Ignácio de Loyola Brandão toma posse na Academia Brasileira de Letras


Com um discurso marcado por referências políticas, recordações da infância e juventude e menções ao ofício de escrever, o escritor e jornalista Ignácio de Loyola Brandão tomou posse na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio, na noite da sexta-feira, 18. Na instituição, passa a ocupar a cadeira 11, cujo patrono é Fagundes Varela e que teve como fundador Lucio de Mendonça. Substitui o sociólogo Hélio Jaguaribe, que morreu em 2018. Brandão foi eleito por unanimidade, em 14 de março último.
Aos 83 anos, o colunista do Estadão também falou, em entrevista, da satisfação de passar a integrar a ABL. A entrada na Academia, porém, é só parte de seus planos. Loyola revelou ter ainda sonhos a realizar - pelo que disse muitos. "O que que um escritor quer? Chegar aqui (à ABL). Mas essa é só uma parte do caminho. Eu tenho metade dos meus projetos, dos meus sonhos, realizados. E vou realizá-los. Alguém diz: 'Ah, mas você tem 83 anos' (e eu respondo:) 'E a vida inteira pela frente, mesmo que sejam sete dias'", afirmou Brandão, após a cerimônia, questionado sobre a emoção de se tornar um 'imortal'.
No discurso, o escritor também relembrou momentos da infância e prestou homenagens aos pais. Disse que seu pai lia muito, "tinha muitos dicionários" e lhe "ensinou a usá-los". "Aprenda as palavras, e sua vida será mais fácil, dizia meu pai", recordou. Contou também que, quando via a mãe catando feijões, para tirar a sujeira e os grãos estragados, o pai lhe dizia: "Veja como ela escolhe os mais perfeitos, os mais bonitos. Lembre-se disso ao escrever".
O novo acadêmico fez várias menções ao momento político brasileiro. Uma delas foi à vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL), assassinada a tiros com o motorista Anderson Gomes em março de 2018. Outra foi ao slogan de campanha do presidente Jair Bolsonaro, "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos". Brandão se referiu à frase em tom de brincadeira, aludindo à paixão do mandatário pelas redes sociais, como o Twitter.
"O que é o regime atual? O ex-ministro Delfim Netto definiu como twittercracia. É o primeiro governo à distância do Brasil, orientado dos Estados Unidos", brincou.
Em outro momento do discurso, disse que "para desenvolver o Brasil precisamos de democracia, liberdade, saúde para sobreviver, ensino e trabalho, ausência de fome e miséria, de segurança e acima de tudo ética e verdade. E principalmente (precisamos) nos relacionarmos sem ódio, (sem) indignação, (sem) acirramento".
Após a cerimônia, em entrevista, Brandão falou sobre sua luta contra a censura. "Sou uma das vozes que lutam pela liberdade, porque tem muita gente aí, ainda. E eu espero que a Academia expanda minha voz, porque a gente vive um momento muito complicado, um momento em que sombras estão se adensando, como disse no discurso (de posse). E cultura, escola, universidade são fundamentais.", afirmou.

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

Nenhum comentário