Exposição 'Territórios' reúne artistas de três continentes no Pará



Com um intercâmbio entre artistas de três continentes, abre nesta quarta-feira (18) a exposição “Territórios”, na Galeria de Arte do Museu do Centro Cultural Brasil Estados Unidos (Mabeu). A mostra reúne trabalhos de 25 artistas, que utilizando diversas técnicas, trazem a Terra como tema e local comum. A abertura da exposição ocorre às 19h, com entrada franca.
“Territórios” faz parte de um projeto que iniciou no domingo, com a chegada de todos os artistas a Belém. Eles permanecerão na cidade até o final da mostra, já que ao longo desse período o projeto inclui ainda atividades como ações de residência artística em Icoaraci e imersões territoriais em Belém, Soure e Castanhal, até o dia 30 de setembro.
Com obras que se apresentam como instalações, objetos, pinturas, vídeos, esculturas e performances; “Territórios” tem curadoria de Pablo Mufarrej, e traz à Amazônia um tema sensível, principalmente no momento atual onde a região enfrenta sérios problemas com queimadas criminosas.
A ideia de realizar uma exposição com o tema Terra surgiu em uma edição do projeto Ponte Cultura da Alemanha, realizada na França. O paraense Werne Souza, organizador e artista participante da exposição, explica que naquele momento o tema surgiu por conta das migrações europeias, guerras na Síria, e outras problemáticas como fome e África.
Obra de Herbert Rolim, de Fortaleza(CE), que está na mostra 'Territórios'Obra de Herbert Rolim, de Fortaleza(CE), que está na mostra 'Territórios' (Divulgação)
Agora, a mostra ganha um sentido diferente em terras amazônicas, como conta Auda Piani, produtora e artista do projeto. “Falar de território é falar de viver na terra, do desterramento, das mudanças que estão acontecendo no planeta. Quando se iniciou essa discussão na França se pensava nas questões da migração na Europa. Hoje vivemos um momento que passa pela retirada de pessoas de suas terras de origem, assim como na Amazônia as queimadas não estão desvinculadas de uma atuação de governo, de uma forma de ver o pertencimento da terra”, explica a artista.
“Quando um governante diz que não dará um milímetro de terra aos indígenas a mais nessa demarcação, ele está demonstrando um momento de retirada de terra, assim como você vê o deslocamento de venezuelanos [...]. Todas essas questões estão de certa forma relacionadas com a expressão de artistas através das obras expostas na exposição”, justifica Auda.
Para a mostra, estão reunidos em Belém: Anna Handick, Annette Rollenmiller, Berit Klasing, Brigitte Schwacke, Gerlind Pistner, Lisa Haselbek, Marianne Stüve, Reinhild Gerum, Stefani Peter e Thomas Volkmar Held (Tevauha), todos da Alemanha. Há ainda a participação de Benoit Flamand, da França; Sarah Wood, da Inglaterra; e Wondwosen Nega Germa, da Etiópia. O grupo se completa com a participação dos brasileiros Ana Cristina Mendes, Cledyr Pinheiro, Galvanda Galvão, Herbert Rolim, Izer Campos, José Viana, Lucia Gomes, Mariana Rossy, Michelle Cunha, Nina Matos, Werne Souza Oliveira e Wilson Neto.
O encontro internacional de arte se estenderá com diversas ações. Até dia 30, o projeto conta com rodas de conversas, performances artísticas e uma viagem para vivenciar uma comunidade quilombola no Marajó. Além da exposição de abertura, o encerramento contará com nova mostra com trabalhos que serão produzidos a partir das diversas vivências dos artistas no Pará, em um atelier coletivo e aberto ao público, sediado na antiga Estação de Trem de Icoaraci.
Obra 'New Territory', aquarela de Stefani Peter, que está na mostra 'Territórios'Obra 'New Territory', aquarela de Stefani Peter, que está na mostra 'Territórios' (Divulgação)
O artista Wilson Neto, de Fortaleza (CE), diz que o encontro, além de um momento de intercâmbio entre artistas, é uma oportunidade de conhecer muito mais sobre o Brasil. “Os estrangeiros, quando vêm para diferentes estados, percebem que são como países dentro do Brasil”.
Sobre a expectativa quanto a produção de novas obras a partir das vivências, Wilson diz: “Acredito que a expectativa é a da surpresa. O grupo quer se surpreender como vem sendo surpreendido, se admirado com novos sabores. Hoje, por exemplo fomos ao Ver-o-Peso e foi muito curioso quando cinco pessoas provaram a cachaça de jambu, e ficaram impactadas com a situação de tremilique na língua, coisa que nunca tinham provado antes. Acho que isso faz parte da experiência”.
Mariane Stüve, da Alemanha, é uma das artistas do projeto, e conta que os momentos de troca são preciosos, tanto quando brasileiros vão para a Europa, quanto os projetos realizados no Brasil. Sobre a programação que os artistas devem vivenciar no Pará, ela destaca que uma visita a uma tribo indígena da etnia Tembé estava marcada, mas precisou ser cancelada por conta dos incêndios na Amazônia. 
“Foi uma grande decepção, porque nos preparamos, lemos muito, discutimos muito. O Werner e Auda, nossos anfitriões aqui, foram várias vezes a aldeia e disseram que eles estavam muito animados [...]. A gente não sabe muito dessa luta; eles disseram que vão se armar contra os brancos que invadem, e de certa forma os europeus são invasores, e nós como europeus…”, diz Mariane. O projeto é uma parceria entre o espaço Na Casa do Artista e a Ponte Cultura da Alemanha, entidade que realiza workshops de artistas visuais europeus e brasileiros. 
Agende-se:
Exposição "Territórios"
Abertura: quarta-feira, 18, às 19h;
Visitação: segunda a sexta-feira, de 10h às 12h, e 14h às 19h; e sábados, de 9h às 13h;
Disponível até 28 de setembro;
Local: Galeria de Arte do Museu do Centro Cultural Brasil Estados Unidos (MABEU) – CCBEU / Trav. Padre Eutíquio, 1309.

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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