Cores de Luiz Braga conquistam o Brasil
As cores realçadas nas fotografias de um barqueiro ou de uma dona de casa em uma casa de ribeirinho de Belém são indistintamente marcas do fotógrafo paraense Luiz Braga. Pelo conjunto da produção fotográfica e trajetória artística, o paraense de 63 anos, que nunca passou mais de trinta dias longe de Belém, será contemplado hoje, dia 17, com o prêmio Chico Albuquerque de Fotografia na categoria Narrativas Brasileiras, em Fortaleza (CE). Para ele, a honraria é considera é um prêmio para toda a fotografia paraense contemporânea.
“Esse prêmio mostra o que sempre tenho dito. A gente tem aqui a melhor fotografia do Brasil hoje e já há um certo tempo. O que temos aqui é muito valioso. Às vezes, as pessoas se acostumam com tanta qualidade, pensam que é normal ter em uma mesma cidade um Guy Veloso, um Mariano Klautau, um Octávio Cardoso, uma Paula Sampaio, um Miguel Chikaoka. Isso não é normal. A gente tem uma fotografia brilhante aqui. Eu fico muito feliz quando a gente tem uma construção coletiva, acho que a gente está afirmando o valor da nossa fotografia diante do Brasil”, declarou.
O artista paraense começou na fotografia como autodidata aos 11 anos, em uma época em que o acesso ao conhecimento e aos equipamentos eram especialmente difíceis para quem morava no meio da Amazônia. Formado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Pará (UFPA), Luiz colaborou com o jornal ‘O Estado do Pará’, em 1978, e criou o tablóide Zeppelin, no qual exerce as funções de editor e fotógrafo até 1980.
Em 1979, Braga realizou a primeira mostra individual ‘I Portifólio’, com retratos, cenas de rua e de trabalhadores ribeirinhos em preto-e-branco. Três anos depois integrou o projeto ‘Visualidade Popular na Amazônia’, promovido pela Fundação Nacional de Arte (Funarte), em 1982. Com base nessa experiência, as suas obras tornam-se predominantemente coloridas e passam a enfocar a cultura visual, a população e a paisagem amazônica.
“O meu foco é falar cada vez mais para dentro, falar do mesmo lugar que falo há 40 anos de uma forma diferente. No fundo é uma fotografia humanista que celebra o modo de viver dos amazônicas. Nós somos diferentes e eu celebro a diferença no meu trabalho, eu celebro como um grande valor. Isso está no meu trabalho lá atrás e continua até hoje”, assegura.
Ao longo da história Luiz foi conquistando referência na fotografia nacional, juntamente com vários prêmios. Com a série “A Margem do Olhar” ganhou o Prêmio Marc Ferrez, do Instituto Nacional de Fotografia da Funarte, em 1988. Nessa época começou a fotografar misturando luzes naturais e artificiais, o que conferiu um caráter não naturalista às imagens. No estrangeiro recebeu o Prêmio Fotografia Colorida Leopold Godowsky, da Universidade de Boston, Estados Unidos, em 1991, e Bolsa Vitae de Fotografia, em 1996.
A nova premiação Chico Albuquerque contou com mais de 170 propostas inscritas e a participação de 20 estados. No total serão distribuídos R$ 280 mil para os vencedores. A categoria Narrativas Brasileiras foi dedicada especialmente para artistas consagrados no cenário nacional. Dentre os finalistas estão o mineiro Pedro David de Oliveira Castello Branco, o gaúcho Luiz Carlos Rosa Felizardo, o português Orlando Manuel Monteiro de Azevedo e o paulista Edson Viggiani Jr. Para a premiação, Braga encaminhou 30 obras mapeando a própria produção de mais de 40 anos com um resumo sobre sua história.
Mesmo com grandes talentos da velha guarda e da nova geração, Braga lamenta a pouca valorização dos artistas, a falta de incentivo e recursos para que todos tenham capacidade para se dedicar à arte. “Nós temos grandes artistas que produzem com um quase heroísmo. Quantos dos artistas vivem do seu trabalho? Pouquíssimos, a maioria é professor ou tem outro emprego para poder continuar”, lastima.
Chico foi referência para Luiz
Para o fotógrafo paraense Luiz Braga receber o prêmio com o nome do amigo e mestre Chico Albuquerque (1917 – 2000) é uma das maiores honrarias que poderia ter. Chico foi um pioneiro na profissão no Brasil. O cearense foi o primeiro a produzir uma fotografia publicitária, trabalhou com o premiado cineasta americano Orson Welles (1915 – 1985), e um dos artistas mais inovadores daquela geração.
Ao longo de uma trajetória de 68 anos dedicados à fotografia, consagrou-se como retratista de personalidades que marcaram a história brasileira. Dentre os principais trabalhos o ensaio “Mucuripe” (1952) que retrata o cotidiano de jangadeiros do litoral cearense, revelando a profunda relação desses homens com o mar, foi um dos mais conhecidos do mundo.
Chico também foi responsável por montar o estúdio de fotografia da editora Abril formando vários fotojornalistas, que ainda hoje estão na ativa. Ao saber do prêmio com o nome de Chico Albuquerque, o paraense ficou decidido em ter essa conquista pela importância que o cearense teve em sua vida.
“Naquela época a gente ficava muito isolado em Belém. Eu sempre pensei alto e fui muito exigente com os materiais e com a técnica. Estava muito com dificuldade de molduraria, o mercado não respondia, e estava muito agoniado. Numa dessas viagens, eu procurei o Chico Albuquerque, pensando em morar no sudeste. Contei para ele que estava muito angustiado e que pensava em sair de Belém. Ele me disse ‘não saia da sua terra, porque lá só você faz isso. Se você vier para cá, o máximo que vai conseguir é isso’ e apontou para uma cicatriz de uma cirurgia de safena. Esse conselho foi muito fundamental para o desenvolvimento da minha carreira. A partir dali é quando eu começo a trabalhar a cor em uma segunda onda e ganho o prêmio em Boston, exponho no MASP, na Bienal de Viena”, relembra.
Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)
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