Documentário 'Iracema e o Brinquedo de Voar' inicia gravações em Belém
Produção aborda a trajetória da família Oliveira e seu Pássaro Tucano
Iniciaram nesta semana as filmagens de “Iracema e o Brinquedo de Voar”, do jornalista e documentarista Felipe Cortez. É mais um projeto realizado com apoio da Lei Aldir Blanc, por meio do Edital Multilinguagens da Secretaria de Cultura do Pará (Secult).
O documentário, de 26 minutos, aborda a relação visceral de Iracema Oliveira, artista e guardiã da cultura popular, com o Pássaro Junino Tucano, expressão teatral típica da quadra junina de Belém. As externas vão até o final deste mês e o lançamento está previsto para o início de setembro.
No filme, Iracema Oliveira faz um balanço da sua vida e reflete sobre a sua relação com o Pássaro Junino, o contato com a cultura popular na infância, a morte da mãe e a entrada no colégio de freiras, entre tantas outras lembranças, bem como a importância do pai e artista popular Francisco Oliveira, autor de peças de Pássaros.
A partir de uma abordagem poética e potente, além da voz de Iracema e de depoimentos de personalidades da cultura paraense, o filme será atravessado por cenas em espaços simbólicos, imagens de arquivo que recuperam a história do Pássaro Tucano; performances musicais e bastidores da construção do espetáculo virtual do Pássaro Tucano no cenário de pandemia.
Neste final de semana, entre outras locações, a equipe esteve nas ruínas do Teatro São Cristóvão, onde foram realizadas intervenções poéticas, com Iracema e os integrantes do Pássaro Tucano. O lugar é referência na apresentação de grupos de pássaros nas décadas de 1950 a 70.
A atriz de rádio novelas, radialista, cantora, Iracema Oliveira disse que se preparou emocionalmente para fazer essas filmagens e que ao subir os degraus que ainda existem nas ruínas do teatro, ela se viu criança adentrando no palco com o pai Francisco Oliveira, autor de peças de Pássaros, que logo percebeu a vocação da filha e a incentivou.
“Acho que se eu não tivesse me preparado emocionalmente eu teria tombado, eu sabia o que eu ia ver e o que poderia me trazer à memória. De repente subindo aquelas escadas eu me vi criança de sete anos me apresentando no palco. E fiquei impressionada, o piso está inteiro lá, os arcos, ainda há muita memória, eu gostaria muito que pudesse ser recuperado”, diz a Guardiã.
Iracema chama atenção para o Pássaro Junino, que é uma peça de teatro e que precisa de espaço para apresentação. “É uma Ópera Cabocla, depende de espaço físico para podermos voar e pousar, não temos isso no nosso município. Temos o Maria Sylvia Nunes, do estado, onde iremos nos apresentar em formato de live no final deste mês, mas precisamos muito de um teatro dedicado a essa cultura”, complementa.
Tradição nasceu na capital paraense e luta para se manter viva
O Pássaro Junino é uma expressão teatral nascida em Belém, a partir do contato de artistas populares com as companhias de ópera europeia vindas a capital paraense, no início dos anos 1900, a nossa Bélle Époque.
“Foi uma manifestação criada aqui. Não há em lugar nenhum do mundo que tenha esse teatro especificamente, é uma forma dramática criada em Belém do Pará, trazendo consigo uma diversidade de outras formas culturais, vindas de outros lugares do Brasil, do interior do Pará e até da Europa, mas que tomou forma aqui e isso exige um carinho e reconhecimento da sociedade”, diz Felipe Cortez, que encontrou-se com Iracema em 2010, quando ainda era estudante de jornalismo e se aproximou do Tucano para realizar um trabalho acadêmico. Desde então, ele vem pesquisando e documentando a manifestação.
Atualmente, o Pássaro Junino passa por um processo de tombamento nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para o reconhecimento nacional desta manifestação como patrimônio cultural imaterial.
“Esse reconhecimento é muito justo, há uma diversidade de grupos, não só em Belém, como nas demais cidades paraenses, o Pássaro Junino e também os Cordões de Bichos, que temos muito na região do Marajó, por exemplo, se tornam verdadeiros empreendimentos criativos das famílias guardiãs, passando essa tradição de geração para geração”, comenta Felipe Cortez.
Além da direção, Felipe também assina o argumento e roteiro do filme. A direção de fotografia é de Guilherme Paes Barreto, da Rec Filmes, e a consultoria da atriz diretora, pesquisadora e dramaturga Ester Sá, autora do ensaio Avoar, que resultou na montagem do espetáculo “Iracema Voa”, de 2010.
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Edição: Alek Brandão
Fonte: O Liberal (texto e imagens)
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