Luciano Demétrius: História e Memória da Estrada de Ferro Belém-Capanema-Bragança

 


**A cidade de Capanema-Pará, está em verdadeiro frenesi com a exposição da cabine do trem Maria-Fumaça no Avenida principal. O historiador Luciano Demétrius, publicou em sua página no Facebook, texto correspondente aos idos passados, quando a cidade era cortada pela estrada de ferro. Trata-se de um registro que merece ser lido e relido. (PV)




Depois da interessante e propícia atitude da Prefeitura Municipal de Capanema em transportar a carcaça restaurada do trenzinho que carregava cimento em princípios dos anos 60, com a finalidade de deixar a mesma exposta na Av. Barão de Capanema, pois a História, em seus aspectos materiais e monumentais, só tem sentido e se torna atrativa ou didática, quando passa a ser vista, registrada e apreciada pela população de uma forma geral. Dessa forma, nada mais interessante que apresentar um pequeno histórico da Estrada de Ferro Bragança, cuja abertura possui fortes interações com a nossa cidade e sua região.

A ESTRADA DE FERRO BRAGANÇA

Ainda no Segundo Reinado, uma das poucas ferrovias estabelecidas em solo amazônico, naquele período, foi a Estrada de Ferro Bragança (E. F. B.), cujo projeto, em épocas precedentes, já era plenamente discutido. Não por acaso, desde antes de 1870 já se preocupavam os paraenses com a construção de um caminho ferroviário que ligasse a capital do grande Estado nortista à cidade de Bragança, fundamental, segundo estas elites, para atrair o progresso à região. (...) Dessa forma, após lentas negociações, a obra foi finalmente iniciada em 1883 e sua conclusão demandou muitos anos, pois, devido às dificuldades econômicas, e principalmente às disputas e rivalidades políticas.



As despesas estabelecidas, na época, foram consideradas elevadas para projeto desta linha férrea, acabando por gerar os atrasos na construção da mesma e, Consequentemente, algumas críticas ocorreram e foram logo rebatidas pelas autoridades políticas provinciais, que, repetidamente, em suas falas parlamentares, argumentavam sobre os custos finais e as vantagens da ferrovia. Importadas da Inglaterra ou dos Estados Unidos, entre o final do século XIX e início do XX, várias locomotivas movidas a vapor, foram utilizadas nos trilhos da Estrada de Ferro Bragança.

Nos vagões dos trens eram transportados desde pessoas e cargas, até animais, que também podiam, em espaços específicos, realizarem o percurso entre Belém e Bragança. O uso das locomotivas, abastecidas pela queima de carvão vegetal, adquirido pela empresa concessionária da ferrovia, frente a fornecedores da região, representava uma novidade para as populações do interior, ainda habituadas, a realização de longas caminhadas a pé, a cavalo ou com uso de algum veículo puxado por tração animal. 

A própria noção de tempo, envolvendo as viagens entre Belém e Bragança, passou por uma grande ruptura após a finalização das obras da linha férrea, no começo do século XX, visto que, a partir de 1908, o trecho entre a capital e Bragança durava entre 16 e 18 horas. Antes da construção da E.F.B., as viagens poderiam durar até duas semanas pelo litoral, ou caso se optasse por percursos bastante irregulares, como o trecho da estrada do Tentugal, aberto no século XIX, que tinha que ser complementado, pelo trajeto pelo rio Guamá, tornavam qualquer viagem da região bragantina em direção a capital da província, uma atividade cara, perigosa e demorada.

Favorecedora do povoamento e exploração da Zona Bragantina, por meio do processo de estabelecimento de colônias agrícolas na faixa de terra que ligava Belém a Bragança, a construção da ferrovia pode ser considerada um marco histórico para o surgimento de várias comunidades na região que, serviram de embriões para diversas cidades. Assim, foi somente em 1907, quando a ferrovia já contava com mais de duas décadas de construção, e encontrava-se em seu trecho final que, ocorreu a passagem da linha férrea pelas terras pertencentes a Quatipuru, localidade que, na época, controlava a área que, posteriormente, iria se constituir no município de Capanema.

Nos anos subsequentes, um dos principais anseios dos diversos governos estaduais e intendências na Zona Bragantina foi transformar esta linha férrea, cujo projeto, em razão do alto custo, havia levado mais de duas décadas para ser construído, num empreendimento menos oneroso e deficitário aos cofres públicos estaduais e municipais. Isso se deve ao fato da Estrada de Ferro demonstrar ser pouco viável economicamente ao longo do tempo, causando apreensão nas autoridades paraenses quanto à lucratividade desse empreendimento.

Após o início da ditadura militar em 1964, quando o setor ferroviário perde cada vez mais espaço para o rodoviário, a Estrada de Ferro Bragança sofre um golpe final, marcado pelo processo de desativação (...). A desativação da linha férrea que interligava Belém a Bragança, marco histórico regional, foi efetivada por meio do Projeto de Lei do Senado Nº 49, de 1964, também responsável por lotear as terras que pertenciam a E. F. B.


Texto: Luciano Demétrius Barbosa Lima – Historiador

Fonte: Facebook do autor

Fotos: Divulgação 


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