Cidade Morena sempre foi fonte de inspiração para mestres do carimbó




"Belém é uma cidade bonita onde preciso morar" é um trecho da música do mestre Cizico em homenagem à cidade das mangueiras e do carimbó. O mestre diz que a capital paraense tem inúmeros motivos para servir de inspiração para mestres e mestras do ritmo típico do Pará. As mangueiras, a chuva e os costumes são apenas alguns dos pontos de inspiração e de motivos de mudança à capital paraense.
Flavio Monteiro do Nascimento, 69, o mestre Cizico, tem raízes na Vila de Cafezal, no município de Magalhães Barata. Mas há 30 anos é morador da rua Álvaro Adolfo, bairro da Pedreira, onde virou o celeiro do carimbó no centro de Belém. Além dele, lá mora Dona Onete, mestre Lucas do Grupo Sancari, mestre Gaiti e entre outras pessoas importantes para a permanência da cultura de raíz dentro da cidade.
Veja o vídeo a homenagem do Mestre Cizico e o Grupo Raisan para Belém:
Cizico explica que trouxe do interior dois troncos de madeira que usou para a confecção dos curimbós (um dos principais instrumentos do ritmo musical). A prática acabou envolvendo os moradores e o ritmo passou a ser presente na vida da comunidade da Álvaro Adolfo. "Além de mim, existem várias pessoas que são do interior e o carimbó foi o que se tornou mais presente em nosso convívio", pontua mestre Cizico.
A partir disso, a manifestação do carimbó passou a ganhar protagonismo e há 10 anos os moradores organizam a festa de "Pau e Corda de Carimbó", que ocorre no mês de agosto em comemoração ao dia do carimbó. 
Manter o carimbó vivo no centro urbano de Belém é significativo para o mestre, já que ele diz que de início apenas os moradores eram contagiados. "Hoje, a nossa festa atrai pessoas de vários cantos. Vem pessoas de bairros distantes da Pedreira até de outras localidades do estado. Consegue ver a importância disso? É manter a cultura viva", explica Cizico, que hoje comanda o grupo Raísan composto por 10 integrantes.
O mestre Lucas Bragança, 60, do Grupo Sancari, é outro ator importante que honra pela cultura viva do carimbó na cidade Belém. Ele sempre foi amante da música, mas há 35 anos quando se mudou para a "Álvaro Adolfo" passou a viver o carimbó de forma mais intensa.
"Todos nós paraenses temos uma relação com o carimbó, às vezes, só demora a despertar", diz o músico. Sobre a diferença do carimbó tocado no interior para o que é feito na capital, ele diz que as mudanças estão nos sotaques e na forma de produzir os eventos. "A gente faz um apanhado do é que é tocado em várias regiões do estado e realizamos também a nossa produção. O cenário, as comidas e os costumes do ambiente fazem parte das nossas composições", pontua mestre Lucas.

O projeto "Pau e Corda de Carimbó" tem tradição de 10 anos e é realizado a partir do empenho da Comunidade Álvaro Adolfo, onde homens, mulheres, crianças e idosos participam da festividade como forma de afirmação do espaço e da cultura popular.Belém também já foi fonte de inspiração para as composições de mestre Lucas. Ainda com relação a realizar a manifestação no centro urbano, ele diz que acaba tendo mais oportunidade, pois no interior as manifestações não ganham visibilidade. "Mesmo diante dos problemas aqui em Belém a gente tem bem mais visibilidade e oportunidade para se apresentar e isso é muito bom para os grupos", afirma o integrante e um dos fundadores do Grupo Sancari.


Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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