Escritores seguem produzindo durante período de pandemia
Quando o mundo foi forçado a diminuir o ritmo por conta de um vírus que se alastrou pelo planeta, a venda de livros aumentou em 25% no Brasil, comparado ao mesmo período de 2019, segundo dados do 11º Painel do Varejo de Livros no Brasil de 2020, divulgados neste mês pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). Ainda nesse contexto, os escritores, que são quem produzem esse material literário, também usaram o isolamento imposto para se dedicarem a vários projetos, mostrando que nem mesmo esse período atípico pode deter um espírito criativo.
Um desses artistas foi o escritor Salomão Larêdo, que segue nos preparativos para o lançamento do livro “Pedral, Canal do Inferno”, com previsão de chegar ao público no começo de 2021. O romance ficcional tem como cenário do Pedral do Lourenção, área no sul do Pará utilizada pelas guerrilhas na época da ditadura militar, onde o autor mostra personagens fazendo descobertas e se abismando com os acontecimentos.
“Eu produzi muito nesse período. O 'Pedral' já estava pronto, então, não entrou nessa questão da pandemia, mas eu comecei a produzir o livro “Onze Bandeirinhas”, uma passagem que há no bairro do Guamá, que eu achei interessante trabalhar. Essa é outra ficção, eu estou concluindo agora a parte ficcional e deixando esse período passar para, com a vinda da vacina, eu poder ir atrás de entrevistados, porque ele também tem uma parte documental”, disse o autor cametaense.
Larêdo também avisa que está produzindo um livro sobre o Baixo Tocantins, um “testemunho literário” que já conta com 500 páginas sobre aquela região. A pandemia fez com que ele usasse de outros recursos em sua pesquisa, mas vem coletando material por meio de entrevistas à distância e demais meios de se obter informação, para elaborar uma obra grandiosa, um memorial, sobre sua região de origem.
Mudança de rotina levou autores por novos caminhos
Nessa busca de continuar com a produção literária em um período pandêmico, outro autor que segue escrevendo de forma prolífica é o juiz federal, cronista e poeta, Océlio de Morais. Em setembro, ele publicou dois livros de uma só vez: um de poemas, intitulado “Das coisas da vida” e outro de crônicas denominado “A vida é uma crônica”.
“A ideia da publicação dos livros sempre esteve presente, mas foi bastante estimulada pelo amigo João Carlos Pereira, que sempre me perguntava: ‘Océlio, cadê as tuas crônicas e poesias?’. Eu sempre arranjava uma desculpa. Resolvi mostrar os originais a ele que, de pronto, me disse: ‘deves publicá-los’. Senti-me bastante encorajado pelo olhar clínico do nosso saudoso João Carlos e resolvi publicar as duas obras de uma só vez no período da pandemia do Coronavírus”, explica o magistrado, que além dessas duas obras lançadas em setembro, também publicou agora em novembro o livro “Previdência e Dignidade Humana: A Caminho do Estado Mínimo?”, sua décima-segunda obra individual.
Para Océlio, ler e escrever diariamente compõem seu sentido de vida, não apenas por seu trabalho como magistrado, mas por serem as formas primordiais que ele encontrou para interagir com o mundo as pessoas que o rodeiam. “Minha alma se alimenta desses dois hábitos, que os considero com prazeres existenciais. Procuro observar a pessoa e o seu entorno. Portanto, as crônicas e poemas são frutos dessa observação diária contínua em relação às coisas da natureza e às coisas humanas”, diz o autor, que explica como a pandemia alterou sua produção e sua percepção do mundo.
“O isolamento social forçado pela pandemia também serviu para muitas reflexões e para uma compreensão melhor da dimensão do tempo à vida humana. A vida é uma vela acesa sempre sujeita às intempéries do relógio da vida, controlado pelo grande relógio de Deus. Todo esse contexto estimulou mais a criação porque a condição reflexiva naturalmente nos desafia a fazer alguma coisa útil, não para simplesmente ocupar o tempo, mas para dar mais sentido à própria existência inventiva e criativa em benefício da sociedade”, explica.
Como já citado, João Carlos Pereira, que nos deixou em 10 de novembro, foi outro autor que não conseguiu parar de produzir, até quando foi acometido pela Covid-19, doença que tirou sua vida. O cronista passou a escrever diariamente durante o isolamento social, em uma forma de exercitar sua arte e deixar um registro documental da vida cotidiana em um momento tão atípico. A intenção da família é coletar esses textos e publicá-los em um forma de livro, já que esse era o desejo de João.
“O João produziu muito nessa época de pandemia, fazendo uma crônica por dia, inicialmente. Depois, quando ele chegou às cem, começou a fazer de forma mais espaçada, mas são mais de cem textos produzidas nesse tempo. Agora, estamos esperando passar um pouco mais esse período - pois ainda temos que mexer no computador do João - para separá-las, pois pretendemos fazer um lançamento desse livro. Ele tinha a intenção de publicar esse material, por isso, está tudo organizado”, conta a viúva de João Carlos Pereira, a professora e advogada Emília Farinha, tirando um pouco de beleza de um momento tão difícil para o mundo.
Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)
Boa noite Paulo. Parabéns pela linda homenagem.
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