Asas de urubus que inspiram obras de arte



Os tecidos coloridos de sombrinhas descartadas e roupas doadas são o ponto de partida para a criação das obras da artista plástica Carla Beltrão. O resultado desse processo criativo está na exposição “As Asas”, que ocupa o Espaço Cultural Clóvis Moraes Rêgo, no Tribunal de Contas do Estado do Pará (TCE-PA). A entrada é gratuita e a mostra fica disponível para visitação até 28 de setembro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 14h.
O material considerado pouco convencional se torna obra de arte por meio de um processo inspirado na xilogravura, técnica em que gravuras são talhadas em madeira e depois transferidas para o papel; característica da literatura de cordel, por conta da possibilidade de reprodução.
Em “As Asas”, Carla tem como ponto de partida as asas do urubu, ave constantemente presente na paisagem paraense. A artista se autodenomina uma “oficineira”, e relembra que a ideia de usar material reaproveitado partiu de uma consciência ambiental. “Pensava em ser acolhida pelo meio ambiente com a minha arte. Foi assim que encontrei os tecidos das sombrinhas e depois comecei a usar as roupas usadas das pessoas. Aliado a essa ideia, tem o fator poético, que se apresenta quando as pessoas me doam as roupas e quando as transformo em arte”, descreve ela.
O processo de criação então resulta em uma obra com carga afetiva, como conta Carla: “Quem compra, leva consigo um pouco desse sentimento, os abraços, os sofrimentos e as alegrias. A nossa roupa é a segunda pele da gente”.
Na exposição, as obras carregam significados que remetem a liberdade e a diversidade, representadas principalmente pelas asas do urubu. Carla relembra que a inspiração vem do amor pela história de Belém, assim como de um dos seus principais pontos turísticos, o Mercado Ver-o-Peso.
Esta não é a primeira vez que tanto o mercado quanto seus pássaros característicos inspiram, ou até mesmo protagonizam, obras importantes dentro da história da arte paraense. A narrativa do malandro urubu, por exemplo, ficou marcada pelo hit “No Meio do Pitiú”, de Dona Onete; e a imagem da artista Berna Reale na performance “Quando Todos Calam”, rodou o mundo com os pássaros pretos em cena.
“Também venho da periferia e é importante falar da dificuldade que é sobreviver de arte quando se é de lá. Mas é a única forma que a gente tem de transformar o meio em que a gente vive e criar consciência. O urubu representa a cultura paraense”, justifica a artista.
Carla Beltrão também é educadora, e não deixa de aliar seu trabalho como artista com as salas de aula.  “É trabalhando com a educação informal que, de fato, poderemos mudar algumas realidades. Sou cria da Fundação Curro Velho, uma escola de arte não formal voltada para a comunidade. Foi sendo instrutora de extensão na Fundação, que aprendi com meus alunos e cresci com eles”, explica.
Sobre expor seu trabalho no Espaço Cultural Clóvis Moraes Rêgo, Carla destaca a importância da arte periférica em ocupar cada vez mais galerias, assim como a de espaços que fomentam a produção cultural local. “Agradeço a oportunidade e espero que outros espaços culturais sejam abertos na cidade”, diz. 
Agende-se: 
Exposição "As Asas"
Visitação: até dia 28, de segunda a sexta-feira, de 8h às 14h;
Local: Espaço Cultural Clóvis Moraes Rêgo / TCE-PA (Tv. Quintino Bocaiúva, 1585 - Nazaré)

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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