Convenção reúne artistas que pintam com a boca e os pés
Foi aberta na segunda-feira, 23, no Rio de Janeiro, a primeira convenção internacional no Brasil da Associação de Pintores com a Boca e os Pés (APBP), que completa este ano 62 anos de existência. Nesta terça-feira, 24, será inaugurada dentro do evento, na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, para convidados, a exposição inédita com telas de 52 artistas que pintam com a boca e com os pés, dos quais 17 são brasileiros, sendo 15 do Rio de Janeiro e dois de São Paulo. Haverá demonstrações de pintura ao vivo. A exposição tem entrada gratuita e ficará aberta ao público até o dia 27.
A APBP tem sede no Principado de Liechtenstein, na Europa. A associação foi fundada em 1956 por Erich Stegmann, um artista que pintava com a boca. Ele reuniu um pequeno grupo de artistas com deficiência física de oito países europeus para que eles pudessem ganhar o seu próprio sustento por meio de suas obras artísticas. Atualmente, a associação apoia quase 800 pintores de todo o mundo, disse à Agência Brasil a diretora da APBP e uma das organizadoras do evento, Paola Manograsso.
Paola esclareceu que a APBP não é uma entidade filantrópica e não faz caridade. Ela reúne vários membros que têm a mesma situação de deficiência e decidiram formar a organização, “onde eles teriam, através da arte, o seu sustento próprio, sem depender de caridade e ajuda de ninguém”. Para fazer parte da APBP, o artista participa de um processo de seleção, “como qualquer candidato a uma vaga de trabalho em alguma empresa”. A condição essencial, entretanto, é que a pessoa já esteja desenvolvendo um trabalho de pintura com a boca ou com o pé, destacou a diretora.
“Ele tem que submeter alguns desses trabalhos feitos para a associação, junto com alguma documentação necessária, um atestado médico que confirme a deficiência física, outros documentos pessoais. Isso tudo é analisado pelo júri e pela diretoria da associação, que vão ver se ele está apto a fazer parte integrante da entidade”. Uma vez aprovado, o artista assina um contrato e começa como membro bolsista. “Isso significa que a associação vai pagar para ele uma bolsa mensal, para ajudá-lo a ter uma professora ou professor particular da escola de artes para conceituar o trabalho dele, comprar material de pintura, enfim, tudo que possa subsidiar esse novo projeto de arte”, explicou a diretora.
Os recursos para concessão das bolsas vêm da venda dos produtos que são feitos a partir da reprodução das telas originais desses artistas. A APBP tem editoras parceiras em várias partes do mundo onde o material para venda é confeccionado, incluindo cartões de Natal, calendários, marcadores de livros, papel de presente, entre outros produtos de papelaria. “Nós produzimos tudo isso a partir da tela original que o artista fez. Com o dinheiro dessa venda é que é feito o pagamento do bônus de produção a que ele (artista) tem direito”, disse Paola Manograsso.
O esquema, segundo a diretora, funciona como uma contrapartida. O artista assina um contrato com a associação, que fica detentora dos direitos autorais de reprodução das telas. Isso significa que ninguém mais pode reproduzir as telas. Os produtos de papelaria confeccionados são vendidos para pagar aos artistas o salário que recebem mensalmente. Paolo admitiu que as telas originais podem ser vendidas pelos autores, mas quem as compra tem que assinar um termo de responsabilidade que não vai reproduzir em hipótese alguma. “Você pode comprar, colocar em sua casa, mas não pode reproduzir em material gráfico”.
Na exposição, as telas não estarão à venda. Atualmente, fazem parte da associação 52 artistas, sendo a maioria do Rio de Janeiro (15). Marcelo Cunha era desenhista quando sofreu um acidente enquanto nadava em uma cachoeira, em 1991, e ficou tetraplégico. Durante três anos não pintou nada, até que ao ver um artista na televisão que pintava com a boca, decidiu também fazer o mesmo.
“Como eu já era desenhista antes do meu acidente, isso me facilitou bastante. Tons de cores, perspectiva, claro e escuro. Isso facilitou bastante, de forma que em pouco tempo eu já tinha uma produção interessante para fazer uma exposição. E nunca mais parei”, disse Cunha à Agência Brasil.
Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)
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