Dia Nacional das Artes traz foco para projetos que aliam arte e educação
Cine Clube TF e Curro Velho valorizam os jovens da periferia de Belém
O Dia Nacional das Artes, que transcorre hoje (12) em todo o país, foi criado em 1931 a partir da lei 6.533, que regulamentou as profissões de Artista e Técnico em Espetáculos de Diversões, além de mais de 100 outras funções que são consideradas trabalho artístico. A lei foi criada, por sua vez, para celebrar a fundação em 12 de agosto de 1816 da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, hoje Escola de Belas-Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a primeira escola de artes do Brasil, criada pelo rei Dom João VI. Além da exaltação às mais diferentes manifestações artísticas, o momento é também de conhecer projetos que aliam arte e educação, tanto por iniciativa da sociedade civil quanto como política pública.
A professora Lília Melo, idealizadora do projeto Cine Clube TF, afirma que a visão de arte que guia os diversos núcleos do “grande guarda-chuva que é o cineclube” tem como eixo principal a valorização das expressões desenvolvidas pelos jovens das periferias. “O olhar que vem de fora da periferia é discriminador, é um olhar que criminaliza. A arte para nós abarca as técnicas periféricas que nascem da realidade, mas que não são menos importantes, inclusive agora muitas das manifestações estão sendo estudadas. Se nós não temos a claquete do cinema tradicional, nós utilizamos a sandália. O que nós queremos é incentivar e dar visibilidade aos jovens das periferias”, explica.
Professora das disciplinas Língua Portuguesa e Redação na Escola Brigadeiro Fontenelle, no bairro da Terra Firme, popularmente conhecido como TF, Lilia Melo teve a ideia do projeto em meados de 2015, após parentes e vizinhos de seus alunos serem vitimados em chacina no bairro. A partir do intuito de enfrentar a disseminação de notícias negativas sobre os moradores do local, e ao mesmo tempo fomentar as manifestações artísticas que já ocorriam no bairro, dando protagonismo aos jovens, o projeto começou e cresceu. “Atualmente, estamos divididos em cinco grupos de trabalho (GTs), que abarcam as linguagens arte visual, música, poesia, dança e teatro. Cada GT (Periferart, Perifsons, Poame, Cine Dance e Perifa Incena) possui suas atividades, seus projetos e sua página nas redes sociais”, informa a educadora.
Com o início da pandemia, em março de 2020, o coletivo passou por diversas fases, do isolamento obrigatório ao aprendizado para lidar com as tecnologias digitais de comunicação e poder continuar com as atividades. “Logo no início da pandemia houve um movimento de dispersão, que foi imposto por conta das medidas de prevenção e do isolamento. Mas depois tivemos que começar a arregaçar as mangas, a maioria dos pais dos nossos jovens, cerca de 90%, eram trabalhadores de feiras livres. Muita gente começou a sofrer com a fome, perdemos muita gente. Então fizemos uma campanha para divulgar as medidas de prevenção em uma linguagem acessível, de forma mais bem humorada. Assim criamos a campanha ‘Não te faz de lesa’, que cumpriu esse papel”, destaca.
O passo seguinte, segundo Lilia Melo, foi aproveitar o lançamento de editais públicos para aprender a desenvolver projetos e submetê-los aos concursos. Três projetos foram aprovados pelo coletivo desde o início da pandemia. Em julho, foi lançada uma galeria a céu aberto, desenvolvida pelo coletivo Periferart. “Desenvolvemos grafites de desenhos de pessoas significativas para o bairro da Terra Firme, dentre elas o padre Bruno Sechi (criador do movimento República de Emaús, falecido em 2020)”, descreve a professora. Estão em processo de produção dois vídeo documentários, que devem ser finalizados ainda neste ano.
Curro Velho
O Núcleo de Oficinas da Fundação Curro Velho, do Governo do Pará, um núcleo de formação e qualificação em educação não formal que existe desde 1991, é também um espaço que alia linguagens artísticas e educação. De acordo com o coordenador Andrei Miralha, as oficinas presenciais devem retornar a partir de setembro, observando a situação da pandemia no estado, mas a modalidade virtual, que ganhou força durante a pandemia, deve permanecer. “No início da pandemia, o Curro Velho fechou as portas para o atendimento presencial, como muitas instituições naquele momento. Foi então que surgiu a necessidade de reinventarmos nosso atendimento de forma online. Tivemos que assumir todas as limitações que teríamos no alcance dessas ações principalmente para aquele público de baixa renda e oriundo de escolas públicas que sempre foram nosso principal público-alvo. Desta forma, oferecemos inicialmente, 30 oficinas virtuais em setembro de 2020, nas linguagens de verbal, artes visuais, audiovisual, cênicas e música, e pra nossa surpresa, foi um grande sucesso de procura. As vagas oferecidas foram rapidamente preenchidas e havia muitos alunos de escolas públicas inscritos”, relata Miralha.
O coordenador afirma que, “de lá para cá”, o número de oficinas foi ampliado para 50 e chegaram a ser inscritas 1200 pessoas em um módulo de oficinas virtuais. “O desafio atual é retornar gradualmente com as oficinas presenciais a partir de setembro, observando a situação da pandemia no estado. Acreditamos que as oficinas virtuais vieram pra ficar, pretendemos continuar oferecendo ações nesse formato e por essas plataformas, porém em menor número”, anuncia.
Andrei Miralha afirma que arte e educação precisam caminhar juntas em um diálogo constante, pois entende que somente através de ambas é possível contribuir para mudanças na sociedade. “Posso afirmar que a maior parte de nosso público é de jovens, principalmente na faixa dos 12 aos 25 anos de idade, apesar de atendermos públicos bastante diversos em diferentes aspectos. O atendimento infantil é muito maior na comunidade do entorno do Curro Velho, oriundo da Vila da Barca. Esse público chamamos carinhosamente como As Crias do Curro, que é atendido pela coordenação de iniciação artística, que faz um belo trabalho desde os primeiros anos da instituição organizando o Carnaval das Crias e os Autos Juninos e de Natal com ensaios geralmente aos sábados com as crianças. Recentemente, no final de julho, retornamos às atividades presenciais, com a programação chamada Barca das Crias”, completa.
Texto e Foto: O Liberal
Edição: Alek Brandão
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