Em meio a crise literária agravada pela pandemia, Livraria Fox de Belém ameaça fechar as portas
O estabelecimento, conhecido como ponto principal de venda das obras de autores paraenses, é centro de campanha que incentiva a compra de livros
A crise literária no Brasil tem mantido uma nuvem carregada sobre editoras e livrarias há alguns anos, e a pandemia parece ter piorado ainda mais o clima. Exemplo recente é o caso da recuperação judicial da Saraiva, uma das maiores redes de livrarias do país, que na última semana não recebeu nenhum interessado no leilão de algumas de suas lojas e e-commerce. E se a crise não pega leve com negócios de abrangência nacional, com os locais o cenário pode ser ainda mais severo. A Livraria Fox, de Belém, vem lidando com os efeitos de tal crise, com a ameaça de fechar as portas num futuro próximo.
A crise literária em questão envolve diferentes fatores, que tornam o terreno cada vez mais insólito às livrarias e editoras. Alguns agravantes do cenário de crise são: a diminuição no número de leitores no país ano após ano, como mostrado pela última edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, que revelou a perda de 4,6 milhões de leitores no Brasil entre 2015 e 2019; a presença de multinacionais do e-commerce no Brasil, como a Amazon, que pratica preços competitivos; e até movimentos políticos recentes, como a tentativa da Receita Federal em acabar com a isenção de impostos sobre livros no Brasil com o Projeto de Lei 3887/20, sob a justificativa de que os mais ricos são os que mais consomem livros no país.
Na tentativa de driblar o cenário atual, uma campanha iniciada por escritores paraenses e amigos da Livraria Fox, movimentou as vendas no local em um momento que pode ter enchido de esperança aqueles que acreditam no poder transformador dos livros.
Uma publicação do autor paraense Edyr Augusto Proença, onde ele avisava sobre o risco de fechamento da Livraria Fox, viralizou na última quarta-feira. Ele estimulava que leitores voltassem a frequentar o estabelecimento, comprando livros no local para ajudar o negócio.
“Eu e uns amigos percebemos que a Fox estava em dificuldade. O Tito Barata me ligou dizendo que precisávamos fazer alguma coisa e eu decidi fazer uma postagem. Acho que o título no fim das contas foi o que provocou todo mundo: ‘Abra um livro para a Fox não fechar’. As pessoas dizem: ‘como vai fechar a Fox?’. E você acaba capturando todo o carinho e todo o amor que as pessoas têm por essa livraria”, conta Edyr.
O autor de “BelHell” e “Pssica” destaca ainda o papel crucial da livraria Fox para a literatura paraense, por ser conhecida como ponto principal de venda das obras de autores do estado. “Tenho lançamentos nacionais e com muita sorte meus livros também estão à venda na França, mas aqui em Belém, se você for nas grandes livrarias de cadeia, elas não tem meu livro, e você só vai encontrar na Fox. Não só meu, mas de todos os outros escritores aqui do Pará”, conta.
Deborah Miranda, sócia-proprietária da Livraria Fox, confessa ter ficado de coração cheio com o resultado da campanha; mas revela que ainda é difícil lidar com as incertezas do setor de livros no Brasil. Ela relembra que a crise começou em 2014, e depois de acompanhar o fechamento de muitas editoras, fica difícil ter esperanças para o futuro do negócio. Mas a energia para continuar está nos clientes fiéis.
“A Fox hoje não é uma coisa minha, do Marcos e do Zé, os três sócios. Ela é das pessoas, eu sei a relação que alguns clientes têm com a loja, de segunda casa, de vir todo dia ler, tomar um café. Estabeleceu uma relação de afeto, você de repente vê a possibilidade de tirar uma coisa tão preciosa para tanta gente. Independente do comércio que existe, é a relação afetiva que a Fox tem com tanta gente”, diz Deborah.
A Livraria Fox fica localizada na Tv. Dr. Moraes, 584, bairro de Nazaré. O estabelecimento funciona de segunda a sábado, das 9h às 20h; e aos domingos, das 9h às 13h.
Edição: Alek Brandão
Fonte: O Liberal (texto e imagem).
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