade que se espalhou muito, engolindo os municípios que ficavam próximos, e que sofrem dos mesmos problemas que as outras cidades do Brasil. Gente que veio para cá depois da descoberta do ouro no interior do Pará e veio a se instalar nas periferias de Belém quando a febre do ouro acabou. Questões que são dadas aos prefeitos muito difíceis de resolver. Belém arrecada pouco, mesmo em comparação com as cidades do sul do Pará. É uma cidade difícil de gerir, com muitos problemas que precisam ser resolvidos”, reflete.
A jornalista Iaci Gomes completará 19 anos morando em Belém em 2024. A jovem escritora do livro “Nem Te Conto”, que reúne 14 contos de terror, misturam elementos do realismo fantástico com cenários familiares do cotidiano dos paraenses, como as margens do Rio Trombetas, o Parque do Utinga e a praia do Chapéu Virado, em Mosqueiro. “Foi onde vivi maioria das minhas experiências da adolescência e onde me tornei adulta. Então é natural que a capital faça parte do que me inspira e seja cenário das minhas histórias, porque foi dentro do ônibus, desviando de manga ou esperando a chuva passar que tive minhas primeiras ideias e criei coragem de colocá-las no papel para assim chegar no ‘Nem Te Conto’”, conta.
Na visão de Iaci, a cidade é uma fonte inesgotável de inspiração para todo tipo de literatura. “Eu sinto que Belém é uma cidade que tem potencial para ser incrível. Ela tem uma poesia única, um encanto e charme diferenciado”, destaca. “A capital já foi amplamente elogiada e exaltada em poemas, poesias, romances e contos, mas o que eu gosto é que sempre tem espaço para mais. Conforme Belém se transforma, a gente se transforma junto e a arte também. Aprendemos a apreciá-la e narrá-la em todos os seus estágios, cores, cheiros e sabores. Belém é riquíssima e a literatura, assim como toda arte, está aí para nos lembrar disso sempre”, complementa.
O escritor, poeta e professor universitário João de Jesus Paes Loureiro tem mais de 20 livros publicados no Brasil e no exterior. Alguns tem Belém como o grande objeto de estudo e homenagem como “Para Ler Como Quem Anda nas Ruas”. “Belém é uma inspiração muito presente numa fase de minha obra, tanto que por exemplo, esse livro ‘Para ler como quem anda nas ruas’ é um longo poema como uma caminhada por Belém, que começa na Praça do Relógio, percorre Belém e termina na Condor. O outro livro que escrevi no início da década de 80, intitulado ‘Altar em Chamas’ é todo sobre Belém, as ruas as praças, pessoas, teatros, Círio, o cemitério da Soledad. Ele foi publicado no Rio de Janeiro pela editora Civilização Brasileira e ganhou o prêmio nacional de poesia daquele ano em 84, dado pela Associação Paulista de Críticos de Arte”, relembra.
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