'Brasileiro não precisa de tutor', dizem escritores no encerramento da Bienal do Livro do Rio


No encerramento da Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro neste domingo, dia 8, um grupo de escritores como Laurentino Gomes, Thalita Rebouças e Pedro Bandeira, além de editores e membros da organização da feira assinou um manifesto contra as "insistentes tentativas de censura" sofridas desde quinta-feira, 5, quando o prefeito Marcelo Crivella mandou recolher exemplares da HQ Vingadores - A Cruzada das Crianças, obra da Marvel que mostra um casal gay se beijando.
Depois de algumas idas e vindas na Justiça, fiscais da Prefeitura circulando pelo Riocentro em busca de obras com conteúdo LGBT e uma forte reação de autores, editores e leitores, a Bienal do Livro do Rio terminou com um público de 600 mil pessoas e autores se organizando para defender a liberdade de expressão.
"Se engana quem pensa que o alvo era a Bienal Internacional do Livro. O alvo somos todos nós cidadãos brasileiros, pois não precisamos ter quem determine o que podemos ler, pensar, escrever, falar ou como devemos nos relacionar. O brasileiro não precisa de tutor. Precisa de educação para que cada um possa fazer suas escolhas com consciência e liberdade", escrevem os participantes da Bienal no manifesto.
"O que a nossa população precisa é de educação para fazer suas próprias escolhas. Essa é a bandeira da Bienal", afirma Marcos da Veiga Pereira, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e da comissão do festival.
Durante dez dias, mais de 300 autores nacionais e internacionais e dezenas de artistas, acadêmicos, filósofos, cientistas, lideranças religiosas, movimentos sociais, ativistas e youtubers, dedicaram horas de suas vidas para estar junto aos 600 mil visitantes do festival, discutindo temas contemporâneos – dos mais corriqueiros aos mais densos e polêmicos.
"A Bienal é e continuará sendo plural. O maior evento de conteúdo do país não termina neste domingo (8/9). Ele seguirá com cada um que visitou ou trabalhou nesta edição histórica", destaca Tatiana Zaccaro, diretora da Bienal.
"Esta Bienal também seguirá com aqueles que não puderam estar aqui, mas acompanharam nossos conteúdos e nosso posicionamento pela imprensa do mundo todo, pelas redes sociais ou em conversas com amigos. A partir de agora, quando você levar um livro para casa, estará levando a Bienal também", completou.
Mais de 4 milhões de livros foram vendidos – dos 5,5 milhões de exemplares disponíveis durante o evento. Em entrevista coletiva, o presidente do SNEL agradeceu as "demonstrações inequívocas" do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, do ministro Gilmar Mendes e da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, em prol da democracia brasileira e aos autores que, segundo ele, foram fundamentais neste exercício de cidadania.
"Fico feliz em terminar esse festival consagrando o valor que a Bienal tem e com a certeza de que o livro vai prosperar. Acreditamos muito no poder de transformação do livro e, por isso, tivemos convicção do que fazer e de que atitude tomar nesses últimos dias", disse Marcos. "A Bienal Internacional do Livro Rio nunca foi tão nacional".
Durante a coletiva, a escritora Thalita Rebouças leu o manifesto - assinado por autores, editores e organização - em defesa da liberdade de expressão e da democracia. Representando os editores, Mariana Zahar, que também é vice-presidente do SNEL, disse que espera que se crie uma jurisprudência para esse tipo de censura não volte a acontecer. "Isso não foi uma ameaça à Bienal, mas à Constituição. Não haverá ameaças à Bienal se nós nos juntarmos e lutarmos pelos nossos direitos", afirmou.
Tatiana Zaccaro afirmou que a média de venda ultrapassou os números da última edição, em 2017, em alguns casos ultrapassando os 100% em algumas editoras. "Credito isso ao efeito Bienal, ao ambiente de cultura, de discussões de qualidade e do conteúdo que entregamos ao público", destacou Tatiana. "As curadorias dos espaços foram incessantes propondo os melhores temas, buscando os melhores autores e personagens. O espaço infantil foi um sucesso, o Café Literário teve todas as sessões praticamente lotadas e a Arena #SEMFILTRO causou um alvoroço, consolidando a Bienal como o maior programa cultural e o mais diverso do país".

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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