No Dia Nacional do Samba, artistas falam sobre dificuldades durante a pandemia de covid-19


 


“Quem não gosta de samba bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé”, já cantava Dorival Caymmi. Nesta quarta-feira, 2, se comemora o Dia Nacional do Samba, ritmo marcado pela alegria e solidariedade que se confirmaram nas lives de roda de samba realizadas durante a pandemia pela Covid-19, este ano.

A crise que afetou profundamente o setor musical, abateu ainda mais os sambistas, que fecharam barracões de escolas e ainda não voltaram aos palcos de casas noturnas. Em Belém, a Acadêmicos do Samba da Pedreira decidiu encerrar as atividades.

“Eu fiquei seis meses sem cantar. Fui aprender a fazer máscaras para pôr comida na mesa”, relata a cantora paraense Mariza Black, que, aos 17 anos de carreira, mantinha uma agenda cheia de shows em Belém. “Mesmo com a reabertura dos bares, não conseguimos voltar ainda porque os decretos estadual e municipal limitar cinco artistas no palco, quando o samba exige mais instrumentistas: cantor, violão cavaquinho, percussão”, explica.

As lives ainda têm sido o forte da artista, que, nesta quarta-feira, 2, participa da “Resenha na Sala” somente com mulheres intérpretes oficiais de escolas de samba. A transmissão será a partir das 20 horas, pelo Facebook. Mariza é a única mulher intérprete oficial de escola de samba em Belém. Atualmente, ela é a primeira voz da Piratas da Batucada (Grupo Especial) e da Caprichosos da Cidade Nova (Grupo 3), além do bloco Unidos da Pedreira.

“Voltei a fazer alguns shows há cerca de um mês, mas sem shows fixos em barzinhos como fazia antes. Voltei a trabalhar com restrições porque o vírus ainda está circulando e a gente não pode se expor. Têm colegas que acabam se expondo mais e não têm estrutura para pode esperar a vacina”, conta.

“Normalmente as pessoas que vivem do samba, vivem exclusivamente do samba. A pandemia quebrou as pernas de muita gente”, descreve o cantor e compositor de samba Arthur Espíndola.

“Alguns artistas conseguiram fazer uma reserva (para passar a pandemia) e outros conseguiram arrecadar em live. Mas uma das coisas mais bonitas que eu vi (durante a pandemia) foi que muitos artistas do samba promoveram lives para ajudar os instrumentistas e técnicos que trabalham com samba, como eu, inclusive, e o Bilão. Essa solidariedade que tem no camba é muito bonita, boa de ver”.

Com a pandemia, Arthur suspendeu os shows e adiou projetos, como a gravação da terceira temporada do programa conduzido por ele, Amazônia Samba. “Consegui fazer uma economia. Tenho outros caminhos, como direitos autorais, acessos de internautas nas plataformas, projetos de lei de incentivo e patrocínios”, explica.

Carnaval 2021

A pandemia compromete o carnaval de 2021, afirma Jamil Mousinho, diretor de carnaval da Escola Piratas da Batucada. A primeira medida de prevenção foi o fechamento dos barracões de escola de samba, que costumeiramente são espaços agitados ao longo do ano pela preparação do próximo desfile e também por projetos sociais.

Oswaldo Forte / O LiberalCarnaval em Belém só após a vacinação contra a covid-19 (Oswaldo Forte / O Liberal)

“A pandemia, iniciada logo após o Carnaval 2020, nos levou a tomar medidas de prevenção fechando a sede para eventos. As escolas de samba estão paradas por conta disso, ainda que algumas tenham escolhido o enredo e o samba enredo para o ano que vem”, afirma.

No caso do Piratas da Batucada, foram suspensas as oficinas de percussão que são utilizadas para preparar novos ritmistas para a bateria da escola. Além desse, foram adiados projetos sociais voltados para a prática de atividades físicas de jovens e idosos no espaço do barracão.

“O presidente do Piratas, Sandro Sena, já anunciou que vamos tratar de carnaval somente após ter a vacina. A gente ainda não vislumbra essa possibilidade de fazer carnaval no ano que vem. Se não houver vacina e grande parte da população não estiver imunizada, certamente não haverá desfile”, explica.

Para pagar as contas, a Piratas da Batucada se inscreveu em editais de emergência voltados para a área cultural, como da Lei Federal Aldir Blanc, e Carnaval em Casa, pela Fundação Cultural do Pará (FCP). “Esses valores serão bem vindos para ajudar as escolas, já que não conseguiram se movimentar ao longo do ano”.


Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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