Pesquisa mostra que cresce o hábito de leitura entre crianças
'Retratos da Leitura' aponta que aumentou o número de crianças leitoras entre os 5 e 10 anos - a única faixa etária que teve um desempenho melhor em 2019 do que em 20015
Pedro Fortes Costa tem 7 anos e está muito orgulhoso de suas conquistas. Na quarentena, ele começou a ler livros sozinho e tem encarado volumes dos mais variados tamanhos e gêneros. Das tiras de Mafalda e Snoopy a lendas brasileiras e biografias que ele vai listando com sua vozinha: Rasa Parks, Mandela, Obama, Carolina Maria de Jesus. "Ler é divertido como ver TV. Mas gosto mais de ler. Eu amo livros", conta.
Essa história reflete algumas das principais descobertas da 5ª Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, coordenada pelo Instituto Pró-Livro em parceria, pela primeira vez, com o Itaú Cultural e realizada pelo Ibope.
São muitos dados ruins - e o principal é que diminuiu de 56% para 52% o número de leitores no Brasil. A pesquisa entende o leitor como alguém que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos três meses anteriores ao levantamento. Quem não leu deu os seguintes motivos, entre outros menos significativos: falta de tempo (34%), não gosta (28%), não tem paciência (14%), prefere outras atividades (8%), tem dificuldade para ler (6%).
Caiu o número de leitores no geral, mas cresceu o de crianças leitoras entre os 5 e 10 anos - a única faixa etária que teve um desempenho melhor em 2019 do que em 20015 - a Retratos da Leitura é feita a cada quatro anos.
Entre elas, 48% disseram que leem por gosto, porcentagem que vai diminuindo gradativamente e aponta para um dado preocupante. Nas duas pesquisas anteriores, de 2011 e 2015, houve uma manutenção no porcentual de leitores dos 11 aos 17 anos.
Agora, vemos uma queda a partir dos 11 anos, segundo explica Zoara Failla, coordenadora da pesquisa. Ela, porém, é otimista e acredita que o aumento da leitura entre as crianças menores pode ter impacto positivo na faixa seguinte na próxima pesquisa. Isso se não perdermos esses leitores quando eles chegarem ao Fundamental 2.
"Temos que olhar para esses dados bons para buscar respostas sobre onde investir. Se a garotada dos 5 aos 10 gosta de ler e está ampliando o número de leitores nessa faixa, alguma coisa está acontecendo aí. O que é?", questiona Zoara.
Duas respostas: a influência dos pais, sobretudo das mães, e dos professores - dados apontados pela pesquisa. "A família tem uma importância fundamental e está percebendo isso. Quando ela lê para o filho, quando lê na frente das crianças, quando a presenteia com livro, isso faz toda a diferença", diz. Ela continua: "Mas é fácil ler para uma criança. A outra questão é: estamos conseguindo estabelecer uma mediação com os adolescentes? Como compartilhamos as experiências de leituras com eles? O que comprar?".
Somada a isso tem a mudança de dinâmica na escola, um novo currículo, várias disciplinas e não mais um ou dois professores, com quem era possível estabelecer relações de afeto. "O espaço vai ficando menos acolhedor, de menor vínculo. É preciso pensar qual é o ambiente da escola que pode possibilitar o acolhimento para esse leitor em formação. É a biblioteca? Qual leitura pode ser significativa para ele? Do que ele gosta de ler? Conhecer quem é o adolescente que está dentro da minha sala de aula é uma coisa desafiadora, mas fundamental. E é preciso promover o diálogo entre os espaços dentro da escola."
E aqui surge outro problema. Quem é esse professor? Ele é leitor? "Percebemos que o repertório de autores lidos é muito parecido com o do brasileiro em geral. Identificamos maior gosto de leitura entre eles e vemos que ele está lendo mais do que a média, mas o que estão lendo? É religioso e autoajuda. A questão é: como eu vou despertar o interesse de um adolescente para a leitura se meu repertório é pequeno?"
A Retratos da Leitura é a mais abrangente pesquisa sobre o hábito de leitura no País e tem como objetivo servir de base para políticas públicas para a formação de leitores.
Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)
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