Palhaços mantêm o riso como tradição milenar
A origem dos palhaços é incerta na história. Existem relatos de personagens responsáveis por fazer os outros rirem semelhantes ao palhaço contemporâneo desde 2500 a.C (Antes de Cristo) no Egito antigo. Também são encontradas várias referências na Roma, Grécia, China antigas e em civilizações americanas, como os astecas. Inúmeras vezes esse personagem adquiriu importantes papéis sociais, ao lado de reis ou imperadores. Mesmo com as mudanças promovidas pela tecnologia no século XXI, a tradição do palhaço de rir pelo exagero se mantém viva em Belém com mais de uma centena de pessoas vivendo a profissão. Na semana em que é comemorado o Dia Internacional do Palhaço - dia 10 de dezembro – esses profissionais do riso continuam a levar alegria para as pessoas.
O palhaço é parte do estudo do mestrando Adrielson Acácio Barbosa em "Mapeamento de Saberes de Animadores de Eventos Infantis Atuantes em Belém". O jovem pesquisador paraense do Laboratório sobre Formação e Atuação Profissional em Lazer (Oricolé) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que os palhaços estão intimamente ligados às animações de festa em Belém. Apesar das mudanças nos hábitos e comportamentos infantis, os palhaços buscam se manter antenados e engraçados.
"O que se mantém ao longo dos anos é a empatia. Isso é o principal. Quando ele [palhaço] está ali com a criança precisa ser empático. Para poder se dar bem em qualquer época precisa disso. Na época em que os primeiros palhaços começaram a trabalhar em Belém era mais difícil o acesso à informação, eles reproduziam o que estava sendo feito nos programas de auditórios, o que se produzia comercialmente na mídia e o que os palhaços de circos já faziam. Muito do trabalho era intuitivo, muitos começaram a fazer a animação jogados no fogo. Começaram em alguma festa de escola, de igreja, da família, sem curso de teatro ou treinamento específico", explica.
O início da carreira de um dos mais antigos palhaços em atividade em Belém - o Tio Xantillyn foi assim. Antônio Monteiro, de 62 anos, dá vida ao personagem há 36 anos. Na época sem experiência nenhuma, Antônio se apresentou em um orfanato de Ananindeua no início da década 1980. Ele mesmo admite que a apresentação fez as crianças chorarem e serviu para duas coisas importantes: decidir fazer animação para o resto da vida e se especializar para aprender a fazer os outros rirem. "Essa vontade já vinha do meu ser humano interior, e faltava explodir. A proximidade com o mundo infantil me fez querer ser melhor. No início a roupa eu não tinha, a maquiagem não era bem feita, mas depois as coisas foram se ajeitando. Eu fui percebendo que tinha que ter uma roupa, a maquiagem bem feita e um nome eram importantes. Na prática, fiz muito teatro de rua", conta.
Segundo dados preliminares da pesquisa, compilados pela primeira vez no Estado, existem atualmente 176 animadores em todo Pará, a maioria estão concentrados em Belém (131) e tem o palhaço como personagem principal. A atividade é a fonte de renda principal ou auxiliar das famílias de muitos profissionais. Com o tempo a formalização e incorporação de outros tipos de conhecimentos como marketing, gerenciamento de redes sociais, psicologia e sociologia também se tornou uma obrigatoriedade. Engana-se quem acredita que o palhaço não tem formação escolar. Em Cametá, por exemplo, segundo informações da pesquisa de Acácio, dos cinco animadores da cidade, quatro possuem curso superior.
O SEGREDO DE FAZER SORRIR
“O segredo está na própria arte, em estar bem com o que você faz. Acho que quando você faz algo impulsionado pelo amor acontece, mas quando é impulsionado por outras coisas como só o interesse não dá. A arte tem que ser impulsionada pelo amor”, revela o Tio Xantillyn, Antônio Monteiro, sobre o seu segredo para fazer as pessoas sorrirem.
“Nem toda a tecnologia do mundo tira o lugar do palhaço, essa atividade milenar abre o sorriso”, garante o palhaço Buscapé, interpretado por Márcio Santos, de 50 anos, colega de Xantillyn. O conhecimento teatral e de circo deram capacidade de adaptação a imprevisibilidade necessária do palhaço. “Vai muito do tempo da piada e do local. Tem piada que funciona em um lugar e não funciona em outro”, conta. Outra dica é saber os limites para as brincadeiras. “Tu podes ser o exagerado ali no local, mas não pode fazer com que a outra pessoa se sinta mal. Você tem que saber o limite para que não passe a linha do humor para ofensa e ridicularize a outra pessoa”.
Erikson Freitas, de 48 anos, que integra a Associação Paraense de Palhaços, Animadores e Artistas Circenses (APAC), já ganhou prêmios nacionais em 2016 como ‘melhor show infantil’, e em 2017 como ‘melhor palhaço’ no Encontro Nacional dos Animadores Infantis (ENAI). Para ele, o segredo é esquecer todos os problemas mundanos e incorporar o personagem por completo. No momento em que o Tio Bombom assume o protagonismo o importante é se divertir.
“Às vezes não está dando nada certo na vida da gente. Quando a gente põe a roupa e o nariz de palhaço é o momento que você esquece de tudo. É o momento que temos um alívio, o espírito santo desce para transmitir alegria para as pessoas. Ali não sou eu, a pessoa Erikson, é o personagem. Deixa os teus problemas para o lado de fora. Se eu for mais um a chegar com problemas ninguém vai rir. Ali é o momento de extravasar e fazer os outros brincarem, se eu me divertir todos se divertem comigo”, avalia. “O sorriso é a palma do palhaço. O sorriso é o maior aplauso que a gente pode ter”.
Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)
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