Pioneira na literatura indígena estará na Feira Pan-Amazônica do Livro deste ano
Aqueles que se dispõe a enfrentar os preconceitos e obstáculos iniciais impostos pela época em que vivem precisam de perseverança. Esta é uma das características da escritora e ativista indígena Eliane Potiguara, de 69 anos, que foi uma das primeiras escritoras contemporâneas a resgatar a história dos povos indígenas por meio da literatura. Potiguara será uma das principais convidadas da 23ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, que será aberta no próximo dia 24 de agosto e seguirá até 1º de setembro, no Hangar Centro de Convenções da Amazônia, em Belém. A escritora estará no ‘Espaço Literário’ e ainda participará de palestras em escolas públicas.
Ao mesmo tempo em que se destaca como escritora indígena, Eliane Potiguara também é diretamente relacionada à luta pelos direitos humanos e de populações oprimidas. Eliane já foi ameaçada de morte por causa da militância. A luta também levou a ser indicada para o ‘Projeto Internacional Mil Mulheres Para o Prêmio Nobel da Paz’ e ainda ganhou a Ordem ao Mérito Cultural do Ministério da Cultura (2014).
“Já em 1980, criamos o jornal do Grumin, o primeiro jornal da literatura indígena. A gente já estava ali fazendo editorial e publicando lendas e narrativas. Já estávamos fazendo literatura indígena em 1979 e 1980. Eu não excluo o jornal. Eu quero dar este grito porque o jornal Grumin já era literatura indígena, nem as minhas amigas e as pessoas que participavam conosco pensávamos sobre isso. Aquilo que estávamos fazendo era um trabalho de luta e resistência. A literatura indígena englobando todos os textos surgiu como uma tentativa de luta e como um instrumento de resistência”, destaca.
Com formação em Letras Português, licenciada em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e com especialização em Educação Ambiental pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Eliane Potiguara lançou o primeiro livro em 1989, intitulado “A Terra é a mãe do índio”, pelo Grupo Mulher-Educação Indígena (Grumin). O livro foi premiado pelo Pen Club da Inglaterra. Em 2004, a Global Editora lançou a obra pela qual Potiguara seria nacionalmente conhecida “Metade cara, metade máscara”, atualmente na terceira edição pela Grumin Edições (2018). No ano passado o livro foi objeto de estudos de mestrado de graduandos para as teses e consta nos Anais de Mostra Científica do 26º Congresso Nacional de Pós- Graduandos.
Uma programação diversificada com escritores representativos de diferentes vozes da cultura brasileira e amazônica será a base da 23ª Edição da Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes. Além de Eliane Potiguara, dentre os escritores convidados para o ‘Espaço Literário’ estão Conceição Evaristo, Vitor Martins, Djamila Ribeiro, Elaine Potiguara e Xico Sá. Os homenageados Zélia Amador e Paes Loureiro também estarão na programação oficial.
“A 23ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes traz em seu conceito a missão de visibilizar as vozes que formam nossa diversidade étnica e cultural; de valorizar nossas múltiplas características indenitárias. Cada um dos autores e autoras convidados e homenageados dialoga, em sua produção acadêmica e literária, com a investigação, análise e força poética da dinâmica sociocultural dos grupos ou temáticas abordados na programação da Feira”, explica a secretária de Cultura, Úrsula Vidal.
O objetivo dos organizadores da Feira do Livro deste ano foi expandir os espaços para representação de populações e segmentos que muitas vezes são excluídos na sociedade. Para Eliane Potiguara, a luta dos povos indígenas por este reconhecimento é indissociável da literatura. “Não queríamos acabar com a oralidade que é um marco da cultura indígena, mas com o passar dos anos o processo a oralidade vem caminhando para a escrita através dos professores indígenas, das lideranças, dos pajés, poetas e das mulheres. Quando nos colocamos para quebrar este conceito foram pipocando pessoas que queriam dizer alguma coisa”, relembra.
Há aproximadamente dez anos que Potiguara não vem a Belém. Apesar da idade avançada, a escritora viaja por todo o Brasil divulgando suas obras e a literatura indígena. “Já fui para o Sul, agora vou para o Nordeste, tenho ido para varias regiões. Ir para a Amazônia é muito interessante porque estão caminhando com a ideia. O livro que eu mais trabalho é o ‘Metade Cara, Metade Máscara’, a ‘Cura da Terra’, ‘O Pássaro Encantado’. Quero fazer esse trabalho chegar nas escolas, e nas secretarias de cultura e de educação”, pontuou.
Voltar ao Estado do Pará será uma oportunidade para Eliane Potiguara falar com o público paraense sobre as raízes da cultura e da história brasileira. “Vai ser muito enriquecedor para todos nós, eu vou aprender com vocês e vocês comigo algo que a colonização tentou esconder, da luta armada de arco e flecha que passou a luta através da oralidade transformada em escrita”, reflete.
Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)
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