Exposição de Miguel Chikaoka revive o teatro paraense dos Anos 80 e 90
Imagens inéditas mostram como se dava o processo cênico, desde o palco aos bastidores, e relembra atores da época, como Zélia Amador de Deus, Nilza Maria, Oscar Reis e Luís Otávio Barata.
Um passeio pelo palco, bastidores, coxias e camarins do teatro paraense nas décadas de 80 e 90 é o mote da exposição virtual “O Teatro Paraense 80/90: Fotografias de Miguel Chikaoka”, da Kamara Kó Galeria, que se inicia nesta sexta-feira, 11, com acesso pelo site www.kamarakogaleria.com.br. A programação conta com duas oficinas e uma live do artista com os curadores convidados no próximo dia 19, às 19 horas, no canal da galeria no Youtube.
A mostra reúne 50 imagens inéditas em preto e branco que apresentam o olhar do fotógrafo e educador Miguel Chikaoka sobre o teatro, no período em que ele se mudou para o Pará. As fotografias foram selecionadas dentre o extenso acervo dele, que foi digitalizado e está disponível para consulta pública.
“A exposição consiste nesse plano geral da cena teatral desde os ensaios, os encontros, debates, ações públicas e o teatro em cena, a leitura dramática do texto... é um leque bastante amplo que mostra o processo do fazer teatral”, descreve.
Chikaoka se apaixonou pelo teatro ainda na infância e chegou a fotografar movimentos de teatro na França, no final dos Anos 70. “Eu tive sempre essa atração pelos movimentos e pelas artes, de certa maneira foi natural começar a fotografar teatro (ao chegar em Belém), mas sem propósito definido, a não ser formar um banco de imagens (...) Eu acompanhei vários grupos que atuavam na época, não todos, mas a maioria com certeza (...) Foi um dos períodos de ouro do teatro paraense, que estava bastante movimentado”, recorda.
O mergulho na história do teatro paraense contou com a curadoria do próprio Chikaoka e também do ator Cláudio Barros e das atrizes e professoras Wlad Lima e Valéria Frota Andrade. “O recorte (feito pelos convidados à curadoria) equilibrou o aspecto mais documental e histórico em detrimento de um valor estético, da imagem em si por ela mesma. É uma escolha de uma leitura de conjunto”, define.
Recordações
No período retratado por Miguel Chikaoka, trupes de atores movimentavam espaços públicos como o Anfiteatro da Praça da República, o Teatro Experimental Waldemar Henrique, o Theatro da Paz e até o turístico Bar do Parque. A fotografia cênica documental foi feita em preto e branco nas câmeras e filmes analógicos de Chikaoka, que na época era o mais usual à prática da fotografia profissional.
"Um projeto de qualidade física e documental da arquitetura cênica paraense. É valorizar a diversidade da captura desse momento histórico da cena em um cenário político divergente à expressão da linguagem”, opina Wlad Lima.
Entre as cenas registradas pelas lentes dele, está a Crucificação com os atores Henrique da Paz, Ailson Braga e Zélia Amador de Deus, que se entregavam a novas experimentações estéticas na peça “Theastai Theatron”, do grupo Cena Aberta, em 1983, no Teatro Waldemar Henrique. Na época, o espetáculo foi considerado uma afronta aos dogmas religiosos. A direção era de Zélia e a cenografia e dramaturgia, de Luís Otávio Barata.
As fotografias de Chikaoka rememoram que as interações do público com os atores era prática comum e determinante para a duração da peça teatral. Com isso, um espetáculo com previsão inicial de 30 minutos poderia se estender para mais de duas horas. “Era uma época de produção e pesquisa constante, que deixaram como legado a formação e ações educativas”, revela o ator Claudio Barros.
Nessa proximidade com os palcos e o público, Chikaoka documentou o percurso de atores, inclusive, de alguns que não estão mais na cena, como Nilsa Maria Mendonça, Oscar Reis e Luís Otávio Barata. “É importante conhecer de onde veio esse movimento, e esse modo de fazer que tem raízes no teatro de pesquisa semeado na década de 80”, afirma Valéria.
Oficinas
Miguel Chikaoka também realizará as oficinas virtuais “Fotografia Ágil x Memória Volátil”, marcada para ocorrer de 14 a 16 deste mês, e “Fotografia de Palco”, de 17 a 21 de junho. Ambas estão com as inscrições encerradas. A procura foi grande, especialmente por alunos de escolas públicas, público prioritário da iniciativa, que o artista teve que abrir mais uma turma de cada oficina para atender aos já inscritos. As aulas das oficinas extras acontecerão nas semanas seguintes às já anunciadas.
A exposição foi contemplada pelo Edital de Multilinguagens da lei Aldir Blanc, por meio da Secretaria de Estado de Cultura do Estado do Pará (Secult). O evento também faz parte da programação do projeto Circular Campina Cidade-Velha, que acontecerá no domingo, 13.
Edição: Alek Brandão
Fonte: O Liberal (texto e imagens)
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