O bandolinista e compositor Hamilton de Holanda lança o novo álbum 'Flying Chicken'

 Em entrevista exclusiva, Hamilton de Holanda falou sobre o novo disco, a carreira, a participação na Bienal das Artes em Belém, em setembro passado, e a relação com Adamor do Bandolim.





O bandolinista e compositor Hamilton de Holanda lança o novo álbum “Flying Chicken”, nesta sexta-feira, 14. Premiado e reconhecido mundialmente, o artista carioca perdeu as contas de quantos álbuns já lançou: “Perto de 50”, calcula. O misto de choro e jazz que marca a trajetória de Hamilton, se repete no projeto de oito faixas autorais em que o bandolim se harmoniza aos teclados de Salomão Soares e a bateria de Thiago ‘Big’ Rabello com criatividade e elegância.

Em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal, ele falou sobre o novo disco, a carreira, a participação na Bienal das Artes em Belém, em setembro passado, e a relação com Adamor do Bandolim. “Eu já tenho uma certa proximidade com o Pará, já participei do Festival Tapajazz (em Santarém), toquei na Casa do Gilson. Não me surpreendeu a alegria e a receptividade, porque o público de Belém é muito quente, mas não esperava uma recepção tão grandiosa, com umas 15 mil pessoas. Cheguei com bandolim e os teclados e a bateria do Salomão e do Big, e foi uma ovação. Fiquei arrepiado, muito emocionado”, recorda. Na ocasião, ele convidou Adamor para tocar junto e fez uma homenagem ao artista paraense.

“É um cara que merece todo o carinho. Conheci (Adamor) através de amigos em comum e, pessoalmente, na Casa do Gilson. Mas toda vez que eu vou aí me encontro com ele. Certa vez, ele foi me ver no hotel e compus uma música enquanto descia do elevador para encontrar com ele. Chamei de ‘Taperebá’ e foi gravada por uma musicista japonesa que mora em Nova York”, conta. O músico demonstra admiração pelo colega paraense: “Eu já conhecia o ‘Choro Marajó’, projeto do Adamor que mistura a linguagem do choro do Pará com o Brasileiro, é um sotaque específico”.

Parte da produção fonográfica de Hamilton são gravações de músicas de Hermeto Pascoal, Chico Buarque, Milton Nascimento, Jacob do Bandolim e outros. Mas a produção autoral dele é imensa. “Tenho a vontade incontrolável de fazer música sempre. Em 2020, na pandemia, fiz uma música por dia, foram 366 músicas. Foi uma maneira que encontrei de sobreviver. O coração dava uma acalmada para encarar o momento”, revela. “Sei lá quantas músicas eu tenho. Se eu parar de compor hoje, vou ter música para gravar o resto da vida. Mesmo assim não paro de compor”.

Ele nasceu em uma família que mantinha vários instrumentos em casa e costumava reunir amigos para tocar. O primeiro bandolim ele ganhou do avô (do qual ele herdou o nome), quando criança. “Aprendi a tocar bandolim antes de aprender a ler e a escrever”, afirma. “Quando eu tinha 17 anos, comecei a me perguntar porque o bandolim. Foi o meu avô que escolheu, é meu instrumento principal”, conta ele que também toca violão, cavaquinho, baixo, percussão e piano. A intimidade com o bandolim é tamanha, que Hamilton inventou um bandolim de dez cordas, no ano 2000. O instrumento original possui oito cordas. Hoje a versão criada por ele já é acessível no mercado para outros músicos.

Álbum

Hamilton Holanda conta com as parcerias luxuosas em “Flying Chicken”. Michael League, líder da banda norte-americana Snarky Puppy - vencedora do Grammy 2023 de Melhor Álbum Instrumental Pop – compôs junto com ele a faixa “Endlessly”; e com o sambista Xande de Pilares, em “O som vai conduzir”.

A acelerada faixa de abertura, homônima ao álbum, confirma a virtuose de Hamilton de Holanda, que, não por acaso, inventou o bandolim de dez cordas. Em seguida, vêm a alegre e esperançosa “Sol e luz”; “Barulhinho de trem” com arranjos que lembram as trilhas de desenho animado da infância; a romântica “Because o four strong love”, homenagem à esposa do músico; “Paz no mundo”, inspirada na pandemia e na guerra da Rússia X Ucrânia; e “Erezin”, influenciada pelos afrosambas de Baden Powell e Vinícius de Moraes.

“É um disco 100% autoral. O que tem de novo é uma sonoridade. Toco um instrumento que é muito tradicional e que tem uma cara mais antiga, o bandolim, e consegui fazer uma mistura boa com a bateria (de Big), que já faço sempre, mas entraram os teclados, o Salomão toca o mini moog, que tem um som dos anos 60, é um novo ‘vintage’ misturado com o som mais moderno do teclado. É algo que gosto muito de fazer, misturar o moderno com o tradicional”.

O nome do álbum é uma homenagem ao técnico de som conhecido por Ricardo ‘Frango’, que acompanha o artista há muitos anos. “Ele é um personagem muito particular, ele resolve tudo rapidinho. Na música, parece que ele corre. Frango (ave) não voa, mas esse Frango (Ricardo), voa muito alto. Achei que ele merecia essa homenagem (risos)”.

Metade das músicas do álbum têm nomes em inglês. Os motivos para essa escolha, segundo ele, foram a sonoridade dos títulos e a intenção de expandir cada vez mais o trabalho internacional. Atualmente, metade da agenda de shows dele já acontece fora do Brasil, especialmente para participar de festivais de jazz, onde reina o chorinho jazzístico de Hamilton de Holanda.


Fonte: O Liberal 

Texto: Enize Vidigal

Nenhum comentário