Alepa reconhece obra musical de Dona Onete como Patrimônio Cultural e Imaterial do Pará
Os parlamentares exaltaram o pioneirismo da cantora e luta pelo contra o machismo na cena musical brasileira e regional
A Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) reconheceu as composições musicais da cantora Dona Onete, de 84 anos, como Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado. O Projeto de Lei nº 54/2023, que prestou essa homenagem em vida à artista, recebeu aprovação unânime dos parlamentares nesta quarta-feira (6).
Dona Onete, conhecida por sua dedicação em levar o carimbó aos palcos nacionais e internacionais, foi elogiada por sua contribuição artística única. O deputado Elias Santiago (PT), justificando o projeto, destacou o pioneirismo da cantora ao desafiar os preconceitos na cena musical brasileira e ser aclamada como a "Rainha do Carimbó".
“Interferiu no machismo que faz parte da história desse gênero musical, ao abordar o tema da sedução em suas composições, rompeu o tabu sobre a vida sexual dos idosos”, apontou o parlamentar no documento.
Em entrevista ao Grupo Liberal, o produtor musical Pio Lobato, que trabalhou em vários discos de Dona Onete, enfatizou a importância dessa honraria, afirmando que ela coloca a artista paraense em posição de destaque no País e serve como um exemplo inspirador para as gerações futuras.
“Ela é uma das maiores artistas do Brasil, e isso é importantíssimo, servindo como experiência para outras gerações, com todo esse trabalho, precisamos entender e refletir o que levou a Dona Onete a esse ponto de hoje ser agraciada com essa reconhecimento”, disse Pio.
Questionado sobre a homenagem em vida concedida à Rainha do Carimbó Chamegado, Pio Lobato ponderou: "Eu acho que, de maneira geral, os paraenses frequentemente questionam a qualidade cultural de seus vizinhos e conterrâneos, e tendem a questionar iniciativas culturais. Isso decorre, em parte, da desconfiança que permeia nossa cidade, que muitas vezes age como provinciana. Existe uma noção de que lá fora sempre existe algo melhor, algo maior, algo mais benéfico. No entanto, acredito que este prêmio pode nos encorajar a apreciar e valorizar nossas próprias raízes culturais, nossa vocação e nossa iniciativa cultural, sejam elas manifestadas nos gêneros musicais, nas expressões artísticas ou nas possibilidades da vida cotidiana. Considero essa homenagem uma vantagem significativa é uma iniciativa muito positiva para nossa comunidade cultural”.
Gaby Amarantos expressou sua alegria e orgulho ao comentar a homenagem à Dona Onete. O tributo deixou a cantora emocionada, destacando a importância do reconhecimento da contribuição artística de Dona Onete enquanto ainda está viva.
"Estou muito feliz com essa notícia. Dona Onete estar nesse lugar é muito bom ver as pessoas reconhecendo uma artista da importância dela em vida de estar sendo homenageada," declarou a artista ressaltando a importância de reconhecer e valorizar os ícones culturais em vida.
Gaby também destacou o apoio e a admiração do povo paraense por seus artistas locais, afirmando: "E melhor ainda, a gente vê cada vez o povo do Pará homenageando e ovacionando os seus artistas. Eu, como fã e amiga, fico morrendo de orgulho dela”.
Biografia
Nascida em Cachoeira do Arari, no Marajó, mas abraçada por Igarapé Miri, Ionete da Silveira Gama, conhecida artisticamente como Dona Onete é considerada um fenômeno do Pará para o mundo. Lançou seu primeiro álbum aos 72 anos, e construiu uma trajetória marcante como mulher forte e independente, professora e até secretária de cultura em cidades do interior, até chegar na sua carreira como cantora e compositora. A artista tem dois filhos, cinco netos e cinco bisnetos.
Ela foi fundadora de grupos de dança e música regional. Atualmente, segue compondo - soma mais de 300 composições - de maioria boleros e tantas outras nos gêneros carimbó “chamegado”, “bangüês”, lundus, entre outros ritmos regionais.
Em 2019, Onete lançou seu disco “Rebujo”, que foi eleito como um dos 25 melhores álbuns brasileiros do primeiro semestre do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Ainda no mesmo ano, ela participou do festival Rock in Rio juntamente com Fafá de Belém, Gaby Amarantos, Lucas Estrela, Jaloo e Manoel Cordeiro celebrando a cultura paraense.
Quatro depois, ela foi homenageada com a exposição Ocupação Dona Onete, em cartaz no Itaú Cultural, na capital paulista, que contou com 120 itens, entre fotos, vídeos, músicas, manuscritos e depoimentos sobre sua vida.
Fonte: O Liberal
Texto: Amanda Martins
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