Crônica da Atualidade - Por José Roberto Ichihara
Ganhar ou perder não faz parte da disputa?
No
último domingo (18/12/22) o país da chuteira viu a conquista da seleção de
futebol arquirrival Argentina se sagrar campeã da Copa do Mundo no Qatar. A
seleção canarinho, a eterna favorita nesta competição, ficou pelo caminho
porque perdeu para a Croácia, a vice-campeã de 2018. O efeito imediato disso
foi a enxurrada de críticas ao time, ao técnico, à Comissão Técnica e tudo que
pudesse justificar o fracasso. Afinal, somos os únicos pentacampeões, o país do
futebol, o celeiro de craques que encantam o mundo da bola. Mas o que faltou,
mais uma vez?
Sabe-se
que esta atividade move paixões que chegam aos limites da incompreensão. O que
tem a ver a derrota da França, a campeã de 2018, com a declaração do craque
francês Mbappé, sobre as competições europeias e sul-americanas? Disse ele,
numa entrevista, que o Brasil e a Argentina não enfrentam competições no nível
das seleções europeias. Por isso, as conquistas das seleções deste continente
desde 2006. À parte o regionalismo, o que ele disse de tão ofensivo? Inclusive
ele citou que ambas eram favoritas. Os fatos e os argumentos não batem?
O problema é que muitos torcedores excedem a paixão extracampo e não querem ver a realidade. A Copa do Mundo deixou de ser uma simples competição que acontece a cada 4 anos. Ela é um evento que comprova que, além do talento individual e coletivo dos jogadores, há toda uma estrutura organizacional que pode facilitar o caminho da conquista. Isso diverge da velha ideia nacional de que o time é como uma grande família, em que ninguém pode ser excluído, inclusive por mau desempenho. Isso está errado! O profissionalismo deve estar acima de tudo. Senão...
Portanto, a vontade de ganhar toda vez que participar desta competição - como em qualquer outra em que há adversários à altura – exige uma mudança radical na forma como encaramos a preparação e o comportamento dos atletas durante as partidas. Os comentaristas que atuam neste meio na mídia nacional apontaram algumas convocações inexplicáveis, táticas erradas e a omissão do técnico nas substituições durante os jogos. Quem quer vencer sempre não pode ser tão passivo em qualquer que seja a situação. Para muitos faltou “garra”, vontade.
Mas
as palavras, como se sabe, às vezes têm um efeito motivador que muitos
desconhecem e podem mudar a atitude de quem se achou ofendido. O que Mbappé
falou acendeu a chama do regionalismo nos sul-americanos. Daí que muitos brasileiros
decidiram torcer pela Argentina e comemoraram o título como se isso nos
devolvesse o orgulho de ser o continente que mais revela craques de
reconhecimento mundial no futebol. Pouco importa se os vizinhos nos chamam de
“macaquitos” e não têm negros no seu time vencedor, mas sempre foram “raçudos”.
Infelizmente
ganhar ou perder faz parte de qualquer competição em que somente um pode sair
como o vencedor. O espírito esportivo recomenda que o respeito entre os
oponentes seja no sentido de manter o nível elevado, reconhecendo a vitória e
valorizando o derrotado. Tudo que fugir disso está em desacordo com as
premissas do objetivo que deve ser considerado o valor sagrado deste evento. As
disputas mais duras e os desentendimentos que surgem no calor da partida ficam
no campo, logo após o apito final do juiz da partida. Simples assim! Não há
inimigos.
Uma
lembrança que vai ficar desta competição mundial é a seleção do Marrocos. Para
a maioria, ela foi o destaque e a revelação neste evento. Chegou às quarta de
final e se tornou o primeiro país africano a voar tão alto. Os seus melhores
jogadores atuam nos grandes times da Europa, assim como muitos argentinos e
brasileiros. Alguns asiáticos e oriundos da Oceania também procuram a Europa, o
mercado mais valorizado no mundo do futebol, porque são os campeonatos mais
importantes e servem de vitrine para o mercado da bola. Mbappé está certo?
A pior atitude do perdedor é procurar um culpado pelo seu fracasso. O que já aconteceu não pode ser mudado. Pouco adianta buscar motivos para justificar os erros. O que precisa ser feito, com muita humildade e profissionalismo, é tirar lições da derrota e entender que todos que disputam um campeonato desta magnitude estão lá para dar o melhor de si. Acreditar que somente a habilidade individual resolve é arriscado porque tudo depende do coletivo. Temos muito tempo para analisar e mudar o que precisa... e parar de pensar que somos imbatíveis. Aí... Quem sabe?
**Autor é paraense de Capanema e reside na cidade de Natal/RN
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