'Formação de leitores é um ato de resistência', declara escritor paraense
Escritores paraenses se unem para formar leitores e cidadãos críticos
Os escritores independentes tomam para si a missão de ajudar na formação de novos leitores para o mundo. Os autores paraenses dedicam-se a formar leitores e cidadãos mais críticos para o futuro. Nas comemorações pelo Dia Nacional dos Escritores, que celebra-se neste domingo (25), os escritores paraenses refletem sobre essa tarefa árdua.
O jovem Tiago Júlio, de 30 anos, que lançou dois livros bancando os custos de edição das obras, dedica-se a atividades como oficinas e ações nas redes sociais para divulgar poesias e fazer a literatura chegar a mais pessoas.
“Eu continuo a escrever porque não consigo ficar sem escrever, escrevo com mais naturalidade do que falo, por parte do meu ofício como jornalista. Em um país com tão poucos leitores não dá para viver da literatura, a formação de novos leitores é um ato de resistência mesmo”, destaca Júlio.
O jovem lançou o livro autobiográfico “Cabeça Bipolar” (2016) e “Outubro” (2020). “Quase todo escritor brasileiro trilha esse caminho. O acesso às grandes editoras é muito restrito e complicado”, afirma. Os paraenses têm maior dificuldade por estarem fora do eixo sul/sudeste que concentra a maior parte do investimento em literatura. “Dificulta para a gente se manter de forma primária de literatura, muita gente é escritor, mas vive de outra atividade, eu sou jornalista e escritor, outros são professores, e a literatura passa a ser uma renda complementar. O retorno financeiro é muito pouco, são pouquíssimos os escritores que conseguem viver somente da escrita”, explica.
Shaira Mana Josy faz questão de ressaltar seu lugar como mulher negra periférica. Pedagoga por formação, ela tenta alcançar um público cada vez maior seja pelo rap ou pela literatura em livros de poesia. A autora de dois livros "Poeusia" (2018), e o “Poesia que protege para ler, brincar e alertar” (2019) reflete o quanto a literatura precisa se aproximar mais da realidade da maioria dos brasileiros que vivem nas periferias.
“Eu como pedagoga trabalho muito os cânones literários, que são totalmente distantes da realidade do leitor, e isso torna a leitura chata. Quando você pega um autor periférico local é quase uma conversa com aquela pessoa, é um abraço com o leitor que está próximo dele”, compara.
Ela também reforça a necessidade do poder público incentivar e investir pesadamente em literatura. “A gente precisa do apoio de políticas públicas dentro do município para que possa tornar a leitura democrática, o incentivo às bibliotecas comunitárias, a esses autores que estão começando, para quem trabalha com a escrita”, enfatiza.
“O poder público precisa ter esse olhar para a importância da leitura. Nesse ano estamos sendo atacados diretamente, atacam a educação com a taxação do livro. Isso vai fazer com que fique mais inacessível o livro para o nosso público”, reforça.
O compositor e autor Renato Gusmão, que lançará no próximo mês o quinto livro “Itinerário”, desde criança busca inspiração para a arte em grandes artistas e poetas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Torquato Neto. A música foi a porta de entrada para a literatura. “Eu sou letrista, tenho muitas músicas em parcerias e um tanto já foram gravadas. Os poemas que nunca foram musicados deram ideias para edições de livros, daí passei a compor outra vertente para meu trabalho e conduzo as duas linhas artísticas com muito amor”, revela.
Uma forma que ele encontrou de levar a poesia para mais pessoas foi o Sarau Encharcado de Poesia, uma live que Renato realiza toda segunda-feira, às 18h30 no seu perfil do Facebook, local onde lançará seu próximo livro. Renato resume ser escritor como “saber dizer sim. Saber entrar e saber sair. É aprender a receber os nãos e seguir em frente sem desestimular. Os percalços são enormes, imensuráveis, porém, escrever é prazeroso”.
Edição: Alek Brandão
Texto e Fotos: O Liberal
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