"Lutadoras - Mulheres Rurais no Mundo" ganha segunda edição


Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Rural, celebrado em 15 de outubro, o Instituto Interamericano de Cooperación para la Agricultura (IICA), com sede em San José, capital da Costa Rica, lança a segunda edição do livro Lutadoras - Mulheres Rurais no Mundo. Corrigida e ampliada, a obra traz fotografias de Sebastião Salgado e 37 artigos de personalidades de mais de 10 países, das quais 35 são mulheres. 

Representam o Brasil textos da diretora geral das Edições Globo Condé Nast, Daniela Falcão, de Tereza Cristina, ministra da agricultura, e de Rita Teixeira, líder do Movimento das Mulheres do Nordeste Paraense (MMNEPA). Assim como as contribuições que compõem o livro, seu lançamento é internacional e simultâneo em cidades de 14 países, incluindo Brasília – a obra está disponível em espanhol, português e inglês.

Em 2018, a Vogue Brasil, em parceria com o IICA, partiu em uma jornada por quatro países das Américas – Jamaica, Guatemala, Argentina e Brasil – para a produção da matéria Mulheres em Campo, publicada na edição de outubro daquele ano.

O mesmo material deu origem à exposição Terra, Substantivo Feminino, que passou por Costa Rica, Argentina, Brasil e Estados Unidos antes de chegar à Espanha, em Madri, onde as 28 imagens feitas por Cecília Duarte estão expostas no momento. Abaixo, relembre o projeto e as mulheres que encontramos no caminho.
Na Guatemala, madaglena Coyote, artesã, agricultora e filantropa, usa trajes maias típicos. o vermelho, diz ela, representa a cor do sangue derramado pelos colonizadores. o preto da saia é o luto; o branco, a pureza do feminino (Foto: Cecília Duarte)

Terra, substantivo feminino (Foto: Cecília Duarte)
Noemi Ivone Martinez, curandeira e xamã (Argentina)
Noemi planta e colhe ervas, compartilha os seus saberes. Indígena orgulhosa, está decidida a colocar em prática um projeto de educação multicultural em seu país, começando por Jujuy, província onde nasceu, no norte da Argentina. Sua ideia é apresentar a cultura indígena nas escolas por meio de workshops incluídos no currículo, mostrando os valores e a história de seu povo e ensinando sobre a relação e o respeito com a natureza. “Precisamos deixar a janela aberta”, diz, referindo-se à riqueza dessa troca. Ela nos convidou para participar de uma homenagem a Pachamama, um ritual de gratidão andino, que devolve o alimento e a vida a terra. Estávamos prontas para a celebração, mas corria um rio perto, o Yacoraite, e Noemi mudou os planos: fomos para a beira do rio, comemos frutas, tomamos um banho de incenso, passamos um óleo essencial no corpo e agradecemos. A saber: Pachamama não é só a mãe da terra, mas do cosmos, da água, de todos os elementos. A água tem a ver como ventre feminino, como fluxo da vida. “Foi uma decisão maior, e deixei fluir”, explicou Noemi.
Terra, substantivo feminino (Foto: Cecília Duarte)
Denise Wedderburn, agroecologista e colaboradora da ONG Treasure Beach Women’s Group (Jamaica)

Nascida em Kingston, capital jamaicana, Denise viveu no Canadá e em Nova York, onde se formou em ciência política na Universidade Columbia. O legado de luta pelos direitos civis negros deixado por Martin Luther King nos EUA a motivou a voltar ao seu país, onde ficou entre 1975 e 1980. “Eu precisava fazer algo pela minha terra.” Trabalhou no governo do primeiro-ministro Michael Manley, que ocupou o cargo em dois períodos distintos (1972-1980 e 1989-1992). Social-democrata, ele foi considerado um dos grandes porta-vozes para as questões do terceiro mundo e reverenciado no país por suas ações sociais. Nas conturbadas eleições seguintes, após a vitória do conservador Edward Seaga, Denise voltou para Nova York. Teve loja de roupas, foi dona de restaurante, editou livros e virou frequentadora do Studio 54. Em 1994, voltou de vez para a Jamaica. Hoje planta em seu quintal e se dedica à ONG Treasure Beach Women’s Group, localizada na comunidade praiana de mesmo nome na costa sul do país, direcionada a mulheres do campo e suas famílias. Na organização, é coordenadora de projetos na área de saúde, cursos de capacitação e incentivo ao artesanato.
Terra, substantivo feminino (Foto: Cecília Duarte)
Kelsey Nelson, estudante, voluntária no Summer Camp (Jamaica)

A estudante nasceu em Treasure Beach, assim como seus avós, pescadores e comerciantes de peixes, e sua mãe, Sissy, professora. Kelsey aparece aqui usando uma bandana completa, um dos trajes mais típicos da Jamaica. Veste suas raízes com orgulho. Ela não trabalha na terra, mas se interessa por agroecologia. “Precisamos preservar o meio ambiente, todos sabemos disso”, diz. Kelsey dá aulas de dança (típicas e contemporâneas) para os alunos mais novos no summer camp da comunidade. No futuro, quer fazer faculdade de direito. Enquanto isso, frequenta os cursos do Treasure Beach Women’s Group e “vive sorrindo”, como diz sua mãe. “É uma menina muito feliz, generosa”, completa. E ainda canta muito bem, tanto músicas folclóricas, em coro, quanto dancehall, o ritmo jamaicano que ganhou o mundo.
Terra, substantivo feminino (Foto: Cecília Duarte)
Rutila Ajanel Ixtabalan, artesã e empresária social da marca Xanil (Guatemala)

Com uma das avós, Rutila aprendeu a plantar milho e batata e a vender a produção nas feiras populares; com a outra, a contar a história da cultura maia por meio dos bordados. Formada em ciências sociais, ela uniu sua ideia de desenvolvimento social coletivo aos ensinamentos das matriarcas. O resultado é a marca de bolsas artesanais Xanil. “Quase toda mulher de ancestralidade maia aprende a tecer ainda criança, em casa. Valorizo essa habilidade e a incremento com um olhar contemporâneo por meio de oficinas. É uma marca social, capacito mulheres”, diz. Além de potencializar o poder criativo das artesãs mais velhas e de agricultoras com o corpo cansado pelo campo, Rutila motiva as mais jovens a nutrirem orgulho de suas origens. “Seria uma pena se a nova geração perdesse o contato com a ancestralidade. Alimento essa curiosidade em casa também, sou mãe de um menino.”
Terra, substantivo feminino (Foto: Cecília Duarte)
Margarita Cate, agricultora, filantropa e artesã (Guatemala)

Em nosso primeiro encontro, Margarita (na foto acima, com um pano na cabeça e colar prateado) me vendeu uma bolsa da marca Artesania Guatemalca, feita por ela no tradicional tear de cintura. Índia kaqchikel das montanhas guatemaltecas, ela é uma sobrevivente dos conflitos civis e desastres naturais que assolaram o país ao longo dos anos. Mas prefere falar sobre sua contribução para os projetos sociais destinados às novas gerações. “São as colheitas futuras. Temos que cuidar delas”, afirma Margarita, que estudou ciências sociais na Universidade Rafael Landívar. Um dos projetos é um guia parental para mães interessadas em equilibrar práticas ancestrais e contemporâneas na criação dos filhos. Margarita conta orgulhosa sobre as jovens da Guatemala que produzem e exportam café. Fala de terra, de ciclos, de sociedade, de moda e sobre vestir-se com afeto e consciência. “Nossas saias são o feminino, a liberdade. A faixa na cintura é para nos dar postura para a vida. Os bordados são sobre a cultura maia e a natureza”, enumera. Os panos de tear sobre a cabeça são usados como reverência ao que está acima, no céu. O vermelho é a cor do sangue derramado com a chegada dos colonizadores; o amarelo é o ouro da terra e do “avô Sol”; e o branco é a pureza feminina. Os cabelos são a força da mulher, por isso merecem enfeites. Margarita, o nome, significa mulher forte e sábia. Não duvidei.
Terra, substantivo feminino (Foto: Cecília Duarte)
Empress Thandi Williams-Wise, agricultora e diretora do Rasta Wellness Center (Jamaica)

Empress foi criada pelos avós agricultores no interior da Jamaica, em uma comunidade chamada White Horse. A avó, curandeira, plantava e colhia ervas medicinais, além de cultivar cacau e fazer o próprio chocolate, vendido em mercados e feiras. O avô a ensinou a plantar. Hoje, ela compartilha as sabedorias dos dois em seu negócio, o Rasta Wellness Center, em Treasure Beach, onde vive com o marido, Stephen Ras Katri Wise, músico e agroecologista, e os seis filhos, com idades entre 5 e 20 anos. O sítio onde a família mora é uma atração à parte: comporta vivências e experiências diversas, que vão da lida com o plantio à filosofia rasta, passando por ioga, meditação e massagens. Há um espaçoso quintal agroecológico, uma cozinha aberta para a sala, de onde saem receitas ayurvédicas saborosas, feitas por ela com ingredientes colhidos em sua horta. Conhecendo a família, compreende-se o afeto que emana dali com raízes no movimento rastafári. “Não é uma religião, é uma consciência baseada na harmonia entre tudo o que está vivo no planeta, respeitando cores e culturas, o amor a si e ao próximo, a autoaceitação e o respeito coletivo”, explica Empress, que escolheu o apelido de infância Thandi, para compor seu nome rasta. “Mas não foi fácil crescer como uma rastafári, havia muito preconceito. Bob Marley e o ativista Marcus Garvey tornaram nossas ideias globais.”

Terra, substantivo feminino (Foto: Cecília Duarte)
Irma Coroy, agricultora e artesã da associação Tikonel (Guatemala)

Não é só o olhar de Irma que é acolhedor. Artesã, tecelã e agricultora, ela é uma das típicas mulheres da terra. É porta-voz e figura atuante na Tikonel, associação fundada em 1994 para estimular o desenvolvimento rural por meio de capacitações diversas e que atende mais de 6.000 famílias em 24 municípios da Guatemala. “A ideia é incentivar práticas agroflorestais para preservar o meio ambiente, produzir alimentos mais ricos e puros e, assim, fazer o mesmo com a terra que nos nutre”, explica. Há oficinas para quem quer gerir melhor seu plantio, para interessados em tirar proveito das variações climáticas intensas e dos recursos naturais renováveis. Graças a essas práticas, a policultura familiar cresce no país. “É um resgate”, afirma Irma, que também é expert no tear de cintura e cria peças como a que envolve sua cabeça nesta foto (à venda no site da Tikonel). “Usamos técnicas e desenhos maias, como nós.”
Terra, substantivo feminino (Foto: Cecília Duarte)
Juana Amelia Vazquez, Santa Clara Sosa e Ana Maria Rivas, comunidade aborígene Guarani Tentarareta-Yaikove (Argentina)

Juana (sentada na terra) é a presidente de sua comunidade, que fica em Yuto, norte da Argentina, quase na fronteira coma Bolívia. Ao lado de Santa Clara e Ana Maria, viajou mais de 350 quilômetros para nos encontrar em Quebrada de Humahuaca. Elas foram vestidas com trajes típicos da região, onde a sobrevivência era garantida exclusivamente por meio da caça, da pesca e do plantio de milho, batata e raízes diversas. Hoje, parte da região é urbanizada e, no interior, há o incremento do artesanato, principalmente de cestos feitos com palha de cana e milho, além de lindas peças de cerâmica. As três mulheres indígenas e orgulhosas dedicam-se a todos os ofícios aqui citados e também à conquista da igualdade de direitos, principalmente os relacionados ao gênero, além dos perímetros de Tentarareta-Yaikove e de Tenta-Cavi, em Yuto. Realizam encontros, vão atrás de apoio governamental, de ONGs, associações. “A comunicação e o diálogo são tão essenciais quanto a terra para a vida”, afirma Ana Maria. Elas voltaram no mesmo dia para Yuto, totalizando 700 quilômetros de estrada em menos de dez horas. Não é fácil. Por isso mesmo elas não desistem.

Terra, substantivo feminino (Foto: Cecília Duarte)
Kelsey Nelson e Shobi Wise, estudantes (Jamaica)

O abraço foi espontâneo, seguido de uma cantoria igualmente não premeditada. Enquanto a câmera era preparada para o clique, as meninas, de 13 e 14 anos, entoaram músicas folclóricas. As duas aprendem (e adoram) os sons de origem no Treasure Beach Women’s Group. Shobi, à direita, é filha de Empress, criada sob os preceitos do rastafári, entendedora do cultivo de vegetais e frutas, de seus valores nutritivos e coletivos. “Em casa, semeamos, plantamos e colhemos tudo aquilo que comemos”, conta ela, orgulhosa. “A minha família é assim bem antes de eu existir”, completa. E que existência especial. Shobi tem cinco irmãos e chama os amigos de “brothers” e “sisters”.
Terra, substantivo feminino (Foto: Cecília Duarte)
Gloria Bennet e Elonie Taylor (Jamaica)
Gloria e Elonie são amigas inseparáveis e em total sintonia: vestiram-se na mesma cartela de cores para esta foto. São jamaicanas, aposentadas do campo e hoje voluntárias. Elonie é cuidadora, sócia-fundadora do Treasure Beach Women’s Group e tem um delicioso e leve sotaque patoá (idioma essencialmente oral, soma do inglês com o vocabulário dos ancestrais). Gloria define-se como bisavó e conhecedora da natureza. As duas frequentam a ONG e a igreja com igual devoção. Celeste Anderson, uma das porta-vozes do TBWG diz que não vai a igreja, pois tem a sua própria religião. “Mas se é importante para muitas mulheres, então é essencial para mim e para nós.” Respeito e fé são muito cultivados nas redondezas que visitamos.
Terra, substantivo feminino (Foto: Cecília Duarte)
Claudette Moxem, voluntária do Treasure Beach Women’s Group (Jamaica)
Enfermeira por formação, Claudette emigrou para Londres ainda criança. “Minha geração viveu tempos duros de preconceito por lá. Mas, se víssemos uma árvore, subíamos juntos. Aprendemos a nos pertencer muito cedo.” Ela é uma “returning jamaican”, como Denise. “Não fazia sentido não voltar para a minha terra. Meu marido é de Treasure Beach, filho de pescadores, e quis vir também”, diz. “Voltei à Jamaica pela primeira vez em 1986, e a sensação foi a de que eu nunca tinha deixado o país.” Como muitos jamaicanos emigrados, aos poucos Claudette e o marido foram construindo sua casa com a renda conquistada no exterior. A mudança para o que ela chama de “paraíso” foi em 2007. “Estive em Londres duas vezes desde então e confirmei que meu lugar é aqui, colaborando com a ONG, que é onde me sinto forte.” Claudette atua em “todas as áreas que necessitem de ajuda”, em especial os projetos de educação. “Aqui entendi o valor da terra. Entrei no universo das agricultoras, da agroecologia, da nutrição, aprendi a plantar e sou grata por fazer parte disso. Querer bem aos outros, comunicar-se e semear são chaves para a evolução. São habilidades femininas, não tenho dúvida.”
Terra, substantivo feminino (Foto: Cecília Duarte)
Elizabeth Quic, agricultora e barista (Guatemala)
A moeda de 25 centavos da Guatemala, produzida nos anos 60, traz uma mulher usando seu toyocal – acessório de cabeça repleto de simbologias da cultura maia. Trata-se da figura de Concepción Ramírez, escolhida em 1959 pelo governo da época para representar a beleza da mulher indígena. Também descendente de indígenas, Elizabeth decidiu usar o toyocal nesta foto. “Ele remete à serpente, à força e à resistência da mulher e da natureza”, explica a jovem, filha de um mestre de obras e de uma dona de casa, também pequenos produtores de café, plantado no quintal de casa. Formada em turismo, ela tinha dúvidas se seguiria carreira na área e resolveu fazer cursos de barista e de agricultura. “Redescobri minha paixão: o contato com a terra e os saberes ancestrais do cultivo.”
Terra, substantivo feminino (Foto: Cecília Duarte)
Maria Quipildor, agricultora e artesã (Argentina)

Há dois meses, Maria entrou para o grupo de artesãs da marca social Kenko, que desde 2016 fabrica peças feitas de lã pura, costuradas à mão e tingidas com pigmentos naturais. Projeto da jovem Celeste Valero, uma potência feminina em Jujuy, a Kenko capacita mulheres do campo interessadas em contar suas histórias por meio de tramas que remontam à tradição maia. A maior parte da matéria-prima empregada nas peças vem da natureza e é devolvida para a natureza por meio de replantios. Cultivadora de milhos, batatas e, agora, artesã da Kenko, Maria une suas sabedorias. “No campo ou nas rodas de tecelagem nos sustentamos, nutrimos nossas famílias e nos unimos para conquistar cada vez mais.”
Terra, substantivo feminino (Foto: Cecília Duarte)
Rita Teixeira, agroecologista e ativista do Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense – Mmnepa (Brasil)

“Sou mulher, negra, pobre, agricultora e filha de agricultores analfabetos”, descreve-se Rita Teixeira, uma das figuras mais poderosas que encontramos. Aos 11anos, ela começou a trabalhar na roça da família, mais tarde entrou para o ativismo feminino e agrícola, viu amigas militantes perderem a vida pela terra e hoje orquestra uma revolução na Amazônia. Sua atual ferramenta de transformação é a “caderneta agroecológica”, caderno de planejamento desenvolvido pela Universidade de Viçosa, em Minas Gerais, para a mulher agricultora. Por meio da caderneta, elas podem contabilizar o quanto investem (em tempo, trabalho, energia e custos) e o quanto podem lucrar com a produção agrícola. Assim, incrementam a renda familiar, conquistam autonomia e até rendimentos maiores que os dos homens. Vale lembrar: a dependência financeira é um dos principais motivos para mulheres vítimas de violência doméstica não abandonarem os maridos. O trabalho de Rita ultrapassa as fronteiras do Pará e chega a outras partes da Amazônia, como a casa de Ozirene Cardoso da Silva, a Dona Nega, no Amazonas. “Hoje entendo o valor do meu trabalho, tenho orgulho de ser uma mulher agricultora e ganho mais que meu ex-marido”, diz Nega, em seu segundo casamento, “com um homem que me valoriza e me respeita”. Dona Nega conheceu Rita em uma oficina oferecida pela Casa do Rio, instituição social que atua no Amazonas desde 2009. Seus esforços renderam homenagem do IICA, que traz sua história em um livro para celebrar a força da mulher do campo. Mês passado, junto com Thiago Cavalli, da Casa do Rio, Rita foi homenageada pela Brazil Foundation, em Nova York.
Terra, substantivo feminino (Foto: Cecília Duarte)

Monique Williams, agente de desenvolvimento do turismo comunitário e agrícola, Jamaica

Monique, 23 anos, não é uma mulher rural, mas sim uma mulher urbana dedicada ao desenvolvimento de seu país e da conquista de direitos e prosperidade daquelas que vivem no interior da Jamaica. Já trabalhou como modelo trocou a carreira pela faculdade de Turismo e por um cargo administrativo no Tourism Product Development Company (TPDCo). “Decidi estudar turismo porque é a minha paixão e é também um dos principais segmentos-guia do meu país, que precisa ser transformado”, ela diz. Ela o transforma focando em um conceito de turismo não só sustentável, como comunitários e social.  São ações que levam os turistas para o interior do país, para conhecer as belezas naturais e, principalmente, as belezas humanas que cuidam e vivem da terra.
“É um modelo que oferece uma visita autêntica para o turista, gera emprego para os locais, valoriza a  cultura jamaicana, que é também agrícola, potencializa a autoestima de quem vive no interior e da terra e, por isso, acredito que seja um meio transformador relevante. Tem a ver com uma relação mais humana, em todos os sentidos”, diz.  Monique nasceu em Kingston, foi criada e vive em Portmore, cidade litorânea vizinha da capital jamaicana. É filha de uma contadora e de um metalúrgico. Está envolvida com as mulheres rurais de seu país por ideologia, sororidade, desejo de prosperidade coletiva. “Nunca fui uma garota rural, sou bem urbana. Mas aprendi com meus pais que o trabalho é a maneira que temos de vencer desafios, usar o cérebro para o melhor.  Eles sempre disseram, ‘não trabalhe duro, trabalhe com prazer e inteligência e mantenha sua energia em  foco” , diz ela .
“Não sei muito sobre os meus ancestrais, mas minha família conta que somos descendentes de maroons”. A saber  maroons são os africanos que vieram para trabalhar como escravos na Jamaica e escaparam da escravidão, criando comunidades livres pelo interior da ilha. Eram agricultores, inteligentes, que escreveram a própria história ao invés de aceitar o enredo escrito para eles. Vencedores. Monique tem raízes poderosas.
Terra, substantivo feminino (Foto: Cecília Duarte)
Dahlia Dwyer, agente de desenvolvimento do turismo comunitário e agrícola (Jamaica)
“O turismo comunitário convida, propõe uma imersão nos valores que resultam no desenvolvimento sustentável do lugar que os turistas escolhem visitar”. Quem explica é Dahlia, jovem nascida e criada em Kingston, que poderia ter uma relação como a de qualquer outra mulher de um centro urbano com as mulheres da região rural, ou seja, por meio dos alimentos frescos, orgânicos, na mesa, ou então,  só por meio da curiosidade.
Contudo, Dahlia conheceu a fundo a história de Treasure Beach como funcionária do Tourism Product Development Company (TPDCo), a ONG que dá suporte às mulheres rurais do interior da Jamaica. Apaixonou-se. A partir daí, diz ela “entendeu que o senso do coletivo, muito forte entre as mulheres de diferentes gerações, é um dos grandes atrativos do lugar”.  E é um atrativo tão ou mais inspirador que as belas paisagens e cenários do lugar. “O turismo rural tem um potencial enorme para o país e para as comunidades”, completa Dahlia.
Vale lembrar que Treasure Beach, em tradução, é Praia do Tesouro, originalmente um lugar de pesca e agricultura, que fica cerca de três distantes tanto de Kingston, quanto de Montego Bay, onde estão os aeroportos internacionais da ilha jamaicana. “O turismo rural tem um potencial enorme para o país e para as comunidades”, completa Dahlia.  E é muito interessante para quem gosta de viver experiências verdadeiras, que colam de imediato na memória afetiva, tanto quanto a gíria afirmativa e positiva “ya mon”,  falada sempre com o um sorriso pelos jamaicanos de toda parte, e com charme mais especial no interior do país. É uma corruptela de “yes, mom” ou “yes, man”. A interpretação de gênero é livre, sempre.
Assistente de fotografia: Hanna Vadasz.
Agradecimentos: IICA, Copa Airlines, Turvisa, Free Free, 3T Equipamentos e Thinkers MGT.
Guatemala: As mulheres da Fidesma, CopredeH, Asociación Renacimiento, Asodesi, Asoac, Tikonel, Ixoq’i, Cooperativas Artexco R.L., Vicafe R.L., La Voz, Coatitlán, Coinacredit Codimm, Xanil y Fedemur, Anacafé, Inguat, Fincas Buena Vista, Capetillo y Procagica, Lourdes Ortiz, Leonor de Coronado e Patricia Osorio.
Jamaica: Tourism Product Development Company (TPDCo), Jakes Hotel, Pelican’s Bar, TBWG, Celia Sears, Margareth Elizabeth, Celeste Anderson, Justine Henzell, Shauna e Ella Brandon e Tina Magnus.
Argentina: Governo de Jujuy, Secretaría de Pueblos Indígenas, Mujeres Rurales de Yuto, Huacalera, Cianzo, Cusi Cusi, La Quiaca, Maimará, comunidade aborígene de Yacoraite, Dominga e Silveria Choque, Red Puna, Kenko Artesanía Textil, Federico Giandulia, Patricia Rios e Sandra Nazar.
Brasil: Canon, Canson e Moldurarte (parceiros da exposição Mulheres em Campo). Governo do Pará, SEEMSU, Casa do Rio, Margarida Magda Guimarães, Cristina Costa e Monica Borges.


Fonte: Site vogue.globo.com

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