Na pandemia, cultura popular resiste com a internet
Inclusão digital, especialmente dos mestres e mestras, e registro dos saberes e fazeres foram alguns dos avanços obtidos.
As tradições folclóricas passaram a contar com as inovações tecnológicas para serem reproduzidas durante a pandemia pela Covid-19. Neste domingo, 22, Dia do Folclore, constata-se que a cultura popular não adormeceu diante desse desafio. Pelo contrário, apesar dos blocos de carnaval, dos cordões de pássaros e das quadrilhas juninas não terem podido ir às ruas em 2020 e 2021, os fazedores de cultura receberam ações fomento, superaram a barreira da inclusão digital, expandiram o alcance e obtiveram um dos maiores ganhos para a perpetuação dessas tradições que foi o registro em áudio e vídeo das manifestações, dos fazeres e dos saberes da cultura, que, em grande parte, estavam limitados à reprodução oral por gerações.
O diretor de Cultura da Secretaria de Cultura do governo do estado do Pará (Secult), Júnior Soares, conta que a instituição lançou 28 editais de fomento a ações variadas de cultura para exibições virtuais, por meio da Lei Aldir Blanc, desde o ano passado. Dentre esses, três editais contemplaram iniciativas de cultura popular, de patrimônio imaterial e de cultura afro-brasileira, por meio da Fidesa, que distribuíram 382 prêmios, no valor total de quase R$ 9 milhões.
Um novo desafio surgiu para viabilizar esse fomento: a dificuldade de acesso à internet de parte do público para concorrer nos editais 100% on-line. "Os mestres e mestras tiveram que evoluir (para aprender a usar as ferramentas tecnológicas). Para a nossa grata surpresa, no mapa cultural de cadastro notamos a presença de muitos mestres e mestras, inclusive, representantes das tradições afrobrasileiras e indígenas", destaca.
Outras surpresas dos novos rumos tecnológicos da cultura popular foi a ampliação do alcance das ações de fomento por todo o território paraense, bem como o alcance de mestres e fazedores de cultura de diversas áreas da cultura. E, finalmente, muitos mestres e mestras de saberes e fazeres variados tiveram as oficinas registradas em vídeo e disponibilizadas no Youtube de forma gratuita.
Desde a última sexta-feira, 20, a Secult promove o "Preamar da Cultura Popular" com atividades gratuitas na Estação Cultural de Icoaraci e no salão paroquial da igreja matriz do distrito, alusivas ao Dia do Folclore. A programação retorna na quinta-feira, 26, Dia do Carimbó, com feira da economia criativa, roda de conversa e roda de carimbó com a presença de mestres e mestras, no Teatro Estação Gasômetro, com entrada franca e transmissão pelo canal da Secult Pará nmo Youtube.
Mostra São João Teimoso
O presidente da Fundação Cultural de Belém (Fumbel), Michel Pinho, celebra o São João virtual da cidade, mesmo que fora de época, que terá os primeiros vídeos disponibilizados nesta segunda-feira, 23. "É o maior registro em áudio visual de grupos da cultural popular da história de Belém", ressalta. A Mostra Cultural São João Teimoso teve 134 grupos inscritos entre as modalidades de carimbó, quadrilha junina, pássaros juninos e cordões de bichos, toadas, bois-bumbá e parafolclóricos. A maioria, 117, foi contemplada com prêmios de R$ 4 mil cada um, do montante de R$ 490 mil. "Envolvemos quase 2 mil pessoas de todos os bairros, distritos e ilhas", comemora. Os primeiros vídeos a serem disponibilizados serão dos grupos de carimbó, nas redes sociais da Fumbel.
"O primeiro desafio que superamos foi reproduzir (nas telas do celular e do computador) a alegria das festividades culturais (no modo presencial). O segundo, foi o registro para as futuras gerações. A nossa missão institucional é salvaguardar e difundir as manifestações culturais. Os vídeos ficarão disponibilizados para visualização permanente para que professores, pesquisadores e folcloristas entender essas manifestações no futuro", ressalta.
Os vídeos da mostra reúnem as manifestações da cultura popular e também depoimentos dos mestres e mestras. "Estamos agora gravando os grupos de boi-bumbá e vamos gravar em seguida, os de quadrilha", detalha.
Texto e Foto: O Liberal
Edição: Alek Brandão
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