Desabafo dos poetas indignados
No site da editora Pragmatha, empresa que tem como titular a jornalista Sandra Veroneze, está publicado o prefácio da antologia “Indignados, uma seleção de poemas em que os autores desabafaram e isso, torna a obra bastante democrática. Estou junto com outros participantes de Capanema na antologia, entre os quais, o poetamigo Wezlen Costa, reproduzo o prefacio da coletânea...
PREFÁCIO
DA OBRA “INDIGNADOS” | EDITORA PRAGMATHA
* Lucas
Becker Delwing, historiador e
escritor
Vivemos
em tempos sombrios, tais como o de Bertolt Brecht, nos quais o medo e a
desesperança fazem com que nossos sonhos sejam eternamente adiados. Como se a
cultura tivesse sido subornada e subordinada, somos constantemente expostos a
estímulos que buscam tolher a nossa imaginação e, como resultado, temos mais
facilidade para pensar o fim do mundo do que o surgimento de um novo. Como foi
que ficamos tão obcecados com curtidas e visualizações ao ponto de não
percebermos que, há muito tempo, estamos sem voz e sem opinião sobre nada?
Mas
não estamos perdidos. A poesia, ao jogar luz sobre as injustiças e opressões
que moldam o nosso dia a dia, já deu todas as demonstrações de ser essa força
contrária que varre do íntimo as formas de conformismo e inércia. Foi assim com
o Modernismo de 1922, que repensou a identidade nacional e, também, com a
Poesia Marginal dos anos 70, que se confrontava com os anos mais duros da
repressão autoritária. Em tempos sombrios, a poesia desempenhou a função de
lembrar a sociedade brasileira de que onde existe injustiça também existe
resistência.
Pois
se é verdade que a tradição do passado comprime os vivos como um pesadelo,
também é verdade que quem faz a história da humanidade somos nós, embora não
nas condições que escolhemos. Para mudar esse cenário, é essencial sermos
indignados. Apesar da conotação negativa, o ódio, como escreveu Carlos Drummond
de Andrade em “A Flor e a Náusea”, é o melhor de nós porque ele nos salva da
absoluta falta de esperança.
Nesta
reunião de poemas, o leitor vai encontrar muitos motivos para se indignar.
Corrupção, autoritarismo, negligência, desigualdade, discriminação são alguns
dos temas abordados de forma singular. São versos lúcidos, apaixonados, que não
têm medo de discutir, marcar posição e levantar bandeiras. São poemas que põem
lenha na fogueira para quem acredita que já basta de versos meigos e murchos. O
momento atual pede antes um “poema sujo” como o de Ferreira Gullar.
Ficar
indignado é abrir a porta da esperança, porque a indignação, ainda que ela se
apresente em tom de pessimismo, sempre nasce da perspectiva de como o mundo
poderia e deveria ser diferente. Contra o peso que assola nossos ombros na
direção do conformismo e da inércia, “Indignados” é um convite para pensar que
um mundo melhor não só é desejável, mas também possível e até mesmo urgente.
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Licenciado
e mestrando em História pela UFRGS. Em 2015, publicou o livro de crônicas
“Mocreia: de onde vêm as palavras?”. Interessa-se pelo estudo das relações humanas
através do tempo e adora falar sobre música, literatura e futebol.
Perfeito!
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