Professor produz livro para incentivar jovens que cumprem medidas socioeducativas


A partir da ideia de ajudar adolescentes que estão cumprindo medidas socioeducativas da Escola Antônio Carlos Gomes da Costa, o professor Helison Cavalcante decidiu produzir um material sobre a figura histórica da mulher enquanto protagonista das próprias ações. Resultado do curso de Mestrado em Ensino de História pela Universidade Federal do Pará (UFPA) do autor, a obra chama-se “Nossa História das Mulheres: representações do feminino no cinema e na sala de aula”.
O professor conta que a iniciativa surgiu pela realidade em que as alunas estão inseridas. O trabalho buscou instigar as jovens a valorizar os estudos e a si mesmas como sujeitos históricos que podem intervir e opinar no mundo. "A ideia partiu da própria necessidade verificada com as meninas. Elas vêm de famílias em que é comum presenciar cenas de violência contra a mulher e por isso veio a ideia de trabalhar o tema e desnaturalizar algumas dessas questões (...) A nossa produção  ajudou-as a se perceberem como agentes de transformação social, o que colabora com a reinserção social delas", pontua o autor da publicação, que foi baseada em pesquisas sobre a atuação das mulheres nos conteúdos curriculares de História da Educação Básica. 
A publicação aborda temas como a Idade Antiga, a mulher em Atenas, a história do casamento na Idade Média, o papel das mulheres nas revoluções Industrial e Francesa e a luta pelo direito ao voto. "Notamos que, nos livros didáticos, pouco se noticia a participação feminina nos grandes acontecimentos. Mesmo entre os paradidáticos, pouco se escreveu sobre a história das mulheres, por isso resolvemos transformar as nossas pesquisas em um novo livro", pontua.
Os capítulos foram montados coletivamente, com base em discussões e em pequenos textos feitos na sala de aula. O próximo lançamento da obra está previsto para o início de 2020, na UFPA Campus Ananindeua. 
A ideia também foi avaliar o impacto percebido no cotidiano das meninas. "O trabalho começou com a elaboração de um conjunto de questões sobre machismo e violência que foram respondidas por elas. Esse material foi transformado na introdução do trabalho. A partir disso, fomos construindo os capítulos que se baseiam na história que é contada pelos livros didáticos, mas que nunca enfoca as mulheres", explica. "Por fim, a gente fez um novo questionário pra saber o que mudou na visão delas", acrescenta.
Para o professor, a maior mudança percebida entre as alunas foi a valorização do voto e uma visão mais crítica em relação à violência contra a mulher. "Elas desvalorizavam completamente a questão do voto. Não acreditavam no sistema político, mas a partir do momento que elas viram toda a luta, elas começaram a valorizar mais. Algumas meninas deram esse depoimento. Além disso, elas passaram a dizer que não vão mais aceitar a violência contra a mulher de forma calada, que sabem onde podem buscar seus direitos", destaca.
Em 2018, o projeto recebeu indicação para o Prêmio Educador nota 10, de tradicional reconhecimento da educação brasileira. "Foi muito importante para as adolescentes. A premiação foi transmitida ao vivo em um programa de TV a que elas costumam assistir diariamente. Não vencemos o prêmio, mas elas se sentiram muito valorizadas e se perceberam como produtoras de conhecimento, o que fortaleceu a autoestima de todas", afirma o professor Helison Cavalcante.

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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