No Dia do Fotógrafo, jovens talentos dão uma nova cara para a arte paraense
Se os rostos e corpos das fotografias que estampavam desde editoriais de moda, até ensaios artísticos que chegavam às galerias, passaram a ser tema de discussão na arte contemporânea; a cor dos olhares por trás destes registros também. Pouca representatividade em uma história da fotografia não é exclusividade paraense; mas uma geração recente de fotógrafas, que cresceu tendo principalmente a internet como vitrine de seu trabalho, tem mudado esse cenário.
No Dia do Fotógrafo, comemorado nesta quarta-feira (8), conhecemos três fotógrafas que tem ganhado espaço com um trabalho representativo, não apenas no sentido de colocar corpos negros na frente das lentes, mas de contar histórias por meio de seus olhares.
Sibely Nunes, 23, iniciou o contato com a fotografia no início da adolescência, com câmeras de familiares e amigos, mas foi no curso de Comunicação Social da UFPA que teve sua primeira câmera profissional, e pôde desenvolver suas habilidades.
No início, suas referências vinham de fotos da família, assim como livros e revistas, sem se importar tanto com a autoria das fotografias. “Só depois de muito tempo, de um entendimento mais recente, pude perceber como o cenário da fotografia é muito masculinizado. O ambiente da foto profissional, onde roda o dinheiro, é uma concentração que está muito aproximada de homens héteros, brancos, classe média. Mas vejo que está tendo uma movimentação de outras narrativas nesse cenário da fotografia, a curtos passos, mas está acontecendo”, avalia Sibely.
Carolynne Matos começou a fotografar com um autorretrato (Carolynne Matos/ Divulgação)
Para Carolynne Matos, 25, o primeiro amor foi o autorretrato, que começou a praticar com uma câmera que ganhou da avó. “Foi um período muito gostoso, porque eu tinha muito estímulo dela para produzir, e comecei a fazer autorretratos em cima de obras de artistas famosos”, relembra.
No início, ela conta que não tinha nomes do estado como referências na fotografia, e atualmente fotógrafos nigerianos a inspiram. “Eles trabalham o corpo preto de uma forma muito poética e tudo muito lindo. Tento trazer todas essas referências para cá, trabalhando uma ideia de afrofuturista amazônida. Aqui no Brasil, principalmente na Amazônia, trago como referência atualmente a Nayara Jinknss e Nazas. Elas são mulheres pretas, lindas, e são minha inspiração quando fala de Amazônia”, conta.
Vitoria Leona, 21, mora atualmente em São Paulo, onde segue fotografando com uma linha mais direcionada à moda. Mas sua trajetória começou por aqui, ainda cedo, aos 12 anos, quando participou de uma oficina na Fotoativa. Ela relembra que ao longo da trajetória, o apoio de pessoas próximas sempre foi o que a motivou continuar na fotografia, até mesmo em momentos difíceis.
A representatividade de pessoas negras também é uma das características que direciona o trabalho de Vitoria. “Eu via essa lacuna de representatividade que tinha, mas hoje em dia vejo que preciso fazer uma cota para pessoas brancas no meu trabalho basicamente”, diz entre risos. “Eu fui real para esse lado, porque estar perto para mim é importante. Eu não gosto tanto de falar nas minhas fotos, mas eu tento falar sem precisar usar palavras”, completa.
A moda é o foco central do trabalho de Vitoria Leona (Vitoria Leona/ Divulgação)
Tanto Sibely quanto Carolynne e Vitoria, representam hoje uma cena que foi construída tendo a representatividade como horizonte, a vontade de se ver no próprio trabalho; ao mesmo tempo em que se tornam importante referência em uma profissão que não teve rostos como os seus no passado.
Carolynne diz acreditar no potencial dessa cena, “porque a galera está querendo produzir, independente de técnica”. “A galera quer produzir arte que incomoda”, diz. Sibely concorda, dizendo que enxerga uma “galera que é competente sim, que consegue realizar seus trabalhos com poucos recursos, e entrega resultados interessantíssimos”.
Apesar de estas histórias estarem sendo contadas cada vez mais, por conta da vontade destas pessoas, Vitoria fala que é triste ver que em Belém, apesar de haver espaço para esses profissionais, falta dinheiro e incentivo.
Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)
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