Mulheres transformam dores e silenciamento em arte
A artista paraense Edvânia Câmara Iyapunde foi uma das artistas convidadas do Arte Pará 2022
As mulheres nas artes plásticas enfrentam problemas da imposição do poder como em qualquer outro campo da vida e, muitas delas, usam das experiências de dificuldades em suas obras. A artista paraense Edvânia Câmara Iyapunde diz que transforma as vivências em arte. Ela foi uma das artistas convidadas do Arte Pará 2022, onde expôs uma performance em homenagem à Dona Mariana, entidade que faz um grito à sociedade por respeito às mulheres.
Dona Mariana é uma voz que grita em favor das mulheres. Ela grita contra o silenciamento e opressão dos homens. “A minha performance se trata de um grito político. É a entidade que cresci e que luta a favor das mulheres, ela ensina que as mulheres precisam usar seus rituais místicos e que que devem buscar seus elementos sedutores. Em meio a performance eu grito: ‘parem de nos matar”, explica a artista.
Nesse trabalho Edvânia transporta para a arte questões de violência, misoginia e entre outros temas que massacram as mulheres diariamente no mundo todo. Ela diz que o trabalho é reflexo do seu olhar para o mundo.
Essa força do feminino no Arte Pará faz parte de um projeto iniciado em 2020, que tem como objetivo promover um recorte significativo das mulheres artistas da Amazônia.
Edvânia Câmara Iyatunde trabalha com temas ligados às religiões de matrizes africanas, pois foi por meio da espiritualidade que se descobriu como artista. A primeira participação no Arte Pará foi em 2014, um sonho para a artista, uma vez que se firmar no mundo da arte não é nada fácil para uma mulher e, ainda mais, sendo da Amazônia.
“A mulher por ser mulher já precisa de muito mais esforço para se firmar no seu local de trabalho e no meio das artes plásticas não é diferente. Portanto, ter um espaço reservado para as mulheres apresentarem seus trabalhos é muito significativo. É um trabalho de reparação e de contribuição para a sociedade”, destaca Edvânia.
Em sua trajetória na arte, Edvânia diz que já passou por algumas situações de preconceito e silenciamento. Ela recorda de um caso ocorrido ainda na universidade, quando cursava Artes Visuais. “Eu fazia parte de um projeto estudantil, onde cada um tinha sua função. Eu saí do projeto por questão de imposição e silenciamento de outros homens, que não acatavam nossas visões e ainda queriam resolver as questões no grito”, recorda a artista.
Outra situação de preconceito que vivenciou foi em outro trabalho, onde pensou na exposição e executou a maior parte do projeto e, no fim, um homem da equipe fez diversas alterações no catálogo de divulgação e alterou os créditos da artista. “Ele me colocou apenas em uma função, sendo que eu criei e exposição e fiz parte da organização. Eu me senti muito constrangida e, na ocasião, nada foi modificado, não tive voz”, acrescenta a artista.
A trajetória da artista começou há mais de 10 anos, quando começou a fazer as escalações com indumentária de terreiro. Seu trabalho sempre esteve ligado ao tema da religiosidade Afro, da qual é envolvida há 37 anos e foi por meio da religiosidade que se descobriu artista, pesquisadora, educadora, oficineira. “O principal é levar a cultura afro-religiosa para dentro de diferentes espaços”, pontua a artista.
É formada em artes visuais e toma conta de um acervo religioso, criado e catalogado por ela mesma no terreiro "Ilê aşé Aga Aro níle" Espaço Cultural Caboclo Jaguarema, onde possui um acervo com 250 peças de indumentária e objetos sagrados.
Fonte: O Liberal
Texto: Bruna Lima
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