Conheça os projetos paraenses que estão entre os finalistas do prêmio nacional Iphan



Um programa de rádio que dialoga sem preconceitos com os gostos musicais, o jeito falar e as histórias de populações de comunidades tradicionais no interior de Santarém. Um cortejo popular com um cordão tradicional no interior de Cachoeira do Arari, no arquipélago do Marajó. E um projeto de elaboração de livros sobre arqueologia e história que contam a formação dos povos de Santarém.
Diferentes em particularidades, estes três projetos têm em comum a essência de utilizar a cultura para fazer com que as populações atingidas se conheçam melhor e valorizem sua cultura material e imaterial. O reconhecimento para os projetos ‘A Hora do Xibé’ (Santarém), ‘Cordão do Galo’ (Cachoeira do Arari) e ‘Arqueologia nas Escolas’ (Santarém) veio com a escolha das ações como finalistas do Prêmio Rodrigo Melo de Franco 2019, a maior premiação sobre patrimônio cultural brasileiro, realizado pelo Instituto Nacional do Patrimônio Histórico (Iphan).
O programa de rádio ‘A Hora do Xibé’ transmitido pela rádio Rural de Santarém extrapola as ondas radiofônicas para melhorar a autoestima das comunidades locais. “Há valorização do modo de falar, das crenças, e da cultura. O programa só toca música de artistas da região, cada programa tem um relato dos moradores sobre a cultura local como a prática de fazer bebidas fermentadas, e elas próprias falando suas crenças, não no aspecto folclórico, mas com elas acreditando naquilo, como o boto que sai andando como homem ou mulher. O programa teve um impacto positivo nos moradores porque as crenças delas são mostradas de formas positivas. Não se diz que é um modo de falar caboclo, mas o jeito normal de falar”, explica o coordenador do projeto, o professor da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Florêncio Almeida Vaz Filho.
As equipes formadas por estudantes universitários da Ufopa de políticas afirmativas como indígenas, quilombolas e ribeirinhos viajam pelas comunidades do interior de Santarém conversando com moradores locais. Ao saber que o projeto foi selecionado entre os finalistas, o professor Florêncio Vaz Filho interrompeu a entrevista com a voz embargada. “Estou emocionado. Poxa é demais, a gente não tem grana, trabalha na coragem, pagamos as nossas passagens para ir nas comunidades, com barco fretado. A gente paga para trabalhar, este reconhecimento é muito bom”, agradeceu.
Também em Santarém, o projeto “Arqueologia nas escolas: Histórias da Amazônia/PA”, coordenado pela professora da Ufopa Anne Rapp Ty-Daniel, está disseminando conhecimento produzido pelas pesquisas arqueológicas nas regiões de Monte Alegre e Santarém para os estudantes de mais de 80 escolas por meio de livros didáticos, oficinas para jovens, visitas aos laboratórios de arqueologia, e a capacitação de professores.
“Parece óbvio, mas a história não começa 500 anos atrás. São 12 mil anos de ocupação e história dessas localidades, estes municípios não estão ocupados de agora. As populações estão aqui há milhares de ano, as interações que existiam entre elas”, destaca a professora. O conhecimento sobre a história ancestral de Santarém também trabalha o reconhecimento de populações tradicionais quilombolas e indígenas que estão em volta de Santarém e Monte Alegre.
No total foram impressos e estão sendo distribuídos 4.200 livros infantis para crianças, 2.300 livros para estudantes do ensino médio e fundamental e 1800 guias do Parque Arqueológico de Monte Alegre. O projeto ainda disponibiliza os livros para baixar em uma página do Facebook.
O último projeto que conseguiu ser finalista foi o ‘Cordão do Galo’, em Cachoeira do Arari,no Marajó, do Instituto Arraial do Pavulagem. O projeto promove as ações educativas patrimoniais visando a memória, salvaguarda dos registros e legados culturais, como os saberes, as oralidades de mestres, e as manifestações tradicionais da região marajoara, transmitidas para crianças e jovens.
PREMIAÇÃO
Estes três projetos foram os únicos paraenses a chegar na final e disputarão com outras 96 ações de todo o Brasil a premiação que concederá o valor de R$ 30 mil. O resultado final do concurso deverá ser divulgado até o dia 05 de setembro. No total oito ações serão selecionadas em cada oito segmentos. Nesta edição, 323 projetos foram inscritos em todo país. “Esses projetos são formas de demonstrar a capacidade de articular de diferentes grupos sociais e incentivar a participação social na formulação, implementação e/ ou execução das ações. As ações demonstram compromisso com a comunidade e localidade em que estão inseridas, considerando os usos e acessos comunitários do bem patrimonial, as articulações com outras iniciativas culturais e possíveis benefícios locais indiretos, assim como a sustentabilidade e na difusão locais”, afirma a superintendente substituta no Pará, Tatiana Carepa Borges.

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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