Mercado literário paraense ainda vive, apesar das dificuldades
De ficções a poemas, o mercado literário do Pará ainda vive, apesar das dificuldades. Nomes conhecidos de autores paraenses como Dalcídio Jurandir, Edyr Augusto Proença e Salomão Larêdo foram alguns dos que marcaram presença, com novidades e relançamentos, nas gôndolas das livrarias pelo Pará. Dentre os destaques, estão o livro "Um outro olhar para a Amazônia", de Moema Pinheiro Veloso, que recebeu o Prêmio Cláudia - considerada a maior premiação feminina da América Latina - e "Burburinho", de Daniel Leite, com uma publicação infantil em braile.
Apesar do saldo positivo, Deborah Miranda, sócio-proprietária da Fox, avalia que a baixa demanda e as crises econômica e política vividas pelo país causaram uma diminuição nas publicações no último ano. "A demanda diminuiu. O número de leitores caiu e caiu por uma série de coisas. Caiu porque o país tá em crise, o livro não é uma prioridade, nunca foi e com a crise nem se fala. Às vezes falam da competição do livro eletrônico, mas não é o formato. O livro eletrônico não cresce. Há uma mudança de comportamento do consumidor e as redes sociais têm uma interferência enorme", avalia.
Para ela, apesar de outros fatores, é essa mudança de comportamento que mais afeta o mercado. "As pessoas não vêem filme, não leem nada. O sonho de consumo de uma criança é ter um celular, não uma bicicleta. A gente sabe que isso a médio prazo vai ter consequências enormes na escrita, na fala, na produção de literatura. A história do mundo foi se construindo a partir de pessoas que liam, escreviam. Antes da internet, nossa comunicação era feita através da literatura. Você queria conhecer as coisas a partir do que lia, mas agora você não deixa mais que sua imaginação atue", comenta.
Mesmo com um cenário não muito animador, Deborah ressalta que a busca ainda é expressiva por leitores paraenses e por publicações que desbravem uma Amazônia ainda pouco conhecida ou explorada, principalmente por turistas em visita à capital paraense. "Algumas pessoas vêm em busca da nossa literatura. Já mandei publicações pra pessoas do Rio Grande do Sul. A gente sempre tem demanda sobre a Amazônia, que chama atenção do mundo e do resto do Brasil. Vejo que a gente tem uma galera que quer descobrir o autor local, que quer descobrir nossa cultura", conta.
A análise de Deborah vai de encontro com o que o escritor Salomão Larêdo - que neste ano relançou o livro "Cabaré dos Bandidos" - tem percebido. "A gente consegue com que as pessoas se interessem e valorizem o que é nosso. Apesar da crise, vejo que as pessoas leem cada vez mais a nossa literatura e eu percebo que desperta a curiosidade. As pessoas têm visto que existe um literatura brasileira produzida no Pará por escritores competentes", avalia.
Neste ano, Salomão também divide o título de escritor com o filho, Filipi Larêdo, que publicou o primeiro livro: "A cabeça na Cama", o que para ele, pode ser visto como um estímulo para que outros escritores mais jovens comecem a escrever também. "Acho que isso desperta um interesse nessa nova geração, chama outros, atiça outros. Assim como a Bianca Leão, que lançou o livro dela recentemente também. Acho que a turma daqui tá indo muito bem e conseguimos fechar com chave de ouro", ressaltou.
Mesmo com a dificuldade e falta de incentivos, o escritor ainda é otimista. "Acho que 2018 foi um ano importante pra literatura, porque apesar da gente não ter o apoio do poder público, já que não tem apoio, não tem estímulo, não tem política pública em toda a esfera, seja municipal, estadual e federal.... A gente é invisível mas a gente tem ido à luta. A gente tá combatendo um bom combate,", pontua o escritor paraense.
Confira os destaques na literatura paraense em 2019:
- A cabeça na Cama, de Filipe Larêdo
- A letra da água: Luciana Brandão Carreira
- Amazônia Exótica: Olympia Reis Resque
- As casas, de Maciste Costa
- Burburinho, de Daniel Leite
- Cabaré dos Bandidos, de Salomão Larêdo
- Judith e Tarec, de Lincoln Campos
- Os Éguas, de Edyr Augusto Proença
- Os Habitantes, de Dalcídio Jurandir
- Terra de Tupã, de Carlos Augusto Galvão
- Três casas e um rio, de Dalcídio Jurandir
- Um outro olhar para Amazônia: Moema Veloso
- Estatuto das Mangueiras: Amaury Dantas e Newton Bellesi
Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)
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