Carimbó ainda é um dos ritmos preferidos dos belenenses




"Eu quero ver, ô, menina eu quero ver / Eu quero ver você agora embolar..." E foi no embolado inconfundível de Pinduca que o carimbó ganhou uma das suas mais fortes representações. Autor de "Sinhá Pureza", "Garota do Tacacá" e a tão esperada "Marcha do Vestibular", o artista é um dos ícones musicais do Pará.
Irreverente, o músico define seu estilo musical como "Carimbó Moderno" e conta que a nova roupagem rendeu diversas críticas no início da carreira. "Eu trouxe uma nova roupagem, uma roupagem moderna. Fui muito criticado por isso, mas vi muito a modernização na minha frente e nunca me importei. Nem ligo. As pessoas criticavam porque eu mexia no carimbó acústico original, mas quando tive a oportunidade de gravar, já gravei na modernização do carimbó", revela.
De acordo com o músico, o público vai se surpreender com a novidade. "Ninguém gravou um disco tão diferente quanto esse que vou lançar agora. A gente vai amadurecendo, vai vendo as coisas e esclarecendo... Todo mundo que chega numa banca e pega o disco do Pinduca, espera o carimbó. Esse vai ser bem diferente", pontua ele, com um leve suspense.-O gosto pela música vem de família. O pai era professor de música em Igarapé-Miri e lá Pinduca e os irmãos foram se dedicando às aulas. "Eu tinha essa vocação de musicista", conta. Da cidade do nordeste paraense, o ainda jovem Pinduca foi se aventurar em Belém aos 16 anos. "Minha vida mudou quando vim morar na capital, procurar um espaço maior. No interior, já era percussionista, baterista, bongozeiro... Aqui me tornei mais conhecido", relembra.
O músico não esconde o orgulho do trabalho feito ao longo de tantos anos de carreira, tempo que ele já perdeu a conta. "Não costumo me preocupar com datas, não tenho esse costume de contar. Acho esquisito. Lancei meu primeiro disco em 1973 e de lá pra cá já gravei 40 discos. Sou o único cantor paraense que já alcançou esse número de gravações, entre compactos e LPs", conta Pinduca, que em fevereiro deve lançar "No Embalo do Pinduca. Volume II".
Somado ao carimbó de Pinduca e de tantos outros artistas, outros ritmos musicais que se consolidaram em Belém fazem grande sucesso e ganharam novas roupagens. Entre eles o brega e suas variantes, o samba, a guitarrada, a lambada, e o merengue, elenca o professor da Escola de Música da Universidade Federal do Pará (UFPA), Adelbert Carneiro.
"Muita coisa é feita aqui. O merengue, por exemplo, é muito forte. Agora nós já temos o merengue com a nossa identidade, não é aquele merengue que veio dos latinos, dos cubanos... Passou aqui por uma transformação paraense. Cada lugar tem a sua cultura e essa cultura interfere na música. O próprio samba tocado aqui no Pará é um pouco diferente.", analisa.
Adelbert lembra que, anteriormente, a música popular paraense não chegava nas elites de Belém, realidade que, há mais de 20 anos, começou a se dissolver. "Lembro bem que há uns 20/25 anos, começou a ter show de bandas populares na Assembleia Paraense. O Pinduca também começou com um grande show, mas não era reconhecido pela sociedade paraense. Existia uma produção musical que não era consumida pela elite, e isso foi quebrado", detalha.
O professor conta que fora do Pará as portas têm se aberto cada vez mais para os ritmos produzidos aqui. "A música paraense entrou no mercado nacional e internacional há algum tempo atrás. Já tinha boas características, mas ainda não tinha rolado um investimento em relação a isso. Belém é um capital que não deixava a dever para os outras cidades no Brasil. Aqui em Belém, sempre as coisas aconteceram paralelamente ao mercado nacional. Nós tínhamos grandes artistas, mas a diferença é que não chegavam na mídia", conclui.



Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

Nenhum comentário