Livraria FOX se despede do público após 36 anos funcionamento
‘A Fox existe há 36 anos e nem precisa dizer a tristeza por ter sido praticamente obrigados a fechar, por conta da falta de movimentação, da falta de uso do livro", disse a proprietária,
A Livraria FOX encerrou nesta terça-feira (31), uma história que iniciou em 13 de maio de 1987, em Belém. Primeiramente como locadora de vídeo e, posteriormente, a partir de 2004 como livraria. A proprietária Déborah Miranda - ou Débora da Fox como ficou conhecida pelos frequentadores - lamentou o fechamento e relembrou que passaram pelo espaço, no mínimo, 500 artistas de Belém e de outros estados da região amazônica ao longo dos anos de funcionamento.
Nos últimos 20 dias o movimento na livraria foi bom, comentou Déborah, no entanto, o tom do último dia foi mais de despedida. Autores buscando os seus livros, frequentadores tomando o último café, tirando uma foto de recordação e algumas vendas de livros. "A Fox existe há 36 anos e nem precisa dizer a tristeza por termos sido praticamente obrigados a fechar, por conta da falta de movimentação, da falta de uso do livro", disse.
A proprietária declara que tentou trazer novidades ao espaço, dar abertura ao coworking, eventos de naturezas variadas, mas a movimentação continuou enfraquecendo. "O espaço procurou o tempo todo se reinventar. Mas infelizmente não conseguimos manter a livraria de pé. Principalmente a livraria, porque eu acho que ela era muito mais emblemática do que tudo que a FOX trazia para as pessoas. Sempre foi cultural. Para nós essa é uma imensa tristeza, um buraco que eu sei que vai ficar na cidade, mas que infelizmente chegou ao final", ponderou.
"Se a gente for considerar lançamento, autores, CDs. Autores paraenses que moram fora da cidade. Autores do interior do estado, demos oportunidade para autores da região. De Manaus, de Belém, de Macapá. Foi realmente uma coisa cultural da Amazônia que a gente sempre procurou congregar aqui", relembrou.
O escritor e músico paraense Salomão Habib esteve presente no fechamento da livraria. Ele diz que sendo um admirador da filosofia oriental, sabe que não deve reclamar do encerramento dos ciclos e sim agradecer. “Assim que me sinto, grato, pelo luta dessas pessoas. Claro que é triste e lamentável perder esse espaço de cultura, mas fica a gratidão por ter feito história, ter oportunizado aos escritores o espaço para divulgar os trabalhos. Viva a Fox”, exalta o artista.
Sandra Lopes, administradora e consultora de Recursos Humanos, frequenta a livraria há mais de 30 anos e contou que além dos livros, apreciava o atendimento. "Gostava de tudo, desde o atendimento das meninas, dos meninos, da atenção da Débora, das indicações dos livros que ela sempre me dava, da simpatia dela e do Marcos, da amizade deles, do carinho de todos, do aconchego, do ambiente, da paz que eu sentia no ambiente da Fox", começou relembrando as experiências.
A livraria faz parte da sua memória afetiva. Sandra revelou que perdeu as contas de quantos livros comprou na FOX, entre uma visita e outra. "Nossa, foram muitos livros. Vários do Augusto Cury, O poder do Hábito, Sonho Grande, O princípio 80/20, Um Ano com Peter Drucker, A física da Alma, inúmeros do Mia Couto e por aí vai. Muitos mesmo", arguiu.
A administradora acredita que esse fechamento deixa uma mensagem importante e que pede reflexão. "Ainda que estejamos vivendo o momento de valorizar o virtual, ainda valorizo o impresso, o cheiro do livro, a textura, a virada de página com os meus dedos, o uso do meu marcador de página que comprei na Fox. A literatura é o meio que encontro de viajar sem sair do lugar, é onde realizo meus sonhos sem me custar quase nada. Não posso deixar de ler meus livros. O sentimento que fica é o de muita gratidão com todos aqueles que me proporcionaram muitos dentre os melhores momentos da minha vida, que foram todos os que fizeram parte da equipe Fox, tanto os que já ali trabalharam como os que ainda trabalham até hoje", concluiu.
A Déborah diz que apesar das incertezas do que acontecerá com a marca "Fox", é grata por tudo e por quem passou pelo espaço. "Eu preciso encerrar esse ciclo. Dizer o que eu vou fazer ou como a marca vai se reinventar ou voltar ou ressurgir. Eu não tenho ainda essa resposta. Para mim é uma incógnita. Eu sempre digo para todo mundo que o que o universo me trouxe, eu estou devolvendo afeto, carinho sabe? Amor pelo que que se faz né? Espero que o universo dê a sua virada lá por cima e me traga alguma coisa... Olha pra todo mundo que me pergunta é um só: 'gratidão'. Agradecer o público, os clientes que se tornaram amigos", finalizou.
Fonte: O Liberal
Texto: Emanuele Corrêa
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