Engenho Murutucu
Engenho Murutucu foi uma propriedade rural e engenho de açúcar e aguardente construído na década de 1610, na então indígena de Mairi (atual município de Belém), no então Império das Amazonas (estado do Pará), sito à Estrada da Ceasa às margens do igarapé Murutucu (bairro do Curió-Utinga), na atual área da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Também antiga propriedade do arquiteto Antônio José Landi a partir de 1766 e, um dos palcos da Revolta da Cabanagem (1835).
A história do Murutucu conta com diversos proprietários e diferentes usos do local, junto com a presença de escravizados indígenas e afrodescendentes que produziram artefatos e mistura cultural. Até 1981, quando foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio histórico.
Etimologia
A palavra murutucu é uma corruptela do canto da coruja, “murtucu” (um som mal compreendido).[1] Mesmo nome do igarapé, afluente da margem direita do rio Guamá.
História
Engenho foi fundado por João Manuel Rodrigues no século XVII,[4][6] aproximadamente na década de 1610 durante o período do Brasil Colônia (1500–1815), em terras pertencentes a sua esposa Maria Rodrigues Martins.[1] Construído em solo típico de várzea em uma área de 17 metros por 30 metros no futuro município de Belém, no então Império das Amazonas (o atual estado brasileiro do Pará),.[7]
Em 1711, foi construída no engenho a primeira igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição pelos Frades Carmelitas (padres Carmelitas),[1][6][8] quando se estabeleceram na capital Belém, início efetivamente a ocupação desta região no século XVIII.[5]
O Murutucu foi uma grande obra de engenharia rural na Amazônia, pois era movido com a força das águas represadas da maré, considerada uma inovação tecnológica na época.[5]
Em 1750, o engenho é de posse do Ouvidor-Mor José Borges Valério.[8] Em 1760, após sua morte, Domingos da Costa Bacelar assumiu o engenho.[8]
Em 1766 o engenho tornou-se propriedade do arquiteto italiano Antônio José Landi após restauração no século XVIII,[1][2][8] com incorporação dos traços Neoclássicos como molduras e frisos.[5] Landi era integrante da comissão de demarcação de limites da Amazônia, mas arquitetonicamente tornou-se representando da cultura européia como precursor do estilo Neoclássico no território brasileiro[5][9] (responsável pela construção do Palácio do Governo do Estado do Pará, Igrejas do Carmo, Mercês, Santana e Rosário).[1]
Em 1780, Landi encontra dificuldades em obter a mão-de-obra para manter as atividades do engenho, como a plantação de um canavial, solicitando então ao reino a concessão de 24 índios para o trabalho.[5][8] Ainda assim, ainda conseguiu produzir açúcar e aguardente, e iniciou uma olaria para fabrico de telhas e tijolos.[5][8]
Documentos recentemente revelaram que Antonio Landi morreu neste engenho no dia 22 de junho de 1791, deixando-o de herança para a filha, Ana Teresa, que casou-se com o Capitão João Antônio Rodrigues Martins (filho de João Manuel Rodrigues, proprietário de engenhos de Mocajuba e Utinga).[5][8] Este o administrou de forma similar aos proprietários de terra da região Nordeste do País.[1]
Em 1819, João Antônio transformou a área em local de treinamento militar (guarnição de Belém).[8] Este veio à falecer em 1820, a propriedade passou para a herdeira, a filha Ângela Joana Pereira Martins e seu marido, Tenente Coronel Francisco Marques d’Elvas Portugal.[8]
Em 1835 o Murutucu foi usado temporariamente como acampamento das tropas durante a revolta da Cabanagem (1835-1840) lideradas por Francisco Pedro Vinagre, Eduardo Angelim e, Geraldo Gavião.[1][2][8] Em agosto deste ano, iniciou-se a segunda invasão a Belém partindo deste engenho.[1][9][8]
No decorrer do movimento, o engenho provavelmente estava abandonado, sendo assim requisitado pelo cabano João Antônio Sete para ser sua moradia.[1]
Em 1841, com a morte de Francisco d’Elvas o engenho foi comprado por Henrique Antônio Strauss, junto com outras edificações: casa de vivenda, casa de engenho, senzala, roda dágua, moendas de ferro, balança, capela e escravos.[1][8]
Em 1850, o engenho encerrou suas funções,[1] abandonado devido o desaparecimento da tradição de "senhor de engenho" com o passar do tempo, entrando em ruína.[6][8]
Em 1872, foi dado em pagamento de divida e hipoteca pelo proprietário Leonardo Augusto Farias Vivas ao Banco Comercial do Pará (valor de mais de 45 mil contos de réis).[8]
No final do século XIX, o engenho é adquirido por Frederico Pond e Emílio Martins & Cia. Posteriormente transfere a posse ao Cônego José Lourenço da Costa Aguiar.[8]
Em 1940, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA adquiri a propriedade e,[1][4] transforma em um campo experimental.[8]
O Engenho do Murutucu tornou-se monumento histórico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional- IPHAN em 08 de outubro de 1981.[3][4]
Atualmente, tem-se um conjunto de ruínas da Casa Grande, em sua maioria indícios de alicerces em um monte de apuizeiros e,[6] algumas paredes em alvenaria de pedra argamassada e tijolo maciço. Apenas a capela, em estilo neoclássico está firme.[6] A área da Casa Grande apresenta grande destruição devido à derrubada de suas paredes remanescentes, em fins de 1995,[7] para obtenção de pedras para construção.[8]
Em 1986, em compensação da demolição de parte da Casa Grande, teve inicio uma série de pesquisas arqueológicas promovidas pelo Museu Emílio Goeldi com apoio do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em atividade prática ministrada pela arqueóloga Margarida Davina Andreatta.[8]
Pesquisas arqueológicas
O Sítio passou por pesquisas arqueológicas,[1] durante o projeto Sítio-Escola Engenho do Murutucu: uma Arqueologia dos Subalternos, com o objetivo de estabelecer um programa de investigação científica arqueológica, por meio da pesquisa dos materiais no sítio, vestígios da vivência dos diferentes grupos que viveram no Engenho.[3]
Sendo realizadas cinco sequências de escavações no terreno nos anos de 1986, 1996-1997, 2000 e,[1] 2014 e, 2015.[2] O material coletado nessas escavações encontra-se no Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), no laboratório de análises da área de Arqueologia Histórica. Dentre esse material, encontram-se: louças (faianças simples, faiança fina, grés e porcelana); vidros (de garrafas principalmente); metal (de construção, de armaria); e cerâmicas (vasilhas, vasos).[1]
Também pode verificar-se o uso da cal e de sambaquis (amontoado de moluscos marinhos) do estuário amazônico na argamassa das ruínas do engenho, sugerindo que as conchas teriam sido explorados no período colonial nesta região.[5] Estudos na construção civil demonstram que uso da cal virgem a partir de conchas marinhas melhora a interligação da areia das edificações, aumentando sua resistência, durabilidade e elasticidade contra as das chuvas tropicais.[5] Outro aspecto positivo é o poder bactericida da cal, por ter um pH alto combate a formação de mofo e bolor.[5]
Esse tipo de pesquisa é considerada especial, pois permite possibilidades de restauração. Essencial para reconstituir o patrimônio histórico nacional.[5]
Fonte: WikipédiA
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