Pureza: filme rodado no Pará pode ser indicado ao Oscar

 



"Pureza”, longa-metragem estrelado por Dira Paes e rodado em parte no Pará, com participação de técnicos e atores paraenses, está entrando na disputa pela indicação à vaga brasileira no Oscar, na categoria de Melhor Filme Internacional.

A informação foi divulgada pela distribuidora Downtown Filmes, ao disponibilizar o trailer do filme no YouTube e anunciar a estreia em sala comercial em dezembro, cumprindo um dos requisitos para a premiação.

Já premiada em diversos festivais, a história de Pureza Lopes Loyola, interpretada pela paraense Dira, tem sido descrita como “arrebatadora”.

Ontem (12) mesmo, o filme conquistou seu oitavo prêmio internacional, uma “Menção Honrosa” no Workers Unite Film Festival, em Nova York. Antes, foi exibido, premiado e homenageado em importantes festivais, como o 22º Reencontres du Cinema Sud-Américain, em Marseille, na França, onde arrebatou o “Grande Prêmio do Público” e outra “Menção Honrosa”.

A paraense Dira Paes recebeu o prêmio de “Melhor Atriz” no 12th Seattle Latino Film Festival e no Inffinito Film Festival de Miami e Nova York. Este último, ainda concedeu a Felipe Reinheimer o prêmio de “Melhor Direção de Fotografia”.

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E basta assistir ao trailer para entender como a história dessa mulher nortista, uma personagem da vida real, pode conquistar público e jurados da mais famosa premiação cinematográfica. “Pureza” conta a jornada de uma mãe em busca de seu filho, desaparecido ao partir para o garimpo na Amazônia. Ela se emprega como cozinheira de uma fazenda para tentar conseguir informações sobre o paradeiro dele e acaba testemunhando o tratamento brutal de trabalhadores e o desmatamento da floresta.


A importância do que foi registrado por ela nessa trajetória a tornou símbolo da luta contra o trabalho escravo no Brasil e rendeu ao menos uma honraria, o Prêmio Antiescravidão, oferecido pela organização não-governamental britânica Anti-Slavery International.

O diretor do filme, Renato Barbieri, considera que o mundo e os Estados Unidos estão muito sensíveis a questões sociais e em especial ligadas à Amazônia. “Biden se elegeu sob uma bandeira ambiental”, ele lembra, citando o novo presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden. Para ele, “Pureza” pode ter boas chances ao Oscar.

BRASILEIRO MAIS PREMIADO DE 2020

‘Pureza’ passa pelo trabalho escravo, que é um problema mundial e também na Amazônia”, ressalta o cineasta. Somente no ano passado, segundo o Radar da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) do Ministério da Economia, mais de mil pessoas foram resgatadas em situações análogas à escravidão no país. No longa-metragem, essa realidade é denunciada por meio da atuação de um elenco que já vem sendo elogiado nos festivais por onde passou, com Flávio Bauraqui, Matheus Abreu, Mariana Nunes, Claudio Barros e Sérgio Sartório. “Ele já é o filme brasileiro mais premiado de 2020”, aponta Barbieri. 

O filme, realizado pelas produtoras Gaya Filmes e Ligocki Entretenimento, foi quase totalmente gravado na cidade de Marabá, sudeste paraense, em 2018. E contou com apoio de vários profissionais da região, incluindo muitos atores paraenses no elenco. Na época, Barbieri destacou a vocação da cidade para o cinema, com sua “arquitetura diversa”, em que cada bairro ou área acabou servindo como cenário para retratar várias cidades por onde Pureza passou: desde Bacabal até Imperatriz, no Maranhão, assim como Açailândia, Altamira e Rondon do Pará. 

A carreira do filme nos festivais nacionais e internacionais também continua. “Pureza” ainda passará pelo 27º Festival de Cinema de Vitória, dias 24 e 29 de novembro; pelo 10th Utopia - UK Portuguese Film Festival, em Londres, dia 27 de novembro; pelo 42º Festival del Nuevo Cine Latinoamericano de La Habana, de 3 a 13 de dezembro; e pelo 25th International Film Festival os Guadeloupe, entre 23 e 30 de janeiro de 2021. Enfim, muitas chances de chamar ainda mais atenção da Comissão de Seleção para o Oscar no Brasil. 

Dira Paes já ganhou prêmios de Melhor Atriz pelo filme
Dira Paes já ganhou prêmios de Melhor Atriz pelo filme Reprodução

 

SELEÇÃO 

São os membros da Comissão de Seleção, organizada pela Academia Brasileira de Cinema, que indicam o filme que irá concorrer a uma vaga entre os cinco indicados ao prêmio de Melhor Longa-Metragem Internacional no Oscar 2021, a 93ª edição do prêmio. Fazem parte da comissão deste ano profissionais como a diretora Laís Bodanzky (“Como Nossos Pais”), o diretor de fotografia Affonso Beato (“Tudo Sobre Minha Mãe”) e o produtor Rodrigo Teixeira (“A Vida Invisível”). 

Este ano, a Academia Brasileira de Cinema foi reconhecida oficialmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood como única entidade responsável pela seleção. Atualmente, cerca de 50 brasileiros são membros da Academia americana. Ainda não há data para divulgar qual o filme escolhido, mas o regulamento do Oscar exige que a inscrição seja enviada à Academia de Hollywoodaté 1º de dezembro. 

A cerimônia de premiação, inclusive, foi adiada para 25 de abril, em decorrência da pandemia da Covid-19. Também por este motivo, houve a extensão do prazo para o lançamento comercial dos filmes inscritos, indo de 1º de outubro de 2019 a 31 de dezembro de 2020. O diretor de “Pureza” conta que já está marcada a estreia do filme em algumas salas comerciais para o dia 3 de dezembro. “Estamos tentando levar o filme para Belém também, mas ainda não está confirmado”, declarou. 

JEJUM 

O Brasil não concorre à categoria “Melhor Filme Internacional” (antes chamada de “Melhor Filme em Língua Estrangeira”) desde 1999, quando “Central do Brasil” foi indicado e Fernanda Montenegro também concorreu como “Melhor Atriz”. Desde então, produções brasileiras conseguiram indicações a outras estatuetas, como “Democracia em Vertigem”, que esteve entre os indicados a “Melhor Documentário” este ano; “O Menino e o Mundo”, indicado a “Melhor Longa de Animação” em 2016; e “Cidade de Deus”, indicado para “Melhor Direção”, “Melhor Roteiro Adaptado”, “Melhor Montagem” e “Melhor Fotografia” em 2014. “Bacurau” pode repetir o feito com indicações fora da categoria “Melhor Filme Internacional”, já que foi lançado comercialmente nos Estados Unidos em março.



Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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