UFPA concede título de Professora Emérita a Maria Sylvia Nunes
O muro coberto de hera, de onde as flores espiam a rua, guarda a casa da Estrella, projetada por uma das primeiras engenheiras de Belém, Angelita Silva, que ali morou com a irmã, Maria Sylvia, e o cunhado Benedito Nunes. Foi no ano de 1955. A casa, simples e sofisticada, acolhedora - como os habitantes - nascia frequentada por artistas, intelectuais, professores e estudantes.
Lá, a família e os amigos criaram em 1957 o Norte Teatro Escola do Pará, com a preocupação não apenas de encenar, mas também de estudar e discutir textos, dos clássicos aos modernos. Até 1962 o grupo, dirigido por Maria Sylvia, encenou 18 peças.
No repertório, entre outros autores, Shakespeare, Martins Penna, Machado de Assis, Brecht, Arrabal, Ionesco. Em 1958, uma audácia encantou a plateia do I Festival Nacional de Teatros de Estudantes, no Recife: a primeira encenação do poema "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto, com música de Waldemar Henriques.
Em 1959, com a direção de "Édipo Rei", Maria Sylvia ganhou uma estada de seis meses em Paris, onde foi aluna de Tânia Balachova e Yves Laurel, com direito a assistir ensaios e espetáculos, todas as noites. Benedito foi com ela, frequentou cursos na Sorbonne e o casal voltou com a certeza de que era inadiável uma escola de teatro em Belém.
Nesta sexta-feira, 28, Maria Sylvia Nunes recebe o título de Professora Emérita da Universidade Federal do Pará, na Escola de Teatro e Dança da UFPA. A cerimônia acontece ali a pedido dela, fundadora, diretora e professora do Serviço de Teatro Universitário do Pará, criado em 1962, que deu origem à escola.
Aposentada da UFPA, Maria Sylvia recebe o título "agradecida e contente". Principalmente porque é o primeiro conferido à área das artes e ela o divide com o conjunto de pessoas que trabalhou para fundar a escola, lembrando o apoio do então reitor José da Silveira Neto, Cláudio Barradas, Amir Haddad, Carlos Eugênio Marcondes de Moura, Yolanda Amaddei.
Os três últimos vieram para ministrar disciplinas no curso de Formação de Ator e se hospedaram por mais de um ano na casa da Estrella, que por isso ganhou o apelido de Pensão Shakespeare. Amir e Carlos Eugênio estarão com ela na cerimônia.
Maria Sylvia lecionou História do Teatro, História do Espetáculo e Teoria do Teatro e, como diretora, fez do Serviço de Teatro um pólo cultural muito importante em Belém. O Centro de Estudos Cinematográficos, criado em 1963, abria ao público a possibilidade de assistir a filmes fora do circuito comercial e também de estudar e perceber o cinema como arte. Os festivais de teatro da Escola atraiam grandes plateias.
Na sua memória, o ideal de juntar diferentes formas de conhecimento, trabalhando com as outras artes, materializou-se exemplarmente no Festival Shakespeare, em 1964: "No salão da sede social da Assembléia Paraense o arquiteto e professor Alcyr Meira montou um palco elisabetano. O professor Francisco Paulo Mendes, de Letras, fez palestras magníficas sobre Shakespeare, seguidas pelas apresentações dos alunos da Escola de Teatro. Foi o melhor momento da minha vida acadêmica. Momento de reunião de conhecimento e poesia. Isso é o humanismo".
Atualmente, Maria Sylvia Nunes preside o conselho editorial da Editora da UFPA. Apaixonada por ópera, que junta duas paixões, a música e o teatro, teve papel destacado no Festival do Theatro da Paz, onde atuou por vários anos, colaborando desde a escolha de repertório até a direção e preparação de elenco.
A outorga do título de Professora Emérita, pelo Conselho Universitário da UFPA, será presidido pelo reitor Emmanuel Tourinho, no Teatro Cláudio Barradas, às 19 horas, hoje, na Escola de Teatro e Dança da UFPA, na Tv. Dom Romualdo de Seixas, 820.
Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)
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