Livro resgata história da construção do boulevard de Belém
Professora Márcia Cristina Nunes conta sobre a transformação histórica de uma importante área da cidade
Com seus mais de 400 anos, Belém é uma cidade que já foi referência mundial em termos econômicos, sociais e culturais, onde no período conhecido como belle époque, acompanhava de perto tudo que era tendência na Europa, impulsionada pelas fortunas movidas pelo ciclo da borracha na Amazônia. Toda essa riqueza é vista até hoje, sobretudo, na secular área portuária da cidade, mas pode passar despercebida no meio da intensidade diária de um centro urbano. É para resgatar essa memória que a professora Márcia Cristina Ribeiro Gonçalves Nunes lança nesta terça-feira (17), em meio virtual, o livro "O Boulevard da República: um boulevard-cais na Amazônia".
Arquiteta por formação, a professora Márcia Cristina conta que escolheu estudar uma parte tão específica da cidade para unir sua área primária de atuação com a História, na obtenção de seu título de doutora. "Eu resolvi estudar o boulevard porque, nos anos 1850, Paris passou a ter um novo modelo de cidade moderna, que acontece no mundo inteiro, com a criação dos bulevares. Em Belém, não foi diferente, e seu Boulevard da República - hoje, Castilhos França - foi criado no momento da construção do porto de Belém, entre 1906 a 1914", explica.
Sinônimo de luxo e modernidade urbana, um boulevard é caracterizado pela rua larga para o passeio público, com postes de iluminação, área arborizada e construções com requinte arquitetônico. Em Belém, o estilo europeu passou por adaptações, sobretudo por ter sido construído às margens do rio.
"Ele está localizado da rua 15 de Agosto, que hoje é a avenida Presidente Vargas, até a travessa da Companhia, que hoje é a avenida Portugal. Aqui, não temos a mesma situação geográfica e temos uma realidade totalmente diferente de Paris, então, seguimos o tipo parisiense nos elementos principais com as características da Amazônia, à beira da baía, e é por isso que é um boulevard cais", conta a professora, ao reforçar que o nosso boulevard é diferente por estar intimamente ligado ao porto que movia a cidade.
Mais do que contar a história, para a professora Márcia Cristina, resgatar esses momentos de Belém é importante para compreender o presente, já que o belenense de hoje ainda ocupa aquele espaço, e precisa pensar em soluções para o presente e o futuro da cidade.
“Com o passar do tempo, as cidades vão perdendo as características, e assim como a história familiar, a história da cidade deve ser preservada. Eu acho super importante você ter essa memória, pois ela nos conta sobre o processo de urbanização. Antes, nós vivíamos através do comércio dos barcos e do transporte animal naquela região, e depois, vieram os carros, mas a malha urbana permanece até hoje. Quando você vai pra Cidade Velha de carro, tem dificuldade de colocar um veículo grande naquelas ruas. Isso mostra que nosso tecido urbano foi preservado, mas foi mal cuidado. Então, as pessoas tem que ter esse cuidado, como se fosse a história de sua família, pois se não tiver essa relação, elas não se sentirão responsáveis por sua cidade”, encerra a professora.
Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)
Post a Comment