Cineasta Yanomami fala sobre emoção de conquistar prêmios no 51º Festival de Gramado

 O diretor Morzaniel Iramari conversou com exclusividade com o Grupo Liberal e revelou, que agora, deseja levar obras que retratam o seu povo mundo afora

Cleiton Thiele/Agência Pressphoto
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O curta-metragem  "Mãri hi - A Árvore do Sonho (2023)",  produzido pelo cineasta YanomamiMorzaniel Iramari, conquistou dois prêmios na 51ª edição do  Festival de Cinema de Gramado, em uma cerimônia realizada na última sexta-feira (18), na Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul. A obra recebeu o Kikito de Melhor Fotografia, juntamente com o Prêmio Especial do Júri. Em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal, o diretor indígena por trás da produção, compartilhou a experiência ao receber a honraria. Ele recordou a jornada que o levou ao festival, admirando que não imaginava conquistar tal reconhecimento. 

Morzaniel relembrou que pode presenciar a exibição da sua obra na mesma sala de cinema em que o filme “Mussum, o filmis” - que venceu o Festival de Gramado. Segundo ele, o público reagiu entusiasmado e aplaudiu quando o curta chegou ao fim.  A aclamação da plateia deixou-o tocado, e ao ser chamado ao palco para receber os prêmios, a emoção transbordou. 

A produção do curta-metragem contou com a participação do grande líder e xamã Davi Kopenawa, que conduziu o telespectador aos conhecimentos ancestrais dos Yanomami sobre os sonhosA produção do curta-metragem contou com a participação do grande líder e xamã Davi Kopenawa, que conduziu o telespectador aos conhecimentos ancestrais dos Yanomami sobre os sonhos (Morzaniel Iramari)

“Eu não tinha ideia que ia ganhar, apenas pensava  na possibilidade. Quando chamaram o curta-metragem, e começaram a falar da melhor fotografia, e apareceu a minha imagem, fiquei muito emocionado. Foi uma honra para mim, quase não respirava, levantei e recebi. Quando teve a crítica do júri, eu levantei de novo, mas não conseguia falar em público tamanha a emoção, me senti muito feliz”, relembrou o cineasta. 

A produção do curta-metragem contou com a participação do grande líder e xamã Davi Kopenawa, que conduziu o telespectador aos conhecimentos ancestrais dos Yanomami sobre os sonhos.

Para Morzaniel, seu filme levou consigo o “coração e a experiência dos povos originários, transmitindo uma narrativa que espelha as lutas e conflitos enfrentados por essa comunidade”, citando, inclusive, a devastação causada por doenças estranhas à sua cultura. 

Morzaniel também faz questão de destacar o valor cultural e as mensagens de esperança e consciência por trás de sua obra cinematográfica. “Estou falando em nome do meu povo e  contando toda a nossa história. Esse filme toca em um ponto principal para mim, e é sobre a palavra ‘sonho’, que é muito forte e bonita, por isso é o ponto principal”, diz o diretor sobre a autenticidade de conteúdo que tem conquistado o público.

"Mãri hi - A Árvore do Sonho" teve sua estreia internacional no Sheffield Doc Fest, no Reino Unido, e está programado para ser exibido na 80ª edição do Festival de Veneza, na Itália, nos dias 30 de agosto e 9 de setembro. 

A obra também já ganhou destaque ao ser reconhecida no Festival É Tudo Verdade de 2023, onde venceu a categoria de Melhor Documentário de Curta-Metragem Nacional, o que a coloca como uma potencial concorrente ao Oscar na categoria de Melhor Documentário em Curta-Metragem.

Agora, o cineasta se prepara para compartilhar histórias e as lutas do povo Yanomami a diversos públicos. “Passei a sentir vontade de contar mais sobre a minha realidade para fora do Brasil, principalmente aqueles que não conhecem a verdade sobre o meu povo”, acrescentou sobre se usar como um instrumento de militância. 

Fonte: O Liberal 

Texto: Amanda Martins

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