Black excellence: artistas negros do Pará estão entre escolhidos do edital Natura Musical

 



Um total de 43 novos projetos atravessados pela música serão patrocinados pela Natura Musical em 2021, e após uma reformulação na curadoria, a arte produzida na Amazônia ganha grande destaque na lista. O Pará é representado por seis projetos: Nação Ogan, Nic Dias, Sumano MC, o documentário “Mestras do Pará”, e os festivais Mana e Psica.

Com a pauta da representatividade em foco, desta vez a maioris dos selecionados do estado ou são artistas negros, ou projetos que falam de pessoas negras na Amazônia.

A rapper Nic Dias leva para o Natura Musical o “Panthera Preta”, projeto de seu álbum. Ela diz que recebeu a notícia da aprovação da melhor forma possível, depois de um ano cheio de desafios, mas em que começa a engatinhar na carreira que iniciou em 2018.

“Agora sendo uma das artistas Natura Musical, consigo enxergar que isso tem um peso histórico, sobre eu ser uma mulher preta de 21 anos, pobre, filha de mãe solteira, que conseguiu fazer com que o resto do Brasil olhasse para o Norte, para a arte produzida no Norte”, conta Nic.

O disco “Panthera Preta” vai falar sobre a trajetória de Nic, mas também sobre as pessoas que vivem nas periferias da Amazônia Urbana. “Vai falar também sobre meus sonhos, minha visão de mundo, de como enxergo as coisas ou de como deveriam ser. Fazer arte é sonhar, e a gente precisa sonhar”, destaca ela.

Nic também celebra os outros projetos selecionados. “Estão de parabéns, porque a gente tem feito um trabalho excelente, e a gente não espera menos que isso. Isso é resultado do nosso trabalho, de um ano inteiro de muito trabalho, de uma vida inteira de muito esforço e luta, e é gratificante demais”, descreve.

Outro selecionado é Sumano MC, que representa o rap do interior do Pará na lista. Com o desenvolvimento do projeto, ele vai lançar um álbum e um curta-metragem ligado ao trabalho musical.

O rapper é da Vila do Menino Deus, distrito do município paraense de Igarapé-Miri. Ele escreve poesia desde os 12 anos, e entrou para o universo do rap em 2016. Em 2018, passou a fazer parte do cenário belenense do gênero por meio de Nic Dias e Moraes MV.

“Poder ser preto, ribeirinho, camponês, e poder estar entre tantos nomes da arte nacional, eu não sei nem explicar”, descreve Sumano sobre ter recebido a notícia da aprovação no edital. “Sempre fui ansioso em tentar contar minha história, e vejo no rap essa possibilidade de falar de si. Quando cheguei não queria cantar o que não vivia, e acabei abraçando a causa camponesa, então quero desconstruir essa ideia de nortista amazônida”.

Sobre a maioria negra aprovada pelo edital, Sumano comemora. “A gente tá fazendo história, e acho que vamos abrir portas para muitos que virão depois, principalmente eu que estou vindo do interior. Tem gente na minha comunidade que nem sabe que eu canto, e acho que isso vai servir de inspiração”, destaca.

O projeto Nação Ogan também foi selecionado. O grupo busca o reconhecimento e a valorização da pluralidade cultural do Bairro do Guamá, em Belém, com palestras, oficinas de percussão, dança e teatro. Suellen Ferro, fundadora e produtora do grupo diz que receber a notícia foi um misto de felicidade e alívio.

Banda Nação Ogan será uma das atrações do Farinhada Saliente.Banda Nação Ogan é uma das selecionadas do edital (Divulgação)

“Não é somente por ser um edital muito concorrido, mas principalmente porque no Pará a gente não tem apoio para Cultura. Estamos tendo agora na pandemia com os editais da Lei Aldir Blanc, mas fora isso a gente tem que fazer projeto na cara e coragem. Então ter um desses deixa a gente em êxtase, e vai ajudar a realizar algumas coisas que não tinha como antes, como gravar um álbum, videoclipes, e manter o projeto durante um ano”

Com o dinheiro do edital, Nação Ogan vai gravar um EP de 10 faixas, cinco videoclipes, além da realização de 10 oficinas entre percussão, dança e teatro.

Festicais e documentários em rota

O Edital Natura Musical 2020 também pretende movimentar a cena cultural de Belém no ano que vem. Com o patrocínio, o Festival Mana, que realiza sua edição deste ano entre 12 e 19 de dezembro, garante a terceira edição para 2021.

O evento é voltado para o fortalecimento de mulheres no mercado da música, e promove oficinas, shows, debates, mostra audiovisual e intervenção urbana. A cantora Aíla, uma das fundadoras do projeto, diz que a edição de 2021 deve ter formato híbrido, com ações on-line e presenciais.

“Para nós é um festival muito importante, porque tem a ver com o coletivo, não com um sonho só, tem a ver com muitas mulheres. Nasce em Belém, mas tem a intenção de debater esse protagonismo da mulher na música da Amazônia, de maneira geral”, descreve.

Aíla também é responsável por outro projeto aprovado no edital, o documentário “Mestras do Pará”, que deve dirigir junto a artista visual Roberta Carvalho. A produção audiovisual vai tornar visíveis as narrativas e vozes das mestras da música popular paraense.

Outro festival aprovado no edital é a edição 2021 do Festival Psica. Jeft Dias, um dos criadores do evento, conta que para o ano que vem, o Psica segue com o objetivo de promover ações formativas para negros e indígenas dentro da música. Desta vez, o Festival terá a Amazônia futurista como tema norteador.

“Para o ano que vem estamos com uns planos muito malucos. Vamos manter a curadoria do festival, isso não tem como mudar, virou nossa marca mesmo. Já temos alguns nomes em mente, e estamos em contato com alguns artistas. Além disso, como em 2019 falamos de afrofuturismo, agora a gente vai falar de uma Amazônia futurista, de uma cabanagem futurista, isso que vai nortear toda nossa comunicação, nossos passos e tudo”, conta Jeft.

Com a reformulação de sua curadoria, o Edital Natura Musical 2020 também apresenta um resultado inédito: a destinação de parte do recurso do Edital Nacional para a Amazônia. Além dos projetos do Pará, historicamente contemplados, três outras iniciativas serão viabilizadas. TORÜ WIYAEGÜ e Crias de Curupira, do Amazonas, e o Pororoca Sound - Incubadora de Empreendimentos Musicais, que propõe formar e acelerar a carreira de nove artistas amapaenses.

Conheça todos os selecionados do Edital Natura Musical 2020:

NACIONAL

Áurea Martins 

Bia Ferreira

Bixarte

Circuito ARTI: Autonomia, Restituição, Transformação e Inter-Ação

Crias de Curupira

Juçara Marçal

Kunumi MC 

Linn da Quebrada

Mostra Pankararu de Música 

Pororoca Sound - Incubadora de Empreendimentos Musicais

Projeto Acesso

Rico Dalasam 

TORÜ WIYAEGÜ 

BAHIA 

Escola Aguidavi do Jêje

Festival Mugunzá de Rap da Bahia

Mahal Pita

Mestre Aurino de Maracangalha

Mercado Iaô

Nara Couto

Rumpilezzinho

Tertuliana Lustosa

MINAS GERAIS

Casa Poça

Coral

Luiza Brina

Mostra Afro Barreiro Alforriado Matias - MABAM 2021

Mostra Negras Autoras

O Som dos Campos 

Paisagens Sonoras do Cerrado

Pássaro Vivo 

PARÁ

Festival MANA

Festival Psica 2021

Mestras do Pará

Nação Ogan

Nic Dias - Panthera Preta

Sumano MC 

RIO GRANDE DO SUL

Bê Smidt - Viridiana

Circuito Orelhas

Dessa Ferreira

Feijoada Turmalina 

Gravina DasMina

Lanceiros Negros: aceleradora cultural

Pâmela Amaro - Samba às Avessas

Uma Sinfonia Diferente


Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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