Exposição "Ventos do Norte" valoriza gambiarras e histórias

 A exposição será aberta nesta sexta-feira (19), no Espaço Cultural Candeeiro, onde o público poderá “visitá-la” gratuitamente sem sair de casa

Divulgação

Pensar nas gambiarras como forma de sobrevivência levou o artista visual Maurício Igor à exposição “Ventos do Norte”, onde expõe ventiladores e narrativas importantes para o entendimento do cotidiano na Amazônia. A exposição será aberta nesta sexta-feira (19), no Espaço Cultural Candeeiro, onde o público poderá “visitá-la” gratuitamente sem sair de casa por meio do site . A exposição ficará até 19 de maio.

Mauricio Igor conta que o trabalho começa quando tem o próprio ventilador quebrado. Com a falta de dinheiro, ele e o primo, por meio de uma gambiarra, conseguiram recuperar o objeto com o uso de um pincel e de fios. “O meu cachorro derrubou o ventilador e quebrou. Eu não tinha como comprar outro e nem podia ficar sem ele, pois no meu quarto não tem janela”, disse o artista.

Diante disso, com a ajuda do primo, começaram a se virar e conseguiram recuperar o objeto. “Nós usamos uns fios e um pincel e no final deu tudo certo”, destacou o artista.

A experiência levou o artista a reflexão sobre a importância da gambiara e como meio de sobrevivência. “Comecei a pensar quantas pessoas passam por isso e conseguem resolver questões importantes”, pontuou. A partir disso, o artista deu início ao trabalho com a distribuição de cartazes por bairros da cidade como Terra-Firme, Guamá, Marco, São Brás e entre outros com o seguinte anuncio: “Compra-se ventiladores com gambiarras e suas histórias”.

A partir do momento que as pessoas foram entrando em contato com o artista ele foi selecionando as histórias e efetuando as compras. Cada ventilador foi comprado pelo valor de R$ 300,00, valor arrecadado por meio do edital Aldir Blanc, que financiou o projeto.

“Eu não comprei apenas um ventilador, comprei histórias e a ideia do projeto é de valorizar narrativas vivenciadas na Amazônia. O objetivo é promover reflexões e críticas de como a nossa região não é valorizada, é explorada e ainda conta com poucos recursos federais”, explica o artista.

Maurício pretende mostrar o quanto pequenos hábitos e práticas possibilitam a observação e compreensão da população amazônica, em especial dos paraenses, destacando modos de experiência, adaptação e criatividade.

Por ser inovadora e se aproximar do cotidiano da população, a ideia da obra viralizou nas redes sociais e também chamou atenção de pessoas envolvidas indiretamente com sua constituição. “Após efetuar a compra de ‘Glauber’, recebi uma mensagem do motorista do Uber que o trouxe dizendo que viu o anúncio colado na parede e que tinha ventiladores como eu procurava, também comentava que um amigo tinha muitos desse. Foram relações construídas de forma orgânica, tal qual os consertos para manter a sobrevivência na região”, destaca Maurício.

O vídeo vai mostrar imagens dos aparelhos acompanhado de suas histórias.

O ARTISTA

Mauricio Igor é graduado em Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará. Em 2019, foi contemplado com bolsa do Programa Santander de Bolsas Ibero Americanas para estudos de um semestre na Faculdade de Belas Artes na Universidade do Porto, em Portugal.

PROGRAMAÇÃO

O projeto “Ventos do Norte” foi selecionado no Edital de Pesquisa e Experimentação da Aldir Blanc Pará, em Artes Visuais, promovido pela Associação Fotoativa. Durante a programação, estão previstas também outras atividades, como uma mediação virtual, que ocorrerá dia 26 de março; uma oficina de lambe em 16 de abril e, encerrando a exposição, o “Café com artista”, no dia 19 de maio.




Edição: Alek Brandão
Fonte: O Liberal (texto e imagem).

Um comentário: