Plasticidade e beleza através da arte sacra


Saboeiro. O escultor Pedro Pereira de Souza, 49 anos, artista plástico autodidata, que se especializou em produção de imagens sacras, precisou de apenas 14 anos para se tornar reconhecido nacionalmente a partir de trabalhos produzidos em São Paulo e no Paraná. Requisitado nas regiões desenvolvidas do País, decidiu fazer o caminho de volta e instalou unidade de produção de peças nesta pequena cidade da região dos Inhamuns.
Depois de sete anos de volta à terra natal, Pedro de Souza decidiu que veio em definitivo. "No início, fiquei em dúvida, sem saber se daria certo, pensava em retornar a São Paulo, mas a gente cria vínculos e agora já comecei a construir a minha fábrica", disse. Nas margens da rodovia CE 284, que dá acesso a esta cidade, está em obra a unidade produtora com galpões de montagem, acabamento, sala de pintura, escritórios, carpintaria e refeitório.
Um motivo particular e familiar contribuiu para que o escultor retornasse ao Ceará. "Queria cuidar de meu pai que estava doente", justificou. "Nos primeiros anos, ainda mantive um galpão em São Paulo e fiquei indo trabalhar em fábricas em Londrina, no Paraná, mas agora estou somente no Ceará".
O pai, João Pereira de Souza, 88 anos, recuperou-se e, neste ano, continua trabalhando no roçado. A mãe, Josefa da Silva, sempre incentivou o filho desde criança à arte do desenho. Em meio à família, o artesão agora dedica-se com todo empenho à produção das peças e ao atendimento de encomendas que não param de chegar.
Cerca de 40 operários trabalham em dois galpões que estão em construção na área adquirida pelo escultor, depois de passar um tempo em um sítio cedido por um amigo. É a unidade que gera mais empregos diretos no município.
A mão de obra local foi pacientemente treinada pelo artista plástico. Homens acostumados à lida da agricultura trocaram o cabo da enxada por ferramentas mais leves e pequenas como o cinzel e lixas. Mulheres dadas ao trabalho doméstico agora pintam com técnicas de luz, sombreamento e misturas de cores.
Vocação
Pedro de Souza é um artista peculiar, sem passagem por escolas ou cursos de aprimoramento em artes plásticas. Encontrou a vocação aos 10 anos. Na escola municipal, colegas e professores descobriram o talento do jovem e passaram a encomendar cartazes. "Comecei com desenho, em casa, muito preliminarmente", disse. "Depois, fiz algumas telas com paisagens, bem simples, rudimentar, mas vendia por aqui. A temática do sertão, o mandacaru, era uma descrição realista e recorrente em telas".
Aos 18 anos, seguiu o caminho de muitos jovens e partiu em busca de trabalho em São Paulo. Foi ajudante de padaria, despachante de balcões de frios, em bairros da Zona Norte da capital paulista. "Continuei desenhando, pintando, fazendo fotos dos colegas que ficavam admirados", lembrou. "Trabalhava muito e não tinha tempo para fazer cursos, estudar".
Passou a fazer esculturas em madeira e gesso e foi descoberto por ateliês. "Pintava bem, com técnica própria que agradava e as encomendas foram aparecendo", disse. "As fábricas descobriram que eu era um escultor, e encomendavam estatuetas, objetos de decoração em geral". Além de criar as peças, Pedro de Souza fazia consertos. Produziu peças e recuperou imagens para igrejas paulistanas.
A criação é o forte do escultor. Com traços bem definidos, retrata fielmente o modelo proposto, os contornos do rosto, a expressão facial e corporal, as linhas do corpo. O talento nato dá vida às peças. Duas imagens dos apóstolos Pedro e Paulo, no pátio da oficina, em fase de acabamento, encomendada por uma igreja do Paraná, despertam a atenção do visitante mediante a perfeição, a beleza da escultura.
Escultor
"Sou escultor, não sou santeiro", avisa o artista plástico. Parece um reforço inadequado, pois nos últimos anos, Pedro de Souza tem o seu atelier dedicado à produção de artes sacras, imagens de tamanhos variados. A maioria da produção é encaminhada para revendedores, distribuidores, mas há encomenda de peças para igrejas e particulares.
Acabamento
As peças são produzidas em fibra de vidro, material leve, que permite bom acabamento, e demonstra boa resistência. A matriz é feita em barro da localidade, uma argila que tem boa liga e resistência. "Geralmente, levo dois dias para criar a escultura matriz", diz. O molde é feito em borracha de silicone com um fio especial.
Quando decidiu voltar ao Ceará, Pedro de Souza deixou no Sudeste e no Sul um mercado conquistado. As facilidades de transporte das peças a partir da cidade de Juazeiro do Norte e de comunicação mantiveram as encomendas no ritmo esperado. "Não perdi clientes", frisou. "Apareceram outros aqui da região". Acostumado a produzir peças pequenas e médias, enfrentou o primeiro desafio e esculpiu a imagem da padroeira de Saboeiro, Nossa Senhora da Purificação, com 15 metros de altura, inaugurada em setembro de 2016. Para o próximo ano, tem de entregar outra escultura de grande porte, Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Jucás, com 25 metros e um custo de R$ 350 mil.
Réplica
Em 2019, em homenagem aos 300 anos da paróquia de Senhora Sant'Ana, em Iguatu, vai confeccionar uma réplica de 15 metros. A obra tem custo de R$ 220 mil. No Paraná e em outros Estados, há várias esculturas de santos com altura média de 10 metros, instaladas em portais de entrada das cidades.
A linha de produção mensal da unidade fabril de Saboeiro produz em média 500 peças de tamanhos variados entre 15 cm a 3 metros, cujo valor depende da quantidade e do tamanho da escultura. O preço oscila entre R$ 25,00 e R$ 10 mil. "Quando é uma peça única é mais cara", observa o escultor. A imagem mais vendida, cerca de 40%, é de Cristo Ressuscitado, que também tem tamanho variado entre 40 cm a 3 metros. "É uma criação nossa, de um Cristo sorridente", disse. A linha de produção é voltada para atender lojistas e produtores, mas a unidade acolhe encomendas individuais, de visitantes e no futuro pretende instalar uma loja da fábrica.

Fonte: Dario do Nordeste (Texto e Foto)

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