Espetáculo 'Muralhas Invisíveis' traz as ruas de Belém ao palco do Teatro Waldemar Henrique

O musical ‘Muralhas Invisíveis’ que retrata o cotidiano de pessoas na rua Riachuelo, tem dramaturgia de Edyr Augusto

Bruno Moutinho
fonte

“Foi um desafio e uma emoção ao mesmo tempo, primeiro porque eu nunca tinha feito uma composição dirigida. Geralmente no rap a gente fica livre para fazer o tema que a gente quer e eu fiquei amarrado a peça, nessa composição. Eu não podia fugir da peça, nem fugir do tema, então eu tive que ler a peça, entender, absorver todos os aspectos pensar como Edyr Augusto Proença (dramaturgo do espetáculo), tive que me colocar nessa condição, de ser uma extensão do autor e tive que entender a psíquica dos personagens, compreendê-los. Enfim foi dessa maneira. Foi muito gostoso, muito lindo a gente está fazendo. Nunca tinha feito uma composição de eh e me senti mais envolvido ainda pela peça”, disse Pelé.

Com um elenco potente entre atores e bailarinos, o musical conta com coreografias de Bboy Kekeu, expoente das danças urbanas de Belém e trilha sonora original toda do Pelé, que também se apresenta ao vivo no espetáculo. A música-tema da peça, "Muralhas Invisíveis" já está disponível e pode ser ouvida em todos os streamings de música.

Pelé do Manifesto atua e faz a direção musical de 'Muralhas Invisíveis"Pelé do Manifesto atua e faz a direção musical de 'Muralhas Invisíveis" (Bruno Moutinho)

“A peça contém música tema e música de alguns personagens, como travestis, como Firmino, como Raimundona, que são algumas personagens que estão na peça e que são apresentadas ao público através dessas canções. Tem músicas de cena, de trilha sonora, sem voz. Participei de tudo, fiz a direção musical realmente de tudo, algumas com voz e letra, outras somente a melodia”, explica.

Muralhas Invisíveis é um chamado a olhar para além das muralhas e enxergar o que nos incomoda, mas está no nosso cotidiano: uma sociedade adoecida e que precisa ser ouvida, vista e auxiliada.



“O espetáculo me atravessa de várias formas e desperta em mim muitos sentimentos, visa materializar o invisível, é bem estranho porque a gente está falando de pessoas, só que são pessoas que aos olhos da sociedade são invisíveis. Eles convivem e habitam ali área da Riachuelo com a Presidente Vargas, a gente transita por lá, passa todos os dias ali e é como se eles não existissem, são invisíveis, daí o nome da peça ‘Muralhas Invisíveis’. A ideia de dar o protagonismo a essas pessoas que a sociedade ignora, que acabam caindo na definição do Giorgio Agamben, que é o conceito das vidas nuas, essas pessoas que a gente não liga, que se morrem é menos um, que não chocam a opinião pública com a sua presença e nem com a sua morte ou com a sua vida”, explica Pelé do Manifesto.

A vida dura do cotidiano é retratada pelo olhar do Homem da Sacada, que observa não somente a degradação, mas a poesia do cotidiano e as histórias destas pessoas. As cenas refletem o cenário habitual que muitos de nós insistimos em não ver: a dependência química, o abandono, a violência física e sexual, a falta de assistência dentre outras misérias que se escondem no submundo.

Edyr Augusto Proença, responsável por escrever o texto com base na vivência de uma vida como morador do entorno, mostrou sensibilidade ao desenvolver esse projeto: "Convivi diariamente com um naipe humano maravilhoso, formado por pessoas vivendo um dia de cada vez. Aprendi a não julgar, mas ouvir, perguntar, ajudar. Ouvi seus cantos felizes e lamentosos, seus momentos de ira e medo, amores e desventuras. As pessoas passam todos os dias e noites naquela esquina nem reparam. Mas as muralhas estão lá e querem se tornar bem visíveis".

O espetáculo “Muralhas Invisíveis” foi contemplado com o prêmio Funarte de Estímulo ao Teatro, da Fundação Nacional de Artes vinculada ao Ministério da Cultura (MinC) do Governo Federal.

Com classificação de 12 anos e no dia 3 de setembro, na sessão de 20h, contará com intérprete de libras para acessibilidade às pessoas com deficiência auditiva. O teatro conta com acessibilidade para pessoas com deficiência física.

O experiente Paulo Santana é quem dirige o espetáculo e conta como o processo de construção do trabalho o tem atravessado. "Uma esquina do mundo. O mundo passa todo dia ali, mas não se presta atenção ao povo dali. Mas esse povo vê muito bem. Eles não querem mais ser invisíveis. No espetáculo, eles contam suas vidas, alegrias e desventuras. E cobram atenção. Vidas que importam. Nunca mais o desdém, o desprezo, o abandono. Está na hora do invisível aparecer".

Agende-se

Espetáculo Muralhas Invisíveis

Datas: de 01 a 10 de setembro

Horas:18h e 20h

Local: Teatro Waldemar Henrique - Praça da República, s/n


Fonte: O Liberal 

Texto: Bruna Dias

Nenhum comentário