Aos 15 anos, jovem porto-alegrense com deficiência visual lança livro de poesias

"Vozes Noturnas" é a primeira publicação de Clarissa Monteiro


Para escrever, a estudante usa o bloco de notas do celular , tendo como aliado um recurso de acessibilidade do próprio dispositivo

Ela tem 15 anos e um gosto por literatura que cresceu junto com ela. Moradora da Zona Sul de Porto Alegre, a estudante Clarissa Monteiro agora tem também um livro em que, abaixo do título, o nome que está é o seu. Intitulada Vozes Noturnas (Editora Leia Livros; 100 páginas), a publicação foi lançada em dezembro e é a primeira da jovem escritora. A obra reúne um conjunto de 37 poesias produzidas de 2019 em diante.

— Quem está afim de ler alguma coisa diferente, para sair da rotina, vai gostar — garante.

livro passa por temas sombrios, existenciais e também filosóficos e o título busca expressar isso, dando os ares de algo misterioso e místico, descreve a autora, que tem deficiência visual, assim como seus pais, por conta de um glaucoma.


Vozes Noturnas pode ser adquirido em formato físico ou digital pelo site da editora (www.leia-livros.com). Uma versão em braille deve ficar disponível no final de fevereiro e ser doada para instituições que trabalham com pessoas com deficiência visual, para a Biblioteca Pública do Estado e para o Instituto Estadual do Livro. Um audiobook é planejado para o primeiro semestre deste ano.

Desde pequena

Nada mais nada menos do que Augusto dos Anjos, Charles Baudelaire, Edgar Allan Poe e Florbela Espanca estão na lista de escritores nos quais Clarissa se inspira. Quanto aos gêneros, terror e suspense chamam a sua atenção.

Mas o mundo da literatura é também seu mundo desde a infância e uma grande incentivadora foi sua mãe, Vera Valentim, professora e revisora de livros em braille da Secretaria da Educação. Por lazer, ela contava histórias para a filha desde bebê. E lembra que, por volta dos quatro anos da menina, o livro do clássico Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato, na versão original, chamou a atenção da pequena.

— Ela já se esforçava para entender tudo e já tinha curiosidade, já prestava a atenção e não queria parar quando o capítulo acabava, era muito interessante para ela. Então eu já vi que era algo diferenciado — recorda Vera.

Linhas e mais linhas



Juntas, mãe e filha também costumavam criar e escrever histórias por puro divertimento —sem imaginar o que viria no futuro. Foi aos 10 anos, então, que a menina começou a dar seus próprios passos na escrita. O interesse pela poesia surgiu um pouco depois, segundo Clarissa, quando quis buscar formatos para além dos contos, que costumava escrever, e entrou em contato com as obras de alguns poetas. Mas, ainda com um ano e poucos meses, a menina já gostava de brincar com as palavras, inventando e rimando, conta Vera.

E se a mãe teve um papel crucial no início da caminhada da menina pela literatura, hoje o cenário se inverte:

— Agora é meio que ao contrário, ela que me indica os livros — destaca Vera.


Rotina de uma jovem escritora

Aluna do primeiro ano do Ensino Médio do Instituto Santa Luzia, na Capital, Clarissa usa os horários alternativos aos da escola para pôr em prática seu lado literário. Ela gosta de escrever todos os dias, principalmente, de madrugada. A inspiração surge pelos seus sentimentos ou, como diz, às vezes simplesmente aparece.

Para escrever, utiliza o bloco de notas do celular e tem como aliado um recurso de acessibilidade do próprio dispositivo. Embora a deficiência tenha a acompanhado ao longo da trajetória, Clarissa explica que não é o grande assunto dos seus escritos.

— É o ponto de vista de uma pessoa com deficiência, então talvez seja um pouco diferente, mas eu tento não focar só nisso.

O livro

Vozes Noturnas partiu de um trabalho da adolescente de reunir, organizar e selecionar o que havia produzido nos últimos anos. E de ir atrás de editoras até encontrar a que embarcou no seu projeto. No evento de lançamento, Vera e Clarissa narraram algumas das poesias.


— Quando ela deu o primeiro passinho, eu chorei. Quando ela falou, eu chorei. Agora quando ela escreveu, eu chorei de novo — relata Vera, que revisou a primeira versão em braille do livro da filha e deve seguir trabalhando na melhor adaptação do material.

Se Clarissa brinca com as palavras na escrita, na hora de falar sobre o que sentiu ao ter seu primeiro livro publicado, elas faltam:

— Foi bem emocionante, foi muito bonito, muito emocionante, nem sei descrever.

Depois de finalizar a escola, a jovem quer ingressar na faculdade de Direito — mas levando a literatura ao seu lado, na expectativa de que ter mais publicações ao longo do caminho.

Fonte: Produção: Isadora Garcia / site GHZ Porto Alegre (Texto e Foto)





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