Filmes que completam 40 anos em 2021
Um dos maiores encantos de ser cinéfilo é, certamente, pesquisar sobre filmes e cineastas, movimentos e tendências artísticas cinematográficas, obras de diretores e atores, contextos das realizações dos filmes, influências de outras artes sobre os cineastas e roteiristas, entre diversos assuntos referentes a sétima arte. Eventualmente, por exemplo, é interessante pesquisar sobre filmes realizados em diversos anos e que, de certa maneira, marcaram críticos e públicos. A pesquisa revela, por exemplo, como certos filmes foram sucesso de bilheteria e foram questionadas pela crítica, ou como muitas produções foram evidenciadas pela crítica e não tiveram a atenção do público.
Evidentemente, com uma perspectiva de pesquisa crítica e analítica distante do período que estes filmes foram realizados, é conveniente procurar assistir ou rever muitos filmes que trazem histórias e estéticas interessantes para que possamos entender a importância destas produções. No caso de uma revisão, é estimulante perceber que um filme que assistimos décadas atrás podem ter interpretações diferentes. A diferença entre como assistimos um filme, por exemplo, nos anos 1980, e, posteriormente, em 2021, leva em consideração que o filme é o mesmo, mas nós, espectadores, não. Vivências, experiências, maturidades e aprendizados teóricos ou práticos sobre o cinema, provavelmente são diferentes. E estas diferenças permitem ter outras interpretações não somente sobre os filmes, mas sobre a vida.
Em uma instigante pesquisa que fiz recentemente, escolhi o ano de 1981 como referência para este artigo. No início dos anos 1980, o cinema estava em transformação com fortes influências nas produções relacionadas, por exemplo, a progressiva audiência da televisão e aos custos altos de produção de um filme e sua exibição de filmes nos cinemas. Em um período pós-sucesso de Guerra nas Estrelas (1977) de George Lucas, entre outros filmes, o cinema foi questionado pelos diversos públicos e realizadores daquele período que procuravam alternativas para o futuro da sétima arte. O documentário Quarto 666 (1982) de Win Wenders é uma excelente referência sobre estes questionamentos, a partir do depoimento de diversos cineastas como Jean-Luc Godard, Rainer Werner Fassbinder e Michelangelo Antonioni, entre outros. Mas, apesar das diversas crises e questionamentos sobre o futuro da sétima arte (questão recorrente na história do cinema em diversas épocas), muitos filmes surgiram e marcaram gerações.
Nas produções de 1981, que este ano completam 40 anos de lançamento, é possível fazer uma relação de filmes de diversos gêneros que foram debatidos, elogiados, criticados e conseguiram deixar boas memórias em muitos espectadores por meio de seus personagens, narrativas, histórias, direção e estéticas. Indico ao leitor alguns títulos que estão disponíveis em DVD ou em canais streaming como Fuga de Nova York de John Carpenter, Possessão de Andrzej Zulawski, Na Época do Ragtime de Milos Forman, Um Lobisomem Americano em Londres de John Landis, Excalibur de John Boorman, Carruagens de Fogo de Hugh Hudson (vencedor do Oscar de melhor trilha musical para Vangelis), Scanners – Sua Mente pode Destruir de David Cronenberg, Um Tiro na Noite de Brian de Palma, Corpos Ardentes de Lawrence Kasdan, Fuga para a Vitória de John Huston, Eles não Usam Black Tie de Leon Hirzman, Eu te Amo de Arnaldo Jabor, A Mulher do Lado de François Truffaut, Reds de Warren Beatty, A Guerra do Fogo de Jean-Jaques Annaud, Retratos da Vida de Claude Lelouch, Lili Marlene de R. W. Fassbinder, Os Anos de Chumbo de Margarethe von Trotta e Mephisto de István Szabó.
Entre os filmes indicados destaco Possessão, produção dirigida por Andrzej Zulawski, cineasta provocador que criou um filme esteticamente arrojado para mostrar uma complexa história de um casal em crise com metáforas políticas e existenciais em atuações brilhantes de Isabelle Adjani e Sam Neill; Fuga de Nova York com a ironia e criatividade do diretor John Carpenter e o personagem Snake Plissken (Kurt Russel) em um filme de ficção científica no estilo dos melhores westerns; a intensa crítica social e humana em Na Época do Ragtime como um dos melhores filmes de Milos Forman; o filme noir Corpos Ardentes em uma trama policial e amorosa realizada com maestria pelo roteirista e cineasta Lawrence Kasdan; Eles não usam Black-Tie como uma das obras primas do cinema brasileiro baseada na obra de Gianfrancesco Guarnieri; Eu te Amor na frenética história de amor entre um casal desconhecido em um dos melhores filmes de Arnaldo Jabor; o cinema poético de François Truffaut em A Mulher do Lado; o drama humano sobre a guerra criado por R. W. Fassbinder em Lili Marlene e a crítica social, política e humana da sociedade durante a segunda guerra mundial em Mephisto de István Sazbó.
Estes e outros filmes de 1981 podem e devem ser assistidos como meio de perceber a evolução do cinema. Entre gêneros distintos, filmes premiados e elogiados ou não pela crítica ou sucesso de publico, todos têm algo a nos dizer sobre o cinema de sua época. Olhar para estes e outros filmes de diversas épocas podem nos ajudar a entender a complexidade do cinema. Preservar o olhar sobre o passado da sétima arte por meio dos filmes é, certamente, maneira de valorizar a memória e o trabalho de muitos realizadores. Evidentemente, este olhar deve ser crítico e pode reposicionar estes filmes de modo diferente, com discordâncias sobre suas abordagens temáticas ou estéticas. Mas assistir é preciso! Afinal, como afirma Milton Nascimento e Fernando Brandt na canção O que foi feito Devera (De Vera) (1978), o que foi feito é preciso conhecer para melhor prosseguir.
Espero que estes filmes sejam assistidos ou revistos como meio de celebrar seus 40 anos de lançamento!
Edição: Lucas Brito
Fonte: O Liberal (Texto e Foto)
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