Abertura de cartas pode jogar luz sobre Eliot


A pós passarem mais de 60 anos trancadas num depósito de biblioteca, cerca de 1 mil cartas escritas pelo poeta T.S. Eliot à sua confidente Emily Hale foram relevadas nesta semana. Estudiosos esperam que elas venham a esclarecer a extensão de um relacionamento sobre o qual se especula há décadas. Muitos consideram Hale não apenas a amiga mais próxima de Eliot, mas também sua musa, e estão na expectativa de que a correspondência traga detalhes mais íntimos da vida e obra do poeta.
Estudantes, pesquisadores e acadêmicos já podem ler as cartas na Biblioteca da Universidade de Princeton. “Este talvez venha a ser o grande acontecimento literário da década”, diz Anthony Cuda, estudioso de Eliot e diretor da T.S. Eliot International Summer School. “Não sei de nada mais esperado ou significativo sobre o poeta. É extremamente importante conhecer o conteúdo dessas cartas.”
Amigos durante grande parte da vida, Hale e Eliot se corresponderam por 25 anos, a partir de 1930. Eles se conheceram em 1912 em Cambridge, Massachusetts. Eliot já vivia na Inglaterra e Hale lecionava em universidades americanas, entre elas a Scripps College, na Califórnia. Em 1956, Hale doou as cartas sob o compromisso dos curadores de que elas não seriam abertas antes de 50 anos depois da morte de um ou de outro. Eliot morreu em 1965; Hale, quatro anos depois.
Segundo biógrafos, Eliot determinou que as cartas de Hale para ele fossem queimadas. O relacionamento entre os dois “deve ter sido incrivelmente importante e as cartas que ele recebeu, de grande intimidade, a ponto de Eliot se preocupar com sua publicação”, diz Cuda.
T.S. Eliot nasceu em St. Louis, Missouri, em 1888 e ganhou fama como poeta ainda jovem. Tinha apenas 26 anos quando teve seu primeiro trabalho profissionalmente publicado, The Love Song of J. Alfred Prufrock. Os Gatos (Old Possum’s Book of Practical Cats), de 1939, foi adaptado para Cats, o premiado musical de Andrew Lloyd Webber. A peça estreou em Londres em 1981 e na Broadway no ano seguinte. Tornou-se depois um longa-metragem, que estreou em dezembro último, com um elenco que tem Judi Dench e James Corden. 
Poema sugere o que teria sido o relacionamento
Os trabalhos mais conhecidos de Eliot incluem The Waste Land, The Hollow Men e Four Quartets. O primeiro poema da série Quartets, Burnt Norton, chama a atenção de entusiastas porque sugere o que teria sido o relacionamento de Eliot com sua musa, diz a estudiosa Frances Dickey. O nome do poema vem de uma casa na Inglaterra que Eliot visitou com Hale em 1934.
“Essa relação parece ter sido mais significativa e profunda e é uma porta que ele preferiu manter fechada”, diz Dickey. As cartas também podem revelar detalhes da conversão de Eliot ao anglicanismo, diz Dickey, e do casamento do poeta com sua primeira mulher, Vivienne Haigh-Wood, com quem viveu mais de 15 anos e do qual se envergonhava.
Dickey pensa que as cartas podem mostrar quão próximos Eliot e Hale eram e se os dois chegaram a pensar em casamento. “Seria este um romance epistolar que eles mantiveram através do Atlântico?”, pergunta a pesquisadora. “Qual era o papel dela na vida emocional de Eliot?”
As cartas de Eliot a Hale começaram após o fim do casamento com Vivienne. Fosse o que fosse, Hale era uma ligação da vida de Eliot com os Estados Unidos, que ele deixara ainda jovem. “Acredito que um relacionamento com uma americana o ajudava a se localizar um pouco melhor em seu passado.” As caixas, que também contêm fotos, recortes e outras recordações, foram abertas na verdade em outubro para catalogação e digitalização.
Daniel Linke fez parte da equipe que trabalhou com as 14 caixas. Ele disse que a edição do material foi mínima, se é que houve alguma. Estudiosos de todo o mundo deverão confluir para Princeton desde os primeiro dias do novo ano para examinar o material in loco, uma vez que as cartas não estarão disponíveis online. “Será o equivalente literário a um grande concerto de rock”, disse Linke

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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