Qual o sentido e valor de estarmos indignados hoje em dia?
Eu e outros poetas brasileiros, estamos participando do projeto
Indignados, coordenado pela editora Pragmatha, cujas produções serão inseridas em
uma antologia a ser lançada brevemente. Motivados pelos acontecimentos do cotidiano,
cada um de nós se encarregou de transmitir através de textos, nossas indignações.
O respeito a democracia é fator primordial para que nós, cidadãos
comuns, possamos nos indignar quantas vezes acharmos necessário e por essa
razão, Sandra Veroneze, coordenadora do projeto, colheu entre alguns
participantes, opiniões que estão publicadas no site da editora que estou
reproduzindo aqui no blog, conforme segue...
Se cada um reage de forma singular
aos eventos externos, significando o mundo a seu jeito e singularidade, qual o
sentido e o valor de estarmos indignados nos dias atuais? Fizemos esta pergunta
aos coautores da antologia Indignados, da editora Pragmatha. Confira:
Leonardo Andrade – “É fundamental verbalizarmos
o que nos incomoda, o que nos causa indignação. Temos que falar o que não quer
mais calar, precisamos ser os porta vozes da mudança. Está insustentável a
situação no nosso país. São anos a fio de desmandos, hipocrisia, impunidade e
descaso. Mudam as siglas numa infernal sopa de letrinhas, mas o mal perdura.
Chega de omissão, é hora de tomarmos as rédeas e pararmos de nos deixar
enganar. Falar é o começo, mas temos que prosseguir e efetivamos promovermos
uma grande mudança.”
Rosalva Rocha – “A indignação salva, uma vez
que vira combustível para mudanças. Como viver, nestes tempos de dureza, sem
reinventar-se a cada dia?”
Rosa Acassia Luizari – “O valor e o sentido de,
hoje, estarmos indignados significa pensar a reordenação de concepções
institucionalizadas na sociedade. É desnaturalizar a “ideologia da
domesticidade” e o papel daqueles que legitimam as hierarquizações entre os
gêneros e sujeitos de diferentes classes sociais. Convém que estas questões sejam
historicizadas e não naturalizadas. A escrita torna possível a criação de
múltiplos sentidos para o texto lido e apresenta caminhos diversos na
perspectiva de superar visões padronizadas a respeito dos sujeitos que compõem
a sociedade. É a re-criação do real por meio do ato de escrever, mas não uma
recriação sem propósito. Penso e (re)penso a organização social da qual faço
parte por meio da escrita como ato social, histórico e político.”
Tauã Lima Verdan Rangel – “A palavra
indignação, por si só, é detentora de uma polissemia singular, revigorante e
que nos exige a capacidade de não normalizar aquilo que deteriora, deturpa ou
que atenta contra a dignidade de cada pessoa em seu âmbito mais particular.
Indignar-se é não achar que a fome, a pobreza ou a violência são manifestações
simples de uma sociedade caótica. Antes de tudo, indignar-se é a capacidade de
lutar pelos direitos alheios dos emudecidos, invisibilizados, marginalizados
com o mesmo afinco de quem luta por seus próprios direitos.”
Benigna Samselski – “Penso que, se ignorarmos os
descasos, desmandos, o desamor, a desumanidade, a falta de ética, o desrespeito
e tantos outros absurdos que estão acontecendo, viveremos como porcos: na lama.
O valor da indignação está na mudança e só depende de nós.”
Marcus Hemerly – “Quando se pensa, ou sente,
o conceito de indignação, existe uma premissa de um cenário de inquietações
fundado numa injustiça pretérita; um quadro que desdobra uma invectiva gratuita
e indevida ao indivíduo indignado. À obviedade, esse não é um vetor absoluto,
dada sua forte feição de subjetividade, pois ao revoltado sempre será revestida
de lastro a sua insatisfação, real ou ilusória. No entanto, não lhe é tolhido o
direito – e quiçá – dever, de indignar-se. Ao revés, seríamos máquinas, não
humanos”.
Graziela Barduco – “Acredito que vivemos tempos
sombrios, que parecem ficar a cada dia mais sombrios. Quando achamos que já
vimos de tudo e que não há como piorar, absurdamente a situação consegue se
agravar de forma ignóbil. Acredito que sentir-se indignado acabou virando um
estado de espírito inerente ao fazer-se presente e consciente neste momento que
estamos vivenciando. E penso que esta indignação é sinal de que não nos
deixamos amortecer perante as mazelas que nos martelam diariamente”.
Angeli Rose – “Numa época
“líquida”(Bauman) como a que vivemos, em que até as instituições sociais
consideradas mais sólidas foram impactadas pelo capitalismo em suas diversas
facetas, ficar indignado é sinal de que não se perdeu a sensibilidade que nos
faz humanos. Indignar-se hoje é reexistir, dando a ver que uma vida importa em
meio à banalização do mal, da violência, da mediocridade, do individualismo
mais cruel. Indignar-se é preciso!”
Edmilton Torres – “A indignação é o sentimento
que antecede a ação de revolta e de contestação, contra atitudes nocivas ou
situações de injustiça, de exploração, de descaso ou de afronta ao indivíduo ou
à sociedade. Hoje, no Brasil, estamos diante de um cenário de afronta à
sociedade, pelos detentores do poder em todas as suas instâncias. É importante
que demonstremos a nossa indignação, como sinal e prenúncio da nossa
intolerância, principalmente contra a impunidade de agentes corruptos”.
Cílio Lindemberg – “Acredito que o valor e o sentido
de nos sentirmos (e nos mostrarmos) indignados, hoje em dia, são
imprescindíveis para sinalizar nossa insatisfação com relação à atual
conjuntura política, sanitária, social etc. em nosso país. Essa indignação
dividida se configura como uma das formas pelas quais nos expressamos em pedido
de mudanças, mudanças reais e imediatas, que prezem pelo coletivo, de fato.
Mostrar-se indignado, hoje, além de essencial, denuncia o lugar da revolução:
nós mesmos.”
Giovana Schneider – “Tudo ficou mais claro, tudo
o que vivemos é conforme o que nos ditam. A indignação, nos dá força para
tentarmos mudar a situação em que nos encontramos, pode ser apenas um começo,
talvez não dê em nada, mas, já é alguma coisa, pois não podemos ficar calados
diante de tudo, e acreditando em tudo, sem opinar.”
Karin Tallini – “Indignação surge da questão de
como vejo o amor e empatia. O amor vem do amor a si próprio e com o outro, o
respeito que tenho a mim mesma, as minhas ideias e valores, aqueles que cada um
traz dentro de si. A pandemia está fazendo com que esses valores associados às
expectativas que tenho de mim mesma com o meu exterior, isto é, as pessoas que
passam no dia a dia, ao meu redor, seja em caminhadas, passeios, visitas,
encontros, reuniões ou simplesmente, uma conversa, fazem com que eu perceba que
passaremos por essa pandemia e nossa sociedade vai aprender muito pouco com
essa parte da nossa história, pois a pobreza de cada dia está ficando mais
escancarada na pobreza que temos das nossas relações com o próximo.”
Marisa Burigo – “Para mim, significa a conscientização
de que nada somos, de que nada podemos fazer, gritando na multidão, solitário,
por descobrir-se um em mil. Somos apenas mais um na estatística daqueles que se
tornam “os rebeldes”, mesmo que, com sutileza, dizem o que pensam. Nada muda.
Porém, com toda a sutileza (ou não), da poeta que sou, continuarei andando,
escrevendo, até que um dia, mesmo que pós morte, alguém lembre-se do que
escrevi.”
Lin Quintino – “Estar indignado, hoje, é
não poder fazer nada frente ao monstro que nos para, nos mobiliza e nos
controla. Um monstro invisível que tem sobre nós o poder de vida e morte e
ficamos impotentes, assistindo.”
Fernando Matos – “O mundo sucumbiu à
escuridão, buscando valores materiais ao invés da Grande Evolução Espiritual.
Quando a balança desequilibra a humanidade padece.”
Jania Souza – “Estou indignada com o
descaso das políticas públicas voltadas para o homem de baixíssima renda, para
seu sustento e da sua família. Essas ações não conseguem sanar esses graves
problemas sociais de humanidade. Pergunto: por quê? A quem interessa tanta
gente com fome, desempregada, doente, vivendo como bicho irracional? Onde está
o Cristo em nosso coração?”
Laura Souza – “O meu motivo de estar indignada
é saber que está nas mãos do ser humano o cuidado com o que vamos deixar para
as próximas gerações. E mesmo assim a ganância destrói a natureza, e o que
temos de mais precioso; nossas florestas, de onde poderá vir a cura para muitas
pandemias. Também me indigna ainda ter crianças passando fome, mulheres
sofrendo violência. Em um país divido por cores, pregando igualdade racial!”
Paulo Vasconcellos – “Mesmo que eu tenha as palavras
para me reportar sobre a indignação, fiz uma ligeira consulta ao dicionário
para complementar o meu sentimento. Até considero as minhas ponderações, certo
ponto, moderadas, entretanto, as circunstâncias são de que não posso, de forma
alguma, me esquivar e escrever: a repulsa, além de revoltante é causadora de
desabafos que refletem raiva extremamente pura.”
Adriana Barbosa – “Acredito que, historicamente,
buscou-se caminhar para um processo de crescimento nacional no sentido de se
atingir o “melhor”. Porém, juntamente a essa caminhada, percebe-se que se tem
muito a evoluir diante de tantas outras realidades internacionais, espalhadas
pelo mundo num crescimento ascendente. Infelizmente, precisamos de muitas
mudanças no âmbito social, de responsabilidade das grandes esferas de nossa
nação. Somos “formigas” fazendo cada uma sua parte. Precisamos muito mais
comprometimento nas ações, dos órgãos competentes, em todos os sentidos, além
da busca constante de combate à corrupção. Por isso, acredito que hoje, ainda
estamos indignados!”
Mario Antonio Barcelos – “No momento em que o mundo
externo se transforma, percebo que o mundo interior de cada ser humano parece
um tanto complicado, perturbardo. Venho notando que estamos numa dependência
mútua de objetos, que até então eram obsoletos. Todos os ramos profissionais
sofreram relevância mudança de hábitos, de metodologias profissionais, e nós
estamos sendo empurrados à uma nova era. O medo transforma até aquele sujeito
que tem tendências ao mal. Espero que não deixaremos de lado o real sentido dos
valores que nossos ancestrais nos deixaram e que possamos a partir dessa era
utilizá-los como forma de recomeço de uma nova convivência entre todos os povos
que habitam esse espaço.”
Arlindo Almeida Júnior
“Penso que tudo que existe no
momento de sermos nós, a nos indignarmos.
Vem
do valor que estão dando ao caráter: visto que as falcatruas passaram a
Ser
o normal e não o anormal. E a doutrina de muitos é sempre se dar bem,
Não
importando ser é direito, certo ou faz jus, que tem classes que se locupletam,
Com
valores que são do nosso direito e enriquecem com essa política nefasta…
Edição: Wezlen Costa
Fonte e Foto: https://pragmatha.com.br/qual-o-sentido-e-valor-de-estarmos-indignados-hoje-em-dia/
Grata amigo PV por nosso destaque no texto, acredito que aí, também destaca-se uma justa revolta ainda que seja de maneira moderada abrangendo seu comentário como o tal assunto.
ResponderExcluirUm abraço da Poetamiga.
Boa noite Poeta Paulo. Indignação com a cara de pau de certos políticos.
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